Ciência

A Linguística, a norma, o purismo e o Acordo Ortográfico

12:38

Imagem: fotografia do verbete 'norma', do dicionário de José Pedro Machado (1995: 220)


E quero, como é bem de ver, chamar a atenção dos linguistas para o papel que devem ter na fixação da norma, papel que por vezes parecem desdenhar, ou porque acham a ocupação desqualificada, ou porque estão distraídos a contemplar a gravitação dos universais, ou estão mergulhados em mares de corpora, ou desaparecidos nas profundezas arqueológicas da língua.
Ivo Castro (2003: 11-24) 
Eu devo dizer que este post começou a ser escrito há mais de um ano - deem-me a devida ressalva por isso -, mas a total falta de motivação para tratar o tema e o avolumar de trabalho que se seguiram fizeram com que o adiasse continuamente. Além do mais, o assunto, a ser tratado, merecia ser tratado com ponderação, até para não ferir susceptibilidades, algo que sempre me preocupa, talvez demasiado, confesso. Pois então, depois de mais de um ano guardado nos rascunhos, aqui vai ele.

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa mais recente foi assinado em 1990, foi aprovado pela Assembleia da República e ratificado pelo Presidente em 1991. O Acordo do Segundo Protocolo Modificativo foi aprovado em 2008 e entrou em vigor em 2009, mas só uma resolução do Conselho de Ministros, em Janeiro de 2011, determinou a sua aplicação no sistema de ensino no ano lectivo de 2011/2012 e nos organismos governamentais a partir de Janeiro deste ano. Ficou, entretanto, salvaguardado um período de seis anos para adaptação à nova grafia. 
Não obstante a sua recente entrada em vigor, vários aspectos da  língua foram sendo alterados ao longo destes vinte anos, de forma mais ou menos conscientes. Mais de vinte anos passaram sobre a data da sua redacção e o assunto deixou de estar na ordem do dia.
A primeira imagem que me surge quando tento perceber este Acordo Ortográfico é a de um parto difícil, doloroso e de gestação demorada. Há tempos, o então Ministro da Cultura percebeu que, além de ter tido um nascimento difícil e doloroso, o naciturno precisava de cuidados paliativos, cuidados estes que não recebeu durante a gestação (http://www.tvi24.iol.pt/aa---videos---sociedade/acordo-ortografico-francisco-jose-viegas-cultura-vasco-graca-moura-tvi24/1329196-5795.html). Como escreveu António Nabais, o "processo nasceu torto e, para isso, existe um ditado muito antigo". Eu sou mais optimista, e creio que o processo tem ainda tempo para se endireitar. Afinal, já foram expostos todos os argumentos contra e a favor: foram redigidos pareceres, abaixo-assinados, artigos e até livros (http://www2.fcsh.unl.pt/docentes/aemiliano/AOLP90/index.html). E à pergunta de saber porque seriam estes pareceres tidos em conta agora quando não o foram até aqui, digo apenas que este período de transição é crítico para a opinião pública, porque todos se verão, pela primeira vez, forçados a usar a nova grafia. Discordo, por isso, de Francisco José Viegas quando critica os portugueses por chegarem sempre tarde às questões importantes. É uma questão de simples pragmatismo:  o contacto com a realidade que se lhes é imposto ainda agora começou. 
Confesso que, ainda que trabalhando na área das Ciências da Linguagem, a norma não me interessa minimamente do ponto de vista técnico. Atafulhada em "mares de corpora" até há um ano, distraída "a contemplar a gravitação dos universais" na minha tese de mestrado e, mais recentemente, entretida "nas profundezas arqueológicas da língua", para aproveitar as palavras do texto de Ivo Castro, que servem de epígrafe a este post, o Acordo Ortográfico é um daqueles temas de difícil trato, que a mim só forçada pela necessidade prática me levanta curiosidade. 
A minha estratégia, portanto, começou por ser a lei do menor esforço (uma estratégia  tão válida como outra qualquer, devo dizer): continuar a usar a velha ortografia até que fosse forçada liminarmente a usar a nova, e eu duvidava seriamente que isso viesse a acontecer.  Mas a verdade é que aconteceu. Se do ponto de vista técnico a questão não me interessava particularmente, passou a interessar-me sobremaneira quando passou para o ponto de vista pessoal. O principal motivo relaciona-se com o facto absolutamente fundamental de eu ter a minha única filha a frequentar o ensino básico. Se para mim a questão resolvia-se com o princípio do menor esforço, com ela a questão complicava-se. Ela continuava a ter em casa os livros, que eu sempre lhe lera, na antiga grafia.  Não podia usar a lei do menor esforço quando todos os manuais, dicionários e outros materiais de apoio que ela usava adoptavam o Acordo Ortográfico. E, ainda que a ideia me divertisse e me fizesse pensar, não conseguiria actuar da mesma maneira que aquele pai que proibira que a filha fosse instruída na nova grafia.  Daí que a minha atitude para com o AO passou a basear-se, então, na lei do maior esforço: sempre que a minha filha lia ou escrevia um texto na minha presença, fazia questão de lhe explicar as duas grafias. Para já esta estratégia está resultar, mas devo dizer que me inquieta o facto de saber que a minha filha está a aprender a escrever neste período de transição. Inquieta-me porque tenho noção de que é dos 6 aos 10 anos que se formam as bases que nos acompanharão para a nossa vida. E para quem leva muito a peito as questões da identidade, este assunto é preocupante.
Eu não quero discutir os argumentos cruzados que se foram adensando sobre o Acordo. Outras pessoas já o fizeram, com maior substância do que eu poderia fazer neste blog.  Por trabalhar na área da Linguística sinto apenas necessidade de fazer uma ressalva acerca da questão da norma. E em relação a ela posso dizer, com segurança, que até o prescritivista mais empedernido irá aceitar que a principal função da Linguística enquanto ciência, hoje, é descrever a(s) língua(s) e não prescrever regras. Existe lugar na Linguística para o prescritivismo, mas tem um objectivo muito claro, que não assenta em juízos de valor. Transcrevo para aqui o comentário que escrevi no blog Chapa Branca (http://comunicacaochapabranca.com.br/?p=16866#respond), a respeito de um post sobre este mesmo tema:
"Há muito tempo que os linguistas aceitaram que a língua é um organismo vivo e que só tem existência pela boca (ou na caneta, ou teclado) dos seus falantes. Como bem diria um professor meu, a língua portuguesa é um amontoado de erros do latim. A língua hoje é estudada na perspectiva do descritivismo e não do normativismo; isso implica que o cientista da língua apenas descreve e analisa o que observa, não tem a função de criar normas. Mesmo o prescritivista mais empedernido vai aceitar que as ciências da linguagem devem acima de tudo estudar e analisar a língua e não ditar regras ou normas de bom funcionamento. Estas normas, quando existem, são adoptadas por imposições/decisões políticas, por políticas da língua. Por outro lado, também é verdade que é necessário um certo prescritivismo, especialmente no ensino, muito particularmente o ensino primário e básico; mas é preciso perceber os limites e, principalmente, o objectivo, desse prescritivismo. Há casos de excesso de prescritivismo absolutamente reprováveis. Pessoalmente, eu fico horrorizada com noções como ‘norma culta’, ‘norma padrão’ ou sequer ‘norma’. No entanto, entendo que há circunstâncias que, por força do hábito, tradição, consenso geral, motivos didácticos, nos pedem para usarmos determinadas convenções. A escrita científica, mais formal, até à escrita na Internet em blogs, redes sociais ou nas telecomunicações móveis, têm particularidades próprias e é bom ser bom conhecedor de todas essas particularidades (ou géneros linguísticos [...]). Isto tem, para mim, um único objectivo muito válido: permitir que todos se entendam (ou não). Claro que podes subverter ou ignorar (conscientemente ou não) as convenções, as regras e as normas do ‘bom funcionamento’ e misturar géneros, criar novos. [...]"
Como lia, há dias, num slideshare que me chegou através do blog The Cranky Linguist, e que deixo a seguir, os linguistas são, essencialmente, uns hippies. Sublinho as palavras dos slides 21, 22 e 23: 
"A maioria dos linguistas não são nazis da gramática.  Pensem em nós como hippies da linguagem, que ficam REALMENTE excitados com um p aspirado, ou a história de uma palavra, ou o uso de 'Dude' como uma saudação de género neutro." (tradução minha)
A imgem é simples, mas serve o propósito: os linguistas são gente cool cujo principal objectivo é, tão somente, ir observando e documentando as línguas tal como elas se lhes apresentam,  sem interferências, constrições ou confrangimentos.  Isto significa, de certa forma, que a norma é-lhes pouco interessante.  Assumo a indiferença que Ivo Castro retrata no texto que serve de epígrafe a este post. Como bem refere o autor, alguns linguistas entendem o papel de fixação da norma como uma "ocupação desqualificada". Posso estar a exagerar mas, dos investigadores que conheço que se dedicam ao estudo da língua, não há um que tome muito a sério a questão da norma. Conheço um especificamente que iria vociferar ao ouvir tal vocábulo. A verdade é que, com uma tal variedade de temas por explorar em matéria de estudo da língua, só com muito boa vontade e uma grande dose de paciência se interessam os linguistas pela questão da norma. Eu diria que a norma é matéria preferida de escritores que se dizem autorizados ou professores de  Língua Portuguesa (e como eu me lamento quando tenho de fazer esse papel). Numa excelente metáfora, Ivo Castro explica o que entende por norma: 
"dispositivo destinado a fornecer aos falantes uma plataforma um pouco mais estável e mais sólida que esse corpo fluido que é a língua - não é a de uma plataforma oceânica de extracção de petróleo, nem a de uma jangada, muito menos de pedra. A norma que temos em Portugal, e que chega se a soubermos utilizar, é como uma prancha de surf." (Ivo Castro, 2003, sublinhado meu)
Tenho a certeza que muitos linguistas subscreveriam esta metáfora. 
Aquilo que convencionalmente chamamos erro, ou desvio da norma, é, em Linguística, visto com curiosidade. Este desvio da norma é um excelente objecto de estudo, é terreno fértil para novas descobertas sobre a língua, sobre a sua variação e mudança, sobre a sua riqueza, e não motivo para apontar o dedo, diminuindo quem o fez. Como muito bem explicou John Lyons, já em 1968, o argumento purista da correcção linguística é simplesmente tautológico:
"Deveria ser evidente que não existem padrões absolutos de 'pureza' e 'correcção' na língua e que tais termos só podem ser interpretados em relação a algum padrão seleccionado previamente. Podemos dizer que um estrangeiro cometeu um erro porque ele disse algo que não seria dito por um falante nativo. Também podemos dizer, se quisermos, que um falante de um dialecto regional do inglês produziu uma forma 'incorreta' ou 'agramatical', porque esta forma não está em conformidade com os padrões do inglês standard, mas estamos a supor que ele deveria estar a falar inglês padrão naquela situação particular." (Lyons, 1969: 42, tradução minha)
A correcção linguística implica que todos os envolvidos numa situação de comunicação conheçam e queiram usar a norma. Uma vez que a norma é uma convenção (muitas vezes imposta à força e por coacção), a norma não pode servir para excluir ninguém. A norma serve, ou deveria servir, para permitir uma melhor comunicação e integração. Explicar como a norma pode ser manipulada e como tem servido, em Portugal e no mundo, para criar exclusão social até no próprio sistema de ensino obrigatório iria obrigar-me a uma longa argumentação. Fica para outro post, numa outra altura. Para já sublinho que ninguém deveria ser importunado por escrever/falar na forma como aprendeu a fazê-lo na sua infância
Sublinho, pois, que a norma é uma convenção. Pode haver argumentos mais ou menos técnicos para elaborar a norma mas ela é, essencialmente, uma decisão política. Mas que fazer para que os argumentos de ordem política não atropelem muito as questões técnicas, como me parece que aconteceu até aqui? Eu, pessoalmente, só vejo uma solução: corpora. Reconheço que em 1990 estávamos na pré-história dos estudos de corpora, principalmente em língua portuguesa, e a sensibilidade para com variantes regionais, dialectos e línguas minoritárias era inexistente. Mas hoje já não há desculpa alguma. A análise da língua através de conjuntos de textos (e texto aqui inclui também o oral) de uma dimensão suficientemente robusta que permita a diversidade e alcance, é uma condição sine qua non dos estudos linguísticos actuais e faz também todo o sentido quando nos debruçamos sobre o tema da norma. 
Temos hoje a matéria prima, temos as ferramentas, só falta mesmo a vontade política.

