Direitos

"As administradoras da vida"

10:56

Eu achei este post enquanto percorria o meu facebook. Achei-o brilhante. Não teria escrito melhor. Para ler na íntegra em http://carloscabanita.blogspot.com/. Transcrevo aqui algumas linhas:


"Na competição no lugar de trabalho, muitas mulheres concorrem de pés atados. Por um lado, atam-lhes os pés, por outro o júri não lhes reconhece nenhuma classe especial; elas são consideradas concorrentes como os demais. Até os benefícios a que têm direito como as tolerâncias de ponto, os períodos de gravidez ou de aleitação ou a assistência à família, viram-se contra elas. Mesmo que ninguém o confesse, são sinais claros de falta de comprometimento e de desinteresse pelos objectivos partilhados pela cultura da empresa. Como qualquer cultura em que a pressão dos pares é importante, na empresa tende a escamotear-se a vida externa das pessoas, os valores externos e os amores externos. Qualquer pessoa que, ostensivamente, cultiva outros amores e tem as suas prioridades tão claramente subordinadas ao exterior, perde pontos na hierarquia geral.

Tendo tudo isso em conta, é ainda mais extraordinário o recente sucesso que as mulheres têm tido na esfera profissional. Como grupo social, as mulheres têm demonstrado uma grande mobilidade ascendente, estão em maioria no Ensino Superior, têm melhor aproveitamento em todo o ensino, têm tido sucesso na ascensão nas suas profissões, mesmo onde uma conspiração surda lhes veda o acesso.

A loba no meio dos carneiros

A única teoria que me ocorre para justificar isso é a do endurecimento pessoal. Escolas de tropas especiais como os Comandos usam o conceito com sucesso há muitos anos. Peguem num jovem e coloquem-no perante provas cada vez mais difíceis, que ele terá de superar para corresponder às expectativas que foi levado a criar sobre si próprio; criem as mais adversas condições de vida, para ele se habituar a superar o sofrimento e a dor; façam-lhe guerra psicológica para lhe endurecer as defesas e a vontade; por fim terão criado um soldado muito superior, capaz de se mover entre os guerreiros comuns como um lobo no meio dos carneiros.

É curioso eu estar a aplicar este conceito às mulheres, não é? Mas reparem: estas mamãs gerem uma agenda mais complexa que a de muitos administradores, em que, para além da rotina diária inflexível, há toda a espécie de eventos: reuniões de pais, excursões com problemas logísticos próprios, férias, doenças, consultas; a administração da logística geral, que inclui a alimentação, roupa, material escolar e livros; avaliação pedagógica e educativa das crianças, uma lista sem fim.

Desistir não é opção. O seu instinto maternal não lho permite. A batalha não tem recuo possível. É preciso dar tudo por tudo e continuar a dar durante anos.[...]

Os egos mais frágeis que as mulheres têm de gerir são os dos homens e, para os manter felizes, são levadas muitas vezes a deixar-lhes a ribalta.[...]

É claro que fabricar novos seres humanos é uma tarefa essencial, que exige o melhor de cada um, em tempo, recursos, criatividade, inteligência afectiva. A sociedade é que faz de conta que esse trabalho não existe. Possivelmente porque não o quer pagar…

Mesmo que não o pagasse em dinheiro, se a sociedade desse o devido apreço a esse trabalho, com palmadas nas costas, felicitações, discursos de homenagem, salvas de palmas e coisas que tais, possivelmente as acções das mulheres iriam subir ainda mais na bolsa." (http://carloscabanita.blogspot.com/)


Direitos

Marcha pela Erradicação da Pobreza e Exclusão Social

10:29


2010 é o Ano Europeu de Combate à Pobreza e Exclusão Social.

Embora o ano só comece no dia 1 de Janeiro, um conjunto de organizações vai realizar uma marcha solidária para antecipar a sua divulgação.

Porque a Pobreza é uma violação dos Direitos Fundamentais, dia 17 de Dezembro, pelas 19h30 vamos encontrar-nos na Praça Luís de Camões e desfilar em direcção à Rua Augusta, onde se encontra uma réplica de uma laje em honra das vítimas da fome, da ignorância e da violência.

Dia 17 de Dezembro, junte-se a Nós! Traga uma vela e faça parte desta marcha!

