Do riso

15:10

Que a linguagem se desenvolveu como fenómeno social não parece ser nada de novo. O curioso na proposta de Robin Dunbar é a analogia que o autor estabelece entre a linguagem nos humanos e o catamento social nos primatas não-humanos: ambos funcionam como mecanismo unificador de grupos. Mais do que para trocar informação, segundo Dunbar, nós usamos a linguagem para o mesmo objectivo que os macacos usam o catamento social: criar ligações de proximidade e intimidade com o Outro.
Mas há questões físicas implicadas no processo de catamento nos macacos. Segundo Dunbar, o catamento permite libertação de endorfinas, desencadeando uma sensação de relaxamento e bem-estar:

"o catamento produz uma sensação de bem-estar nos seus receptores e parece ser esse efeito o mecanismo próximo que permite ao catamento funcionar como agente de ligação. [...] essa sensação de bem-estar converte-se numa disponibilidade para um apoio mútuo nos conflitos" (p. 123).

Segundo o autor nos humanos passa-se algo de semelhante, não propriamente através do catamento - embora o usemos nos nossos relacionamentos mais íntimos (e precisamente "nas circunstâncias em que abandonamos completamente a linguagem") - mas através do riso.
Como refere Dunbar,

"Tal como o catamento, o riso parece encorajar-nos a ficar no mesmo lugar e a continuar a interagir com um parceiro específico. Inunda o nosso cérebro de endorfinas e faz-nos sentir francamente inclinados para a outra pessoa." (p. 126)

Dunbar acaba o seu sub-capítulo dedicado ao riso com a seguinte afirmação:

"Aparentemente, em algum ponto do curso da evolução humana, pedimos emprestado aos chimpanzés o seu rosto de brincadeira e as vocalizações associadas e exageramo-los de modo a conseguir um reforço do catamento à distância. Dado que as áreas do cérebro dedicadas ao riso e à linguagem parecem ser muito diferentes [...] o riso pode bem ter-se desenvolvido muito antes da linguagem. [...] As piadas, aparentemente, têm um historial muito antigo, com toda a probabilidade muito mais antigo do que qualquer outra coisa que façamos com a linguagem." (p.127) (sublinhado nosso)
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Referência bibliográfica: Robin DUNBAR (2006), A História do Homem - uma nova história da evolução da humanidade. Lisboa: Quetzal Editores

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2 comentários

  1. adorei suas postagens. Espero que a gente possa trocar experiencias.

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  2. Claro. Bom receber um comentário! É precisamente a troca de ideias que dá sentido aos blogs. Ás vezes tenho a sensação de que estou a falar sozinha.

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