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Referências:

- José Pedro Machado (1995). Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Lisboa: Livros Horizonte, Vol.IV, 7º Edição.
Ivo Castro (2003). "O linguista e a fixação da norma". Actas do XVIII Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, Lisboa: APL, pp. 11-24. Disponível aqui.
- John Lyons (1969). Introduction to Theoretical Linguistics. London/New York: Cambridge University Press. 

E. U. A.

Troco Barack Obama por Jill Stein

14:57


Jill Stein em Nova Iorque, durante uma das manifestações do movimento Occupy Wall Street. 
Fonte: Wikipedia.

Devo dizer que há quatro anos também eu me entusiasmei com a vitória de Obama. O entusiasmo pode ser visto aqui mesmo neste blog. Emocionei-me com os vídeos da campanha, com os seus discursos minuciosamente escritos e andava eu também a cantar a música "Times are changing" do Bob Dylan por tudo o que era canto. Afinal, era um presidente negro, com um discurso progressista, com uma visão dos EUA e do mundo que prometia mudanças empenhadas: a saída das tropas do Iraque, o encerramento de Guantánamo, o empenho na resolução do conflito entre Israel e a Palestina, que aliviaria as tensas relações do ocidente com o mundo árabe, o reforço - interno - dos direitos civis, a melhoria das condições de vida das populações menos favorecidas, só para mencionar as mais importantes. O discurso do presidente Obama no Cairo, a 4 de Junho de 2009, foi uma lufada de ar fresco para os países do Médio Oriente e impunha um tom diplomático e esperançoso à governação estadunidense [1]. Todos aguardávamos ansiosos e entusiasmados o que aí vinha. Mas depois veio apenas o que todos sabemos. 
Hoje vemos Obama como o melhor de dois males, o mal menor. E hoje ele é um ícone estadunidense precisamente por isso: é, de facto, uma lufada de ar fresco que veio substituir o tonto, ultra-conservador e pouco informado Bush. Em comparação, não temos dúvidas. Mas é só isso.
Acontece que nunca ninguém se lembra de que há outras opções. Nos Estados Unidos da América existem mais de setenta partidos políticos [2] para além do Partido Republicano e do Partido Democrático, 4 dos quais - o Partido Verde, o Partido Libertário, o Partido Reformista e o Partido da Constituição - apresentam, efectivamente, candidatos presidenciais. Entre estes mais de 70 partidos há partidos independentistas, como o Partido Independentista Portorriquenho, o Partido de Independência do Alasca,  e outros da ala mais à esquerda como o Partido Comunista e o Partido Socialista dos Trabalhadores (ver também a página http://www.pathfinderpress.com). A razão pela qual nenhum deles tem visibilidade e a razão pela qual nenhum chega a ser sequer considerado um sério opositor ao bipartidarismo democrata-republicano só pode chamar-se lobby e propaganda. A pressão pelo voto útil é, no mínimo, antidemocrática e é útil, de facto e apenas, para o sistema, que se esmera em manter na linha pobres, anti-capitalistas, anti-imperialistas e os bichos-papões da esquerda radical (no país onde, para os media mainstream, qualquer esquerda é radical). 
A Platypus Society, uma organização progressista de esquerda criada em 2006, que tem por missão trazer para discussão aquilo que designam por velhos tabus de esquerda, entrevistou recentemente Jill Stein, a candidata do Partido Verde para as mais recentes presidenciais estadunidenses de 2012. Vale a pena ler a entrevista e ter esperança de que nas próxima eleições os estadunidenses venham a ter um presidente com as ideias semelhantes à dimensão do seus país, e não à dimensão de Wall Street. Os EUA, para bem do resto do mundo, são mais do que isso. A entrevista a Jill Stein pode ser lida na íntegra aqui.
"The effort to silence independent politics—ever since the Bush-Nader-Gore election there has been a campaign that tells us that we have to be quiet—is a smear campaign being waged against the very idea of independent third parties. It is political repression, an effort to silence political opposition."
"As Louis Brandeis said, “We can have either a democracy or vast concentrations of wealth.” We currently have had a vast concentration of wealth, and this trend has continued to accelerate under both Democrats and Republicans. Neither party offers any exit strategy for ending the crisis we are facing. There may be small differences around the margins between what Obama and what Romney is talking about. But these are very small compared to what they actually do—which is the same." 
"The problem with the two-party system is that it is a sitting-duck. There is a lot of money out there. As I said before, we have got vast concentrations of wealth in this country, and that inevitably translates into political power. If you only have two parties, it is very easy for the economic elite to buy out both. So, it’s really simple: The economic elite controls both parties and the differences between them are around the margins." 
Jill Stein
Sempre que o nosso foco incide sobre um dos candidatos do sistema bipartidarista estadunidense, são candidatos como Jill Stein que silenciamos. 
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[1] Uso o adjectivo 'estadunidense' em homenagem ao meu marido, que, sendo brasileiro, me corrige sempre os termos 'americano'e 'norte-americano'. Americanos são todos os habitantes do enorme continente americano, já geograficamente dividido entre América do Norte, América Central e América do Sul, diz-me ele.  Com esta opção não invalido os outros termos, nem pretendo fazer dela autoridade. É apenas uma opção discursiva, com tudo o que ela implica.

Diversidade

"A Galiza e a sua língua no contexto europeu", por Maria Dovigo

12:01



"A Galiza e a sua língua no contexto europeu" é o título da conferência que Maria Dovigo dará no dia  24 de Novembro, às 16h, na Universidade Lusófona, em Lisboa. A conferência faz parte do Projecto Timor-Diáspora 2012 – Projecto de Comemoração na Diáspora do 10º Aniversário do dia 20 de Maio de 2002 ou do 10º Aniversário da Independência de Timor-Leste/Lorosa’e.

Mais informações em http://timor-diaspora.com/?p=1008.

Braga

Quarto Encontro para uma Esquerda Livre

20:33


Cartaz elaborado por Vera Tavares.