** Programa e Itinerário da Marcha**

19h - Concentração: 17 de Dezembro de 2009, Praça de Luís de Camões (Lisboa – Chiado)

19h30 - Desfile: Chiado, Rua Garrett, Rossio e Rua Augusta. Nova concentração no Arco da Rua Augusta - junto à réplica da laje da Praça do Trocadero:
- Declamação da “Ode do Pão” (de Pablo Neruda), por vários actores/artistas
- Minuto de silêncio em homenagem às vítimas da fome e exclusão social
- Compromisso público pela Erradicação da Pobreza e Exclusão Social – assinatura de um mural

21h00 - Festa de encerramento: Tenda do Pão de Todos, Para Todos – Martim Moniz

Organização: Amnistia Internacional – AMI – CAIS – Comissão Nacional Justiça e Paz – Comissão Social da Junta de Freguesia de Santos-o-Velho – Fundação Obra do Ardina – Médicos do Mundo – O Companheiro – Rede Europeia Anti-Pobreza

Direitos

De homossexualidade e da Bíblia

00:11


" [...] Nos States, a assanhada moderadora de um programa radiofónico de linha aberta decretou a homossexualidade uma perversão, apoiando-se na Bíblia, mais precisamente no Levítico, capítulo 18, versículo 22: «Tu não te deitarás com um homem como te deitarias como uma mulher: seria uma abominação.». Um ouvinte reagiu por carta [...]: « Gostaria de vender a minha filha como serva, tal como vem indicado no livro do Êxodo, cap. 21, 7. Na sua opinião, qual seria o preço mais justo? O Levítico, também no cap. 25, 44, diz que posso ter escravos, homens ou mulheres, desde que sejam comprados em nações vizinhas. Um amigo meu afirma que isto é aplicável aos mexicanos, mas não aos canadianos. [...] Tenho um vizinho que trabalha ao sábado. O Êxodo (25, 2) afirma claramente que ele deve ser condenado à morte. Sou obrigado a matá-lo eu próprio? [...]".
Onésimo Teotónio de Almeida, "Versículos Satânicos" in Ler, Novembro, 2009, p. 93.


Direitos

Dia internacional contra a violência de género

00:46



"Há muitas [...] maneiras subtis mediante as quais os homens tiram proveito da alteridade da mulher. Para todos os que sofrem de complexo de inferioridade, há nisso um remédio milagroso: ninguém é mais arrogante em relação às mulheres, mais agressivo ou desdenhoso, do que o homem que duvida da sua virilidade. Os que não se intimidam com os seus semelhantes mostram-se também muito mais dispostos a reconhecer na mulher um semelhante." (Simone de Beauvoir (2009). O Segundo Sexo. Lisboa: Quetzal, p. 27) (sublinhado meu)

Direitos

Das questões de género

21:54


Vem este post a propósito deste post do Arrastão. Devo dizer que este post me intrigou. Não entendi o propósito. Pareceu-me despropositado, abusadamente machista, se bem que, depois deste outro post, parece-me que o Daniel se redimiu.
É que há um tipo de discurso moderno, repleto, por certo, das melhores intenções, que insiste em defender que entre homens e mulheres não existem diferenças. Não se nasce mulher, torna-se mulher, dizia Beauvoir.
Aqueles direitos pelo quais os movimentos feministas de meados do século passado defenderam, muitas vezes com a própria vida, tendemos nós, hoje, a tê-los por garantidos: direitos civis (como o direito ao voto), direito a decidir sobre o próprio corpo, liberdade sexual. E é certo que acabamos com grande parte dos tabus respeitantes à condição feminina.
Hoje queremos todos esses direitos civis e individuais e queremos também todos os outros deveres que hoje se transformaram em direitos, por advirem de uma escolha e não de uma imposição: o casamento e a maternidade. Queremos iguais direitos, queremos igualdade de oportunidades, queremos o trabalho, queremos o casamento, queremos a maternidade e queremos também a identidade que nos torna indivíduos, a individualidade. Queremos, enfim, tudo a que temos direito .
E esta confirmação de que podemos, efectivamente, fazer tudo de forma exemplar, vem de todos os quadrantes da sociedade. Dizem-nos que é possível ser-se uma mãe fantástica, uma excelente profissional e ainda um indivíduo com aquela liberdade pessoal que julgamos que perdemos quando passamos para uma outra categoria. E por um tempo isto resulta. Depois, chegamos a um estado de assoberbamento e damos por nós a pensar se não teremos feito escolhas erradas, se não teremos escolhido em demasia. Se, afinal, perdemos a razão. E, nesse momento, caímos na tentação de acreditar naquele discurso proteccionista e condescendente, mascarado tantas vezes de machismo, de chauvinismo e com laivos de misoginia. Tendemos a acreditar que talvez nós não sejamos, de facto, capazes de fazer tudo. E caímos no erro de nos impormos uma escolha: ou o trabalho, ou a família, ou os filhos ou a independência e o espaço pessoal. Ou pior, caímos no erro da autocomiseração. Como se a escolha dependesse do tudo ou nada. A questão não é podermos ou não fazer tudo, é a de sermos ou não livres para escolher o caminho. Muitas vezes não há escolha.
Devo dizer que não sei o que é pior: aquele discurso de complacência e proteccionista cuja intenção de fundo é apenas a necessidade de domínio, que nos passa a mão pela cabeça e tenta convencer-nos de que há que aceitar as evidências e o fracasso; ou, por outro lado, aquele outro discurso, mascarado de moderno e feminista, que defende que não há diferenças entre homens e mulheres e que, por isso, todos devem ser tratados da mesma forma, independentemente das suas particularidades de género. Os dois discursos parecem-me pestilentos.
Ora, há pelo menos uma particularidade, que não me parece ser apenas de pormenor, em que homens e mulheres não são, efectivamente, iguais: a capacidade de gerar, a maternidade. É um facto que é a mulher que carrega o filho durante meses no seu útero – e anseio com optimismo pelo momento em que a mulher possa escolher delegar essa responsabilidade no homem (e que revolução social isso não trará!). E ainda que com todas as leis de protecção da maternidade – que reduzem, mas não impedem, por exemplo, a discriminação de género no acesso ao emprego ou a lugares de poder – ainda assim, não podemos escamotear o facto de que uma mulher que decide engravidar, vê reduzidas muitas das suas liberdades. Senão, tentem fazer uma meia-maratona, entrar em alta competição, fazer rafting ou paraquedismo com uma barriga de seis, sete, oito, nove meses. Mas não falo apenas de actividades físicas intensas: tentem conseguir autorização para viajar de avião depois dos sete meses de gestação, ou tentem fazer qualquer tipo de actividade intensa nas duas primeiras semanas pós-parto (a mim levou-me mais de um mês para conseguir sentar-me normalmente); ou tentem ausentar-se por mais de 4 horas do vosso bebé enquanto estão na fase de amamentação (sim, posso escolher não amamentar, mas também posso escolher fazê-lo, é meu direito).
E, tentem planear a vossa vida, pondo em espera a vontade de procriar: pensar no emprego, na carreira, construir uma vida estável, sólida… esperam até aos 30, 40, 45, 50. Hoje, convenhamos, não conseguimos estabilidade financeira nem com 40, quanto mais com 30. E esperamos, esperamos, esperamos até que… ops, já com 35 anos o médico diz-nos que a nossa gravidez pode ser de risco. Não, não somos iguais aos homens, que podem procriar até morrer (mais outra conquista da ciência a ser pensada seriamente). Aos 35 anos já há a possibilidade de gravidez de risco, portanto, ou nos despachamos ou… desistimos dessa parte!
Não, não somos iguais aos homens. Enquanto a gestação for assunto de mulher, não somos iguais, de facto. E é curioso que das lutas das feministas mais empedernidas não faça parte a reivindicação do direito à maternidade. A ânsia de nos assemelharmos aos homens, que advém do facto de acreditarmos que só na semelhança podemos exigir direitos iguais, esforçou-se por ceifar todas as diferenças. A maternidade é tabu para o feminismo, tal como o casamento ou todos os outros direitos que pareçam permitir a submissão da mulher face ao homem. De facto, terei de fazer um grande esforço para encontrar uma feminista na condição de mãe.
É só no reconhecimento das diferenças que podemos aspirar a promover a igualdade de direitos e oportunidades. Senão, arriscamo-nos a correr na direcção oposta e a perpetuar a discriminação negativa.
Perdoem-me as feministas mais empedernidas, mas ainda hoje, depois de muita psicanálise para aceitar a minha condição de género, ou talvez até por isso mesmo, não me incomoda nada que um homem se ofereça para ajudar a carregar as minhas malas, me abra a porta ou me dê passagem no elevador. E, devo dizer, não considero, absolutamente, submissão deixar que um homem me abra a porta do carro para eu entrar ou me ajeite a cadeira à mesa. É que, para que um acto de machismo ou de submissão seja assim considerado, é preciso uma intenção e alguém que se considere a subjugar e alguém que se considere subjugado. Sem tais percepções, um acto é apenas um acto, sem mais.
É curioso que nas regras de conduta de algumas organizações internacionais onde existe um ambiente multicultural (como a ONU), actos como os que referi no parágrafo anterior sejam considerados desrespeitosos e desaconselhados. Entende-se. Afinal, as conquistas pela igualdade de género ainda são muito recentes e estão por finalizar.
Para alguém se sentir ofendido não é necessário ter havido a intenção de ofensa. E com isto volto ao post de Daniel Oliveira. Independentemente da intenção que está por trás do post, a interpretação que eu resolvo dar-lhe é minha responsabilidade. Tal como é da minha responsabilidade a escolha que decido fazer, sempre que a escolha é possível. Como dizia um professor meu (embora com discurso tendencioso, uma vez que estávamos a falar de sexo e gravidez e visto ele ser um padre, mas, ainda assim vale pelo princípio), nunca façam nada cujas consequências não estejam dispostas ou preparadas para enfrentar.