O próximo Encontro para uma Esquerda Livre será em Braga, no Centro Cultural Velha-a-Branca, das 17h00 às 19h00. O encontro, que decorre num dos mais emblemáticos espaços culturais da cidade, será no mesmo dia em que ocorrerá a manifestação Que se lixe a Troika, queremos as nossas vidas (https://www.facebook.com/events/193208664146461/), que está marcado para as 15h00, na Avenida Central. Que a manif percorra a avenida até ao largo da Senhora-a-Branca. 
Vêmo-nos por lá!

Copyright

A EURALEX inicia política de acesso livre

19:47

A EURALEX (European Association for Lexicography) criou uma versão digitalizada dos artigos apresentados nos seus congressos, desde o primeiro congresso, realizado em Exeter em 1983, ao 14 º congresso, realizado em Leeuwarden em 2010. Os trabalhos estão disponíveis em formato PDF, pesquisáveis via serviço Google Site Search e podem ser também consultados, por ano, na própria página da associação. A EURALEX inicia aqui, assim, a sua política de acesso livre.

Na página da associação é possível também ter acesso a uma extensa bibliografia de autores e trabalhos na área da lexicografia.

África

Do medo do Outro

12:12

Era o ano de 2004, Outubro. A minha filha tinha 9 meses e eu preparava-me para viajar para o Burundi com ela. O Burundi é um país da África subsariana, situado entre o Ruanda, a Tanzânia e a República Democrática do Congo. É considerado um dos mais pobres países de África e também um dos mais pequenos.
Na consulta de apoio ao viajante, entre a recomendação de profilaxia para a malária e a vacina para a febre amarela, entre outras, a que já me tinha habituado quatro anos antes, na partida para Timor Leste, o médico aconselhou-me a não viajar com uma criança tão pequena para um lugar tão inóspito em termos de saúde pública. A minha filha, por ser ainda bebé, não podia receber as vacinas e a profilaxia contra a malária estava totalmente contra-indicada. Não havia nada que a protegesse. Tive ali, naquela consulta, uma verdadeira aula de medicina e sociologia: fiquei a saber sobre as rotas da peregrinação a Meca e os perigos dessas mesmas rotas e fui informada, a frio, sobre os problemas de saúde pública da região. Devo reconhecer a competência do médico, mas a primeira pergunta que me surgiu de toda aquela informação foi 'Como sobrevivem as crianças ali?'.  Foi apenas isso o que eu pensei naquele momento, entre as ameaças de uma viagem apocalíptica, que assustou, por certo, a minha mãe. Pode parecer uma pergunta absurda para uma mãe que está prestes a levar a sua filha para um lugar pouco recomendável, mas a Carolina não era diferente das outras crianças, não era mais vulnerável, pelo contrário. Estava vacinada desde que nascera contra grande parte das doenças infantis graves. Era forte e saudável e tinha tido os melhores cuidados pré e pós natais. Tinha e teria acesso a cuidados de saúde e poderia sair do país, caso fosse necessário. Era, na verdade, privilegiada. Nada do que o médico me disse na consulta mudou a minha decisão de viajar.
Já no Burundi, na capital Bujumbura e, depois em Makamba, fui aconselhada a não sair de casa sozinha, a não sair de casa com uma criança tão pequena e a evitar lugares demasiado populosos e públicos. Mais uma vez, as recomendações não serviram de muito. E por muito aparato  que pudesse haver quando nos deslocávamos entre cidades, com escolta da polícia e militares - aparato este inevitável, dadas as circunstâncias profissionais do meu marido -, o único perigo que havia, quando nos deslocávamos sozinhas ao mercado público, era o de sermos rodeadas de meninos sorridentes, que se acotovelavam para ver e tocar na Carolina. Não é todos os dias que numa cidade do interior rural do Burundi surge uma bebé branca. Mas o diferente ali era bom, não era ameaçador, vinha na forma de um bebé de 9 meses. A Carolina aprendeu a andar e a falar (em francês, kirundi e português) no Burundi. As suas primeiras palavras foram "chapeau" ("chapéu" em francês) e "ego" (que significa "sim" em kirundi). Crescia e era saudável. E o único episódio que inspirou cuidados médicos durante o nosso tempo no Burundi foi uma alergia de pele ao calor. Claro que cumpríamos ao detalhe as recomendações médicas básicas: cobrir as portas e janelas com redes mosquiteiras, não sair depois do pôr do sol por causa dos mosquitos e usar rede sobre as camas.






Fiquei, de resto, a saber que os cuidados médicos no Burundi não são gratuitos, havendo casos em que os pacientes ficam presos no hospital, sem alimentação gratuita e dependente de familiares, até que seja saldada a conta dos cuidados de saúde. Cuidados gratuitos de saúde existiam por parte de ONGs ou por agências da ONU, como a UNICEF, mas também esses cuidados não cobriam os casos menos graves que, ainda assim, eram preocupantes. 
Esta história vem a propósito de uma mensagem que recebi há dias numa das redes sociais, quando postei uma fotografia do rosto da Carolina, agora com 8 anos. Na altura recebi uma mensagem pessoal a alertar-me para o perigo de expor fotografias de crianças nas redes sociais. À falta de melhores palavras, diria que a mensagem me deixou triste e pouco confortável, não com o perigo para o qual a mensagem me advertia, mas com a própria mensagem.  Entendo a preocupação e a intenção do autor da mensagem, da mesma forma que entendo as preocupações do médico no episódio que relatei acima mas devo dizer que, àparte os cuidados básicos que tive (como não fornecer contactos pessoais que possam identificar moradas), da mesma forma que fiz quando fui para o Burundi, não quero viver com essas preocupações. Não é irresponsabilidade ou inconsequência, é uma forma de estar no mundo. Não tenho a pretensão de achar que ela é a correcta nem impô-la a ninguém. É bem possível que seja errada, e que esteja a descuidar a minha segurança e dos meus. Mas é o meu modo de ver o mundo, dadas as circunstâncias que a vida me tem apresentado. Não quero prescindir dele. E esta forma de estar no mundo implica não ver o Outro como uma ameaça e dar-lhe o benefício da dúvida. Vê-lo como um igual, em direitos, sentimentos, atitudes. Foi isso que respondi quando mais tarde me perguntaram porque me expunha eu àquelas situações. Não é uma questão de exposição, é escolher viver sem receio do Outro. 
E este sentimento vai sendo tão raro, com o pós 11 de Setembro e as acusações de terrorismo e o fundamentalismo, que partem de diferentes latitudes. É só na exposição à diferença que podemos entender essa mesma diferença e entender-nos a nós mesmos e às nossas peculiaridades. Mas é também nessa exposição que tomamos consciência de como somos iguais: seja num pequenino país no centro de África, numa ilha no meio da Ásia, num país sul-americano gigantesco, neste pedaço de terra que constitui o final (ou começo) da Europa que é Portugal, ou no espaço aberto e caótico, e por isso mesmo fascinante (mais fascinante que ameaçador) que é a Internet. Só na exposição e compreensão do Outro podemos minar o nosso próprio medo. Entendi isso muito bem mais tarde quando, num curso breve designado "Estudos sobre o inconsciente e o sagrado: Da invenção da psicanálise ao fenómeno religioso", na Universidade do Minho, nos foi pedido para comentar como seria a interpretação freudiana de uma entrevista a um jihadista. O meu trabalho deu nisto. De resto, sobre este tema já tinha escrito neste blog noutras ocasiões: aquiaqui e aqui 