Comércio Justo

Semana do Consumo Responsável - 23 a 29 Novembro

16:55


De 23 a 29 de Novembro realiza-se, na Universidade Lusíada de Lisboa, a Semana do Consumo Responsável. Esta iniciativa vai contar com diversas entidades que promovem e trabalham sobre a temática do consumo responsável. O programa pode ser consultado aqui. A entrada é livre e também é possível participar na organização como voluntário.

Direitos

Dia da tolerância

23:26

"Instituído pelas Nações Unidas em 1995 em reconhecimento à Declaração de Paris, na qual os Estados reafirmaram o seu compromisso no respeito pelos Direitos Humanos fundamentais e pela dignidade e valor da pessoa humana."

Fonte: Amnistia Internacional


Copyright

Ainda a censura

11:23

"No Internet Governance Forum patrocinado pela ONU no Egito, o grupo anti-censura Open Net Initiative foi surpreendido com uma ordem dos funcionários da ONU para retirar um cartaz que cita a censura chinesa da Net. Quando a ONI recusou o pedido, o pessoal da segurança chegou e tirou o cartaz. O grupo estava promovendo o seu novo livro, Acesso Controlado, um apanhado da censura na internet, filtragem e vigilância online. Uma testemunha disse: "O cartaz foi atirado ao chão e foi-nos dito para removê-lo por causa da referência à China e ao Tibete. Nós recusamos, e os seguranças vieram e removeram-no. O incidente foi presenciado por muitos" Aqui está um vídeo da remoção".
Fonte: Slashdot via Partido Pirata

O cartaz objecto de censura:


Mais informação sobre o ocorrido aqui.

Arte

Feira BioArte (8 de Novembro)

09:09


"Realiza-se dia 8 de Novembro de 2009, das 10:00 às 17:30, no Mercado Cultural do Carandá mais uma Feira BioArte promovida pela Sementinhas ao Vento.

Com trabalhos feiros em madeira, trapilho, pintura em tecido, origami, bijuteria, arranjos florais, pintura em azulejo, biscuit, eco-artesanato.

O objectivo desta feira é facilitar a procura de produtos de qualidade aos consumidores com consciência ecológica; proporcionar a troca de informação de alternativas aos produtos convencionais; aumentar a consciência ambiental dos cidadãoos; contribuir para o desenvolvimento de hábitos mais saudáveis e amigos do ambiente; usar a Arte como veículo de consciencialização para o desenvolvimento sustentável.
"

Fonte: O Portal da cidade
Consciência ecológica e social, com a participação da Alternativa (Associção para a promoção do Comércio Justo).
Levem as crianças. E aproveitem para fazer as compras de Natal.

Biosfera

Jardin BiO étic

23:25


Descobri ontem no hipermercado CONTINENTE, em Braga, um creme de mãos da marca Jardin Bio étic, que tem o carimbo da FAIR TRADE (Comércio Justo). É bom saber que estes produtos andam a circular por aí, um pouco por todo o lado. E parabéns ao CONTINENTE pela escolha.

Conto

Contos da diferença

23:15


"O livro Contos da Diferença, composto por 17 contos originais, é o resultado da proposta do Blog Tangas Lésbicas e do esforços de várias mulheres em introduzir no panorama literário português o erotismo lésbico. [...] A apresentação do livro será realizada pela Professora Luísa Saavedra (feminista; docente na Escola de Psicologia da Universidade do Minho). Tratando-se de uma actividade de apoio ao MPI – Movimento pela Igualdade contaremos também com a presença da Professora Francesca Rayner (MPI). O serão contará ainda com a declamação de Helena Gonçalves (UMAR- Braga) e com a divulgação do Seminário Para Além do Arco-íris: Activismo LGBT e Feminista nos 40 anos de Stonewall."

Fonte: http://www.velha-a-branca.net/ACT01490.htm

Comunicação Social

Discursos neutros e objectividade

12:06

A propósito do post "Oxigénio" de Rui Tavares, acerca da objectividade do jornalismo e da necessidade das vozes alternativas, que são fornecidadas pelos blogs e outras modalidades, pareceu-me pertinente inserir aqui um excerto dum artigo da revista Courrier Internacional (versão portuguesa) de Julho de 2009, de Andeï Arkhangelski, cronista russo, sobre, precisamente, a subjectividade na imprensa:
"A coisa mais importante que os jornalistas devem à sociedade é a verdade que, como a consciência, não pertence à categoria das noções objectivas. [...] A verdade não é a mesma para todos, mas, se não houver o desejo de trasnmitir a sua própria verdade, nenhuma verdade é possível. [...] o jornalismo de autor é o mais objectivo de todos. Só posso basear-me na opinião de um jornalista que não esconda a sua subjectividade. A principal garantia da independ~encia da imprensa é o compromisso dos seus actores, os jornalistas [...]." (p. 114)
Sobre esta assunto tinha já deixado um post com um comentário muito interessante de José Rebelo (José REBELO 2000. O discurso do jornal. Lisboa: Editorial Notícias) que trata destas questões com pormenor. Há um comentário específico que defende, precisamente, que quanto mais o sujeito se mostra no discurso, mais esse discurso se torna transparente, quanto mais ele se retira, mais o discurso se torna opaco - e opaco não significa neutro:
"Se nos situarmos [...] no eixo da dictização, o grau máximo de transparência, ou o grau mínimo de opacidade, corresponde [...] à presença máxima do sujeito da enunciação ou das suas marcas. À medida que o sujeito se retira, que desinveste, diminui a transparência do enunciado. E aumenta a sua opacidade [...]" (p. 75).
E este argumento não serve só para o discurso do jornal, serve também para o discurso científico:
"Casos há em que o discurso ideológico, produzido por um dado enunciador, se caracteriza, sobretudo, pelo apagamento deste e pela prioridade concedida ao objecto. Neste segundo caso, o discurso ideológico como que se confunde com o discurso científico." (p. 77)
Quanto mais neutro um discurso se mostra, menos transparente ele se torna, com todas as implicações que isso traz.
Talvez seja necessário rever a questão da neutralidade no jornalismo.

Biosfera

Gelados Ben & Jerry's

11:31



Os gelados Ben & Jerry's têm-se esforçado por se integrarem no movimento e filosofia da FarirTrade. Muitos dos seus produtos (as variedades de café e, mais recentemente, as de baunilha) já mereceram o carimbo FairTrade e, hoje, eles podem encontrar-se um pouco por todo o lado. Há tempos descobri-os na loja Blockbuster de Braga, mas também já os vi nos tradicionais lugares de venda de gelados. É só prestar atenção ou perguntar por eles. A qualidade é excelente e eu fiquei fã do Bohemian Raspberry.
Seguindo a filosofia da FairTrade (Comércio Justo), e de acordo com os responsáveis da Ben & Jerry's, os gelados contribuem "para que chegue mais dinheiro aos que menos têm, para que esse dinheiro seja aplicado em benefícios sociais e ecológicos e para reduzir ou eliminar desiquilíbrios fontes de pobreza" (http://www.benandjerrys.pt/site/index.html) .

Bom proveito!

América latina

"Colifata" de Manu Chao

03:00


"Manu Chao, músico franco-espanhol cujas letras são uma mistura de inglês, francês, espanhol, galego e português, lançou, recentemente, um álbum intitulado Viva la Colifata, até então, nada de novo, exceto pelo detalhe de que o álbum é resultante de um trabalho que foi todo gravado na rádio Colifata, que possui a particularidade de ser uma rádio transmitida de [...] um hospital psiquiátrico, na Argentina, o Borda. E são os internos que fazem a rádio.
O referido álbum está disponibilizado para download, pelo site da própria rádio Colifata.
[...]
Em Viva la Colifata estão temas como a vida, a morte, a solidão, o amor, o tango e o fim do mundo. No melhor sentido, uma viagem!Pelo site da Colifata também é possível fazer colaborações, desde doações em dinheiro a outros tipos de apoio."
Fonte do texto e da imagem: blog Vinte Anos de Solidão

Direitos

Não é bem discriminação... é outra coisa qualquer que não sei bem o que lhe chamar

16:05

Mas por que considera que ser homossexual é ter um comportamento de risco? A pergunta não devia ser: Fez sexo desprotegido, independentemente da orientação sexual?