Literatura

Parthos e Scythas

00:55

"[...] a nítida separação entre "bons" e "maus" não surgia de ânimo leve. Hans Castorp dizia para si mesmo que não reservava mais do que um simples encolher de ombros para um anónimo propagandista da república da beleza de estilo que, do alto da sua arrogância e sobriedade - em especial sobriedade, embora também ele andasse febril e estonteado -, incluía os comensais de ambas as mesas na comum designação de Parthos e Scythas. [...] Mas as coisas sucediam da forma que ele mesmo um dia descreveu a Joachim: começamos por sentir exasperação e repulsa até que, de repente, "se intromete qualquer coisa completamente distinta" , que "nada tem a ver com a capacidade de julgar", e é o que basta para toda a austeridade se dissipar - tornamo-nos, então, praticamente insensíveis a influências pedagógicas de natureza republicana ou retórica. Mas que vem a ser isto, perguntamos nós, [...] que fenómeno estranho vem a ser este que bloqueia e apaga a capacidade de julgar os homens, que lhes furta esse direito ou os condiciona a abdicar, em absurda exultação, desse mesmo direito? [...] No que diz respeito a Hans Castorp, essas características manifestaram-se na sua mudança de comportamento: não só ele deixou de emitir juízos de valor, como ainda começou, por sua vez, a fazer experiências com aquele modo de vida que tanto o encantava. Queria saber o que sentiríamos se comêssemos à mesa de costas curvadas e descobriu que era um enorme alívio para os músculos da bacia. Experimentou ainda não fechar cuidadosamente as portas que utilizava, mas deixá-las escorregar da mão, percebendo que também isso era cómodo e apropriado, correspondendo, em termos de expressividade, àquele encolher de ombros com que Joachim o recebera, logo à chegada, na estação e que ele tantas vezes pudera observar ali em cima no sanatório." 
Thomas Mann (2009) A Montanha Mágica, Alfragide: Dom Quixote,  pp. 261-262.

Esquerda

Segundo Encontro para Uma Esquerda Livre

10:58


Imagem: Vera Tavares


O segundo Encontros para uma Esquerda Livre vai decorrer no dia 7 de Julho no Porto. O evento decorre das 17h00 às 20h00, no Maus Hábitos, em frente ao Coliseu do Porto.
Apareçam.

EURALEX

EURALEX 2012

13:15


O programa para o EURALEX deste ano ficou hoje disponível no site de Estudos Escandinavos da Faculdade de Humanidades da Universidade de Oslo, na Noruega. Este ano o evento decorrerá precisamente em Oslo, de 7 a 11 de Agosto.

Língua

"Regionalismos"

09:59


Um pequeno comentário apressado a este artigo do Público: 




A etiqueta "regionalismos", que encabeça o artigo e que passa quase despercebida, refere-se a quê?  São regionalismos as expressões de Lisboa e do Porto, ou só as do Porto? E se só as do Porto, porquê só essas?
"Portuenses e lisboetas nem sempre se entendem na perfeição? Afirmativo, responde Susana Catarino, que trocou Cascais pelo Porto em 1993 e se sentia uma estrangeira na cidade." 
Entendo esta estranheza aqui, mas tenho sérias dúvidas que esta estranheza se verificasse caso a mudança geográfica tivesse sido ao contrário. Infelizmente, o regionalismo depende de um centro, centro este que se espalha por todo o país sem que receba nada em troca. E com isto se esvai parte do nosso património. Sobre este mesmo assunto escrevia há dias Diego Bernal no Diário Liberdade:
"No Brasil as falas cariocas e paulistanas e em Portugal as lisboetas chegam a todos os lares através da televisom, a rádio e a internet.
Porém, quantas vezes umha mineira ouve umha portuguesa de Chaves, umha galega de Burela ou umha indiana de Goa?"

Galego

Só a poesia nos pode salvar... já que nada mais nos pode salvar

09:39


A poesia das palavras, da música, dos actos, da vida:
"Música Náufraga: onte, tentando acalarme a min mesmo a cabeciña explicando á boa xente que me escoitou na Librería Cronopios de Pontevedra, os motivos polos que escribo, entre outros, dixen que por pura emoción. Xa sei que estamos obrigados a definirnos como racionais, lóxicos, fríos, xélidos neuronados que calibran positivlidades e deciden segundo matemáticos criterios. Seino. Mais por iiso manda no mundo a prima de risco. 
Sen embargo, eu escribo, vivo amo respiro son estou proxecto e incluso penso, por emoción. McCartney leva 50 anos escribindo cancións. E aló polo 1976 -dez anos tiña eu- reinvidicou, roqueiro, o seu dereito a escribir "parvas cancións de amor". Agora que está a piques de cumprir 70 anos (o vindeiro 18 deste mes), agasállanos con temas coma este. Emoción pura. Para dicir, quérote, dende sempre, lémbroo a diario, sei que sae o sol porque estás comigo. Creo que el compón cancións, tamén, por pura emoción. E cando eu teña 70, quero seguir escribindo polos mesmos motivos. No básico, porque me emociona a vida."