Todos os dados apontam no sentido de haver uma maior liberalidade do comportamento das pessoas que têm sexo com outros homens. E vou evitar usar a palavra homossexual, porque parece que não é politicamente correcto. Por causa do politicamente correcto, quase nos falta palavras para usar. Não posso falar de selecção de dadores, que me chamam Hitler. Nós não temos absolutamente nada contra os homossexuais. A doação de sangue é feita sem olhar a religião, a partidos, a nada. É feita porque há pessoas que precisam dela. Todo o esforço tem que ser o de encontrar o melhor sangue. Mas então toda a Europa, todo o mundo está enganado? Países muito liberais, como a Holanda ou a Suécia, estão enganados quando dizem que esse comportamento é de risco?

[...]

Assume que há uma discriminação, mas justifica-a por segurança.

Não discriminamos. Mas temos por obrigação garantir que fazemos tudo pela segurança. Mesmo sendo injustos para algumas pessoas que poderiam dar sangue mas que, na dúvida são excluídas. A malha é muito apertada. Quando uma pessoa se apresenta assumidamente como homossexual e quer dar sangue, eu interpreto como uma provocação. Quem quer vir dar sangue não vem com esta atitude. "


(Entrevista de Rute Araújo ao Presidente do Instituto Português do Sangue (itálico meu))

Fonte: jornal i online via Arrastão

Consumo

Earth Water

11:49

earth-water

A água embalada Earth Water é o único produto no mundo com o selo do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), revertendo os seus lucros a favor do programa de ajuda de água daquela instituição.

A nível nacional, a Earth Water é um projecto que conta com a colaboração da Tetra Pak, do Continente, da Central Cervejas e Bebidas, da MSTF Partners, do Grupo GCI e da Fundação Luís Figo.

Com o preço de venda ao público (PVP) de 59 cêntimos, a embalagem de Earth Water, como diz no rótulo, «oferece 100% dos seus lucros mundiais ao programa de ajuda de água da ACNUR».

Actualmente morrem 6 mil pessoas no mundo por dia por falta de água potável.

Com 4 cêntimos, o ACNUR consegue fornecer água a um refugiado por um dia.

Fonte: blog thesilentvoid

A água está à venda nos hipermercados Modelo e Continente.

Biosfera

Consumo sustentável

21:21


No passado dia 10 de Julho foi apresentado o portal www.consumosustentavel.org, enquadrado no projecto "Territórios Sustentáveis". Este projecto é coordenado pela associação Cores do Globo (Associação para a Promoção do Comércio Justo), é co-financiado pelo IPAD (Istituto Português de Apoio ao Desenvolvimento e conta com a parceria do ISU (Instituto de Solidariedade e Cooperação Universitária) e da Quercus (Associação Nacional de Conservação da Natureza).
No portal podemos encontrar informação acerca de práticas de consumo responsável e sustentável, bem como divulgação de iniciativas e de resultados de experiências feitas: " Para além de reflectirmos sobre os efeitos ambientais do consumo (a vertente mais popular no debate sobre a sustentabilidade), juntamos-lhe as preocupações económicas e sociais que se escondem por detrás das práticas de aquisição de bens" (Inês Cardoso, coordenadora do projecto).

Fonte: Alternativa (googlegroups)

Biosfera

Se vai à praia, dê uma ajuda

16:04

"Com a chegada do Verão e a abertura da época balnear, a Quercus lança um desafio aos seus voluntários: que nos ajudem a classificar as zonas balneares de todo o país durante as próximas três semanas.

Até ao dia 20 de Julho, pedimos-lhe que avalie a(s) praia(s) - costeiras ou fluviais - por onde passar, preenchendo e enviando-nos para este e-mail (voluntarios@quercusancn.pt) um pequeno formulário com os seguintes dados:

1 - Nome da praia e concelho onde se insere

2 - Data e período (a que horas, aproximadamente) em que esteve na praia

3 - Avaliação da praia - classifique os seguintes aspectos de 1 a 5 (sendo 1 Mau; 2 Medíocre; 3 Aceitável, 4 Bom e 5 Muito Bom)

3.1 - acessos à praia (estacionamento indevido de veículos nas dunas ou em zonas proibídas; pisoteio de dunas;...)
3.2 - grau de limpeza do areal
3.3 - grau de limpeza e condições das instalações sanitárias
3.4 - qual a data da última análise à água afixada (informação obrigatória - consulte painel à entrada da praia ou pergunte ao nadador-salvador)
3.5 - recipientes para recolha indiferenciada e/ou selectiva de lixo/resíduos
3.6 - presença de cães (não é permitida, excepto no caso de cães-guia para invisuais)

4 - A praia tem Bandeira Azul?

5 - Se puder, tire e envie-nos fotografias que ilustrem bons e/ou maus exemplos relacionados com os aspectos anteriores na(s) praia(s) em questão.

Com a contribuição de todos os voluntários de diferentes áreas do país, incluindo os arquipélagos dos Açores e da Madeira, a Quercus pretende fazer um levantamento real da qualidade das zonas balneares, que será resumido no final do mês de Julho num relatório a divulgar.

Contamos consigo!"

Fonte: Univa (Associação Académica da Universidade do Minho)

Html

Experiência em HTML

21:57

Este texto foi escrito em Html, com comandos simples que eu retirei daqui.
Consigo introduzir

parágrafos,

negrito,itálico.

Consigo fazer tabelas como esta










Primeiro nomeÚltimo nome
PatríciaFrança


E consigo até escrever endereços



Universidade do Minho

Campus de Gualtar

Braga



(Vou tentar fazer isto mais vezes.)

Mensagens

Letargo

17:26

Hoje quero fechar os jornais, desligar a televisão, o computador que me dá acesso à internet, o meu aparelho de som, todas as rádios.
Quero fechar no escritório todos os livros científicos, literários, infantis; tirar da minha beira todos os filmes antigos, modernos, bons ou maus e retirar das paredes os quadros desenhados ou pintados.
Quero ficar inerte, alheia, até de mim.
Quero retirar da minha presença toda a ideologia. Toda a ideologia. Até de mim.
Ficar quieta, de olhos fechados, sem pensar, sem sentir nada.
Hoje compreendo apenas os suicidas (e Camus não é para aqui chamado).

Bom... posso tolerar a poesia... mas sem ideologia...

LETARGO

estou sentado na vida
a aguardar o regresso da poesia

caíram-me dos bolsos centenas de palavras
e devem andar por aí a pedir à vassoura do vento
que volte a reuni-las

vejo crescer as árvores
acenarem entre si
sem nada quererem saber da minha inércia vegetal
entrecruzam-se as aves transitórias
esquecidas de tudo o que sonhei
cavalgam-se mutuamente as nuvens
ignorantes da nuvem plúmbea que me atravessa

e tudo passa indiferente
arrastando o peso do universo
e a lenta celeridade do tempo
que só tem por emprego esquiar brandamente
para um precipício inexorável
no fundo da planura

também eu devo ter um emprego qualquer
mas sinto-me sem préstimo
ninguém me explicou tarefa nenhuma
nem eu já sei como ser útil
a não ser para construir
a quotidiana futilidade

[...]

Anthero MONTEIRO (2003) Desesperância. Gaia: Corpos Editora, p. 45

África

Queres dar um bom uso a material media usado?

12:51

Há umas semanas atrás tomei conhecimento da existência da Association des Femmes des Médias du Sud Kivu (AFEM-SK). Se vêm a este blog regularmente devem ter reparado que o símbolo da associação passou a estar inserido na zona lateral direita deste blog.
A AFEM-SK é uma organização não governamental, criada em 2003 na República Democrática do Congo, cujo objectivo principal é promover os direitos e desenvolvimento das mulheres através dos media. Segundo vem especificado através dos seus blogs (em francês e em inglês), esta associação procura objectivos claros, como encorajar a liberdade de expressão das mulheres; lutar por direitos iguais; lutar pela paridade de género qualitativa e quantitativa nas organizações existentes;facilitar o envolvimento das mulheres na boa governação e na promoção de paz; promover actividades para o desenvolvimento das mulheres, dando-lhes acesso aos meios de comunicação disponíveis; lutar, através dos media, contra todas as formas de violência sexual; promover a paz através dos media.

Como associação sem fins lucrativos a AFEM-SK sobrevive à custa de donativos. Neste momento a associação está a aceitar alguns materiais de trabalho indispensáveis, a saber
-2 computadores portáteis;
-2 computadores de escritório com acessórios;
-uma impressora;
-uma fotocopiadora;
-uma máquina fotográfica;
- uma câmara de filmar;
- 4 gravadores de som com acessórios (microfone, cabo de registo, ...).

Para mais informações podem contactar directamente a AFEM-SK pelo e-mail afemsk@sudkivu.org.

__________

A Répública Democrática do Congo foi descrita pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas como o pior país do mundo para se ser mulher, segundo a Women'seNews. Ali, só na parte leste do país, uma média de 1,100 meninas e mulheres são violadas todos os dias, apesar da presença da maior força de paz das Nações Unidas no mundo.

Cooperação

Da diplomacia

17:34



"[...] America is not the crude stereotype of a self-interested empire [...]