Francisco Castro, escritor galego, via https://www.facebook.com/franciscocastroveloso, a 06/06/2012.




Copyright

"En matemáticas no hay patentes"

10:50

Imagem: lne.es

"- [...] En matemáticas no hay patentes, los matemáticos no tenemos sentido de la propiedad. Se ve muy bien en las publicaciones. Muchos matemáticos publican en revistas electrónicas que ni siquiera aparecen en los índices de impacto. Los matemáticos no se molestan mucho en marcar su territorio, no les importa la propiedad de lo que hacen. Además, hay una fuerte tradición de servicio, de trabajar con la sociedad en general, sin dinero por el medio. Un servicio voluntario. Otro ejemplo son los artículos científicos que se someten a su publicación en revistas. Hay siempre dos o tres expertos externos a la revista que los evalúan y verifican así que los matemáticos invertimos mucho tiempo en eso, pero gratis. Las editoriales que publican esos artículos no nos pagan ni un céntimo. Y eso que nuestro trabajo lleva días. Tiene su parte positiva, porque si se comercializase habría presiones, se perdería independencia, aparecerían los grupos de presión y quizá la corrupción."
Marta Sanz-Solé, em entrevista ao jornal La Nueva España (lne.es): http://www.lne.es/asturama/2012/06/06/matematicas-hay-patentes-sentido-propiedad/1252835.html através de @alvaro_iriarte. 



Tradução minha:

"- [...] Na matemática não há patentes, nós os matemáticos não temos noção de propriedade. Vê-se muito bem nas publicações. Muitos matemáticos publicam em revistas electrónicas que nem sequer aparecem nos índices de impacto. Os matemáticos não se preocupam em marcar o seu território, não se importam com a propriedade do que fazem. Além disso, há uma grande tradição de serviço, de trabalhar com a sociedade em geral, sem dinheiro pelo meio. Um serviço voluntário. Outro exemplo são os artigos científicos que se submetem a publicação em revistas. Há sempre dois ou três peritos externos que avaliam os artigos e que verificam assim que nós matemáticos investimos muito tempo nesse trabalho, mas gratuitamente. As editoras que publicam esses artigos não nos pagam um cêntimo. E o nosso trabalho leva dias. Tem o seu lado positivo, porque se se comercializasse haveria pressões, perder-se-ia a independência, apareceriam os lobistas (grupos de pressão) e talvez a corrupção."

Identidade

Na língua que se perde, perde-se identidade

02:07


Ao folhear este pequeníssimo livro, que encontrei há dias numa feira, viajei ao passado, ao meu tempo de fruta e violinos. Tantos sorrisos e gargalhadas já me deu.
Há todo um mundo familiar que de novo surge através do simples amontoar de léxico:

APAIJAR, BISTA, INBEJIDADE, JINÊLO, HOMESSA!, MONELHO, MORRINHA, PASMÃO, TRILHAR (Magoar), DIANHOS, TRUNGALÃO, POR-I, ...

Isto é, de certa forma, uma linguagem privada,  identitária.

"Com o desenvolvimento e maior facilidade das intercomunicações, vêm estas forças centralizadoras aumentando enormemente o seu poder de uniformização, sobretudo desde que se generalizou a ràdiofonia, que leva a todos os recantos a influência do centro emissor. Ora, assim, é de prever que as peculiaridades locais e, com elas, as regionais se vão atenuando ràpidamente e tendam a desaparecer por completo. As que ainda resistem, por quanto tempo persistirão elas? Bom será que se registem sem demora, a fim de ficarem, ao menos, com preciosos elementos para a história da língua." 
F. J. Martins Sequeira (1957/58) Apontamentos acerca do falar do Baixo-Minho.  Lisboa: Edição da Revista de Portugal, p. 7.

Diversidade

"I want a president"

20:54




                    
           Imagem:  "I want a president..." de  Zoe Leonard, 1992 



Tradução livre:
"Eu quero uma presidente lésbica. Eu quero uma pessoa com sida para presidente e quero um maricas  para vice-presidente e quero alguém sem segurança social e quero alguém que cresceu num lugar onde a terra esteja tão contaminada com lixo tóxico que não tenha tido opção senão ter leucemia. Eu quero uma presidente que tenha tido um aborto aos 16 anos e quero um candidato que não seja o mal menor.  Eu quero um presidente que tenha perdido o último dos seus amantes por causa da sida, que ainda o veja de cada vez que fecha os olhos para descansar, que teve nos seus braços o seu amado sabendo que ele iria morrer.  Quero um presidente sem ar condicionado, que tenha estado numa fila de hospital, na dgv, no centro de emprego e tenha estado desempregado e tenha sido vítima de layoff e que sofreu assédio sexual e tenha sido vítima de crime homofóbico e deportado. Quero alguém que tenha passado uma noite na cadeia, que tenha tido uma cruz queimada no seu relvado e tenha sobrevivido a violação. Quero alguém que tenha estado apaixonado e que sofreu por amor, que respeita o sexo,  que tenha cometido erros e aprendido com eles.  Quero uma mulher negra para presidente. Quero alguém com maus dentes e atitude, alguém que tenha comido aquela horrível comida de hospital, que faz travesti e tenha usado drogas e  feito terapia. Eu quero alguém que tenha cometido desobediência civil. E quero saber por que é que isto não é possível. Eu quero saber quando é que começamos a acreditar que um presidente tem de ser sempre um palhaço: sempre um chulo mas nunca uma prostituta. Sempre chefe mas nunca trabalhador, um mentiroso, um ladrão que sai sempre impune."

Cultura

I Jornadas Galiza mais Perto

10:05


Nos dias 14 e 15 de Junho a Universidade do Minho recebe a I Jornadas Galiza mais Perto. O evento é organizado pelo Centro de Estudos Galegos daquela universidade e pela Asociación de Escritores e Escritoras en Lingua Galega. O objectivo do evento, como vem referenciado no sítio online, é "procurar áreas de convergência relativas ás matérias abordadas (literatura, língua, música...) e aproximar duas realidades que partilham uma história, uma língua e uma cultura: a Galiza e o Norte de Portugal".
A entrada é livre. 

Direitos

Primeiro Encontro para uma Esquerda Livre

09:42


Imagem: Vera Tavares

O primeiro dos Encontros para uma Esquerda Livre realiza-se já este sábado, dia 2 de Junho, em Lisboa, das 17:00 às 20:00 horas. Outros encontros estão já agendados para outras cidades do país: Porto, Tavira, Coimbra, Braga e Évora.


EURALEX

International Journal of Lexicography disponibiliza artigos gratuitos

11:50


Para comemorar o 25º aniversário do International Journal of Lexicography o seu editor, Paul Bogaards, seleccionou pessoalmente 10 artigos do arquivo do jornal e disponibilizou-os gratuitamente na página do jornal. Os artigos podem ser lidos online ou descarregados.



  • Introduction to Wordnet: An on-Line Lexical Database
    Miller, George A., Richard Beckwith, Christiane Fellbaum, Derek Gross and Katherine J. Miller
    3 (4): 235-244
  • Dictionaries for Learners of English
    Bogaards, Paul
    9 (4): 277-320
  • Lexicographers' Dreams in the Electronic-Dictionary Age
    De Schryver, Gilles-Maurice
    16 (2): 143-199
  • Examining the Effectiveness of “Bilingual Dictionary Plus” - A Dictionary for Production in a Foreign Language
    Laufer, Batia and Tamar Levitzky-Aviad
    19 (2): 135-155
  • Background to Framenet
    Charles J. Fillmore, Christopher R. Johnson, and Miriam R.L. Petruck
    16 (3): 235-250
  • Putting Frequencies in the Dictionary
    Kilgarriff, Adam
    10 (2): 135-155
  • The Lexicographical Legacy of John Sinclair
    Hanks, Patrick
    21 (3): 219-229
  • The Contribution of Framenet to Practical Lexicography
    Atkins, Sue, Michael Rundell, and Hiroaki Sato
    16 (3): 333-357
  • Aux origins de la lexicographie: les premiers dictionnaires monolingues et bilingues
    Boisson, Claude, Pablo Kirtchuk, and Henri Béjoint
    4 (4): 261-315
  • Fragments of a History Prior to Two Editions of the Dictionary by Lewis Chambaud, a Rival of Abel Boyer
    Cormier, Monique
    23 (2): 173 – 187


  • Fonte: http://www.oxfordjournals.org/our_journals/lexico/anniversary_papers.html

    Aragonês

    Linguamática - N4 V2: chamada de artigos / call for papers

    21:59



    Está aberta a recepção de artigos para o volume 4, número 2 da revista Linguamática, a Revista para o Processamento Automático das Línguas Ibéricas (ISSN 1647-0818). Os artigos deverão ser escritos numa das línguas da Península Ibérica e devem incidir sobre os seguintes temas: 

        - Morfologia, sintaxe e semântica computacional,
        - Tradução automática e ferramentas de ajuda à tradução,
        - Terminologia e lexicografia computacional,
        - Síntese e reconhecimento da fala,
        - Extracção/recolha de informação,
        - Resposta automática a perguntas,
        - Linguística de corpus,
        - Bibliotecas digitais,
        - Avaliação de sistemas de processamento de linguagem natural,
        - Ferramentas e recursos públicos ou cooperativos,
        - Serviços linguísticos na rede,
        - Ontologias e representação do conhecimento,
        - Métodos estatísticos aplicados à língua,
        - Ferramentas de apoio ao ensino de línguas.


    A data limite para envio dos artigos é 30 de Setembro de 2012.
    Qualquer questão deve ser enviada para editores@linguamatica.com
    Para mais informações sobre o formato, editores e comissão científica, consultar a página http://www.linguamatica.com/.

    Cultura

    A sujeição das mulheres, de Stuart Mill, no próximo dia 24 de Maio

    21:32



    “[…] O princípio que regula as relações sociais entre os dois sexos – a subordinação legal de um sexo ao outro – está em si mesmo errado, constituindo hoje um dos principais obstáculos ao desenvolvimento humano; e que, justamente por isso, deveria ser substituído por um princípio de perfeita igualdade, que não admitisse qualquer poder ou privilégio de um dos lados, nem discriminação do outro.”
    John Stuart Mill, A sujeição das mulheres, Coimbra, Almedina, 2006, p.33 


    Comunidade de Leitores de Filosofia

    Eventos

    10 anos de independência de Timor Leste

    00:22



    Nenhum outro país me fez sentir mais em casa do que Timor Leste, muitas vezes até mais do que o meu próprio país. Os meus votos de que continuem a crescer e a mostrar que uma das mais jovens nações do mundo é um dos melhores exemplo de determinação, coragem e solidariedade para o mundo. As grandes nações têm tanto a aprender com vocês!