For we have learned from recent experience that when a financial system weakens in one country, prosperity is hurt everywhere. When a new flu infects one human being, all are at risk. When one nation pursues a nuclear weapon, the risk of nuclear attack rises for all nations. When violent extremists operate in one stretch of mountains, people are endangered across an ocean. When innocents in Bosnia and Darfur are slaughtered, that is a stain on our collective conscience. That is what it means to share this world in the 21st century. That is the responsibility we have to one another as human beings.

And this is a difficult responsibility to embrace. For human history has often been a record of nations and tribes — and, yes, religions — subjugating one another in pursuit of their own interests. Yet in this new age, such attitudes are self-defeating. Given our interdependence, any world order that elevates one nation or group of people over another will inevitably fail. So whatever we think of the past, we must not be prisoners to it. Our problems must be dealt with through partnership; our progress must be shared. [...]"

Discurso de Barack Obama no Cairo a 4 Junho de 2009. Ler na íntegra aqui.


Fonte: USToday

Cinema

Dia Mundial do Ambiente

17:02



Hoje comemora-se o Dia Mundial do Ambiente.

Para assinalar esta data, hoje irá estrear, em todo o mundo, o documentário Home- O mundo é a nossa casa, realizado pelo realizador francês Yann Arthus-Bertrand e que contou com o apoio do grupo francês PPR.
O filme pretende ser um alerta para os principais temas ambientais e sociais que afectam o mundo de hoje. É um filme com uma mensagem clara: é urgente mudar o nosso relacionamento com o ambiente e os nossos hábitos de consumo.

Todas as receitas angariadas pela venda de produtos relativos ao projecto Home serão doadas à organização Goodplanet.

O filme Home- O mundo é a nossa casa pode ser visto gratuitamente nos seguintes sítios:

Cinema, em exibição apenas no dia 5 (Cinemas ZON Lusomundo)

Televisão (a RTP 2 exibe o filme pelas 20h30)

DVD e BlueRuy (ambos à venda em exclusivo na Fnac, que se associa mundialmente a este acontecimento). Na Fnac de Braga o filme será exibido às 21h00.

Internet (http://www.youtube.com/homeproject).


Fontes: Antena 3, http://www.youtube.com/homeproject

Arte

Direitos da obra

22:10


Na resposta ao post Copyright e empréstimo bibliotecário do blog Blogjacking fui tentar perceber o que está em causa.
Se por acaso tropeçarem nas notícias e reacções sobre o assunto dos direitos de autor, irão encontrar comentários como os seguintes:
"Apropriar-me do esforço mental e físico de uma pessoa é completamente desajustado"
Rui Reininho

"o que está em causa é tão somente o modo como se concebe o papel dos criadores e o direito de autor. Infelizmente ainda há quem pense - em certos casos a começar pelo Estado - que o acesso à cultura se pode fazer à custa do trabalho dos autores. Ainda há quem pense que o trabalho dos autores, ao contrário do que acontece com o trabalho de qualquer cidadão, pode e deve não ser pago. Como se fosse uma espécie de dádiva divina que deve ser distribuída por todos gratuitamente." Sociedade Portuguesa de Autores
Acho que ninguém discordará destes argumentos. De resto, o Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos também se baseia neles ao defender no ponto 2 do Artigo 67º que
"2 – A garantia das vantagens patrimoniais resultantes dessa exploração [da obra por parte do autor] constitui, do ponto de vista económico, o objecto fundamental da protecção legal."
Todos os autores têm o direito de viver do fruto do seu trabalho, como qualquer outra pessoa. Ninguém deveria, sem consequências, apropriar-se do esforço físico e mental de quem quer que seja. Mas o que está em causa é a apropriação, por parte dos beneficiários da lei que protege os direitos de autor, do que quer que seja que entendam por obra.
Antes de mais, é necessário esclarecer o que são direitos de autor. Ora o Artigo 9º do Código do Direito de Autor e Direitos Conexos diz o seguinte
"1 – O direito de autor abrange direitos de carácter patrimonial e direitos de natureza pessoal, denominados direitos morais.
[...]
3 – Independentemente dos direitos patrimoniais, e mesmo depois da transmissão ou extinção destes, o autor goza de direitos morais sobre a sua obra, designadamente o direito de reivindicar a respectiva paternidade e assegurar a sua genuinidade e integridade."
Parece-me esclarecedor. E, agora, importa estabelecer o que é que se entende por obra. E o Artigo 10º do mesmo Código diz o seguinte:
"1 – O direito de autor sobre a obra como coisa incorpórea é independente do direito de propriedade sobre as coisas materiais que sirvam de suporte à sua fixação ou comunicação.
2 – O fabricante e o adquirente dos suportes materiais referidos no número anterior não gozam