    Esquerda

    Perguntas para um Manifesto

    14:02



    Imagem: Vera Tavares


    E se houvesse um movimento que se dispusesse a lançar a semente para a criação de um espaço de debate entre as diferentes camadas da sociedade? E se houvesse um movimento que se propusesse promover um debate público realmente público e trouxesse à sociedade a possibilidade de todos poderem fazer ouvir a sua voz e contribuir para apresentar soluções para os problemas que, directa ou indirectamente, afectam as suas vidas? E se esse movimento começasse a ter um espaço próprio?
    Ontem, em Lisboa, foi feita a apresentação pública do Manifesto para uma Esquerda Livre. Para redigir este texto, elaborei umas perguntas que enviei aos principais impulsionadores do projecto. A resposta foi imediata: eu deveria contribuir para dar respostas a essas mesmas perguntas. Mas, que tipo de pessoa faz umas perguntas e responde a essas mesmas perguntas? A questão essencial é que este acto de liberdade, em que o apelo é feito à participação e não à aceitação é, só por si, um dos motivos de interesse deste Manifesto. Se este não é o caminho é, com certeza, um dos caminhos.
    Assim, usei as perguntas como uma forma de organizar as minhas próprias ideias em relação ao Manifesto. O Manifesto terá tantas interpretações quanto o número dos seus signatários que, em menos de uma semana, somaram perto de 1800.  Aqui ficam as perguntas e a minha interpretação do Manifesto:   
    - Como surgiu o Manifesto?
    A ideia para o Manifesto surgiu no dia 01 de Dezembro de 2011, num encontro em Bruxelas, do qual o Rui Tavares, a Marta Loja Neves, o João MacDonald e a Evalina Dias foram anfitriões.  Este encontro reuniu à mesma mesa bloquistas, socialistas e independentes, deputados, gente com mais visibilidade mediática e gente anónima, na qual eu me incluo, que expressou o seu sentimento de desânimo e indignação perante as políticas de austeridade que vinham sendo impostas a nível nacional e europeu a países que se viam a braços com graves dificuldades económicas e sociais. Este era o tempo em que jornalistas respeitados dos principais canais de televisão nacionais punham em causa, sem qualquer pudor, a própria constituição e os direitos nela consagrados. 
    Segundo a minha interpretação, a ideia era reunir forças para que o paradigma político voltasse a centrar-se nas pessoas e não na dívida pública. 
    - Mais do que um posicionamento ideológico, o nome “esquerda livre” sugere uma clara demarcação das actuais políticas de esquerda. O que significa o nome “esquerda livre”?
    Para mim ser de esquerda é algo tão simples como assegurarmo-nos, todos, que os valores da liberdade, igualdade e fraternidade sejam uma realidade, a nível regional, nacional, europeu e mundial.  Entendo que uma esquerda é livre quando é tolerante, quando faz da diversidade um motivo para crescer em ideias e em valores.   
    É livre uma esquerda que acredita que uma democracia saudável precisa de envolver toda a sociedade no debate político, que acredita na possibilidade de um debate alargado, que envolve todos os espaços da vida pública. A insistência na crença de que a política se faz apenas por políticos, num parlamento ou num lugar controlado e fechado à sociedade civil, alimenta a apatia e a descrença dessa mesma sociedade nas suas instituições governamentais. Todos temos saberes e contributos que podemos partilhar, e o senso comum é tão válido como o saber científico, só depende da perspectiva. 
    É livre a esquerda que acredita que todo o debate democrático deve fazer-se horizontalmente, de iguais para iguais, que acredita na possibilidade e reponsabilidade individual de cada membro da sociedade de mudar o curso da história.
    É livre a esquerda que deixa que cada um assuma por si mesmo a responsabilidade dos seus actos, das suas palavras. Se o pluralismo permite diferentes vozes, obriga também a uma maior responsabilidade individual. Ninguém é responsável por ninguém, mas todos somos responsáveis uns pelos outros: moldamo-nos.
    É livre a esquerda que acredita que a maior parte de uma sociedade, a parte saudável de uma sociedade, a parte que alimenta o sistema e o mantém, tem nas suas mãos o poder para paralizar ou impulsionar esse mesmo sistema, se assim o desejar.  Se essa parte da sociedade acreditar que o seu contributo, o seu esforço, o seu empenho, irá alimentar e fortalecer o bem comum, em que as ideias e o trabalho de todos irão servir todos em pé de igualdade, o seu poder será verdadeiramente eficaz. Mas a sociedade precisa de acreditar. 
    - O que pretende este Manifesto? O que é que ele traz de novo à sociedade portuguesa e à política nacional?
    O texto do Manifesto evoca duas noções importantes: a noção de esperança e a noção de pertença. Esta noção de pertença, que para mim tem tudo a ver com a noção de identidade, cria um sentimento de que todos são bem vindos, um sentimento a que apelam, de resto, os movimentos sociais mais recentes. Tenho a certeza de que esse é o caminho para o que quer que seja que queremos construir: não deixar ninguém de fora e levar a política para todo o lado, para toda a gente, criar a Ágora (como disse o Rui Tavares na última reunião em que estive presente) em todo o lugar, em todos os lugares e com toda a gente. Que "seja bem vindo quem vier por bem" e que ninguém fique para trás porque, se assim acontecer, como diria um professor meu, será um a menos a trabalhar para as "forças do bem". Precisamos de todos nas ágoras que criarmos. E deixar que cada um assuma por si mesmo a responsabilidade dos seus actos, das suas palavras, sem paternalismo ou condescendência.
    E por falar em movimentos sociais, um conceito que também me é particularmente caro, acho que esta é a oportunidade para lhes dar o palco. Eles são uma das forças motrizes que queremos que impulsione a mudança no país. Nós somos um movimento social também, de certa forma.  Há que envolvê-los, sem deixar que eles sintam (ou sejam, de facto) que são instrumentos de propaganda política. 
    - Quais são as possibilidades de o Manifesto se transformar num partido político?
    Pessoalmente, a possibilidade de criação de um partido político deixa-me de pé atrás. Sempre fui dessa opinião. Como foi ouvido ontem, numa das interpelações à mesa, “temos de ser marginais”. Eu acredito nisto, num movimento que funcione como um contra-poder, que questione o poder e crie meios para uma democracia participada. Não me agrada também a estrutura vertical que exige a existência de um partido hoje, receio a possibilidade de esta estrutura subverter a ideologia, os objectivos e o trabalho de um movimento.
    Ontem, Rui Tavares dizia que "fazer um partido é fácil, difícil é fazer um movimento de libertação". 
    - O texto do Manifesto apela à mobilização dos cidadãos e ao debate de “alternativas concretas e decisivas” de “forma aberta e em plataformas inovadoras”. Têm já uma ideia de como se fará este debate e que plataformas serão estas?
    O Manifesto está a pensar em encontros temáticos programados regularmente, criar uma (ou várias) wikis, no uso das redes sociais e junção de diferentes meios de comunicação alternativos. 
    - O Manifesto tem encontros já agendados em diversas cidades do país. O que podem esperar os cidadãos destes encontros? E, principalmente, o que esperam dos cidadãos nestes encontros?
    Participação e envolvimento de todos os cidadãos que se sintam descontentes com o actual estado do país, com a certeza de que tudo o que for feito será feito de todos para todos (para o bem comum). É segundo esta crença que eu assinei o Manifesto. E continuarei envolvida enquanto acreditar nela, enquanto estes princípios continuarem intactos. Nós faremos o que for necessário se acreditarmos numa causa, como diria Stephen Meyers, no filme Nos Idos de Março


    O Manifesto pode ser assinado aqui.


    Post publicado também no blog  Chapa Branca.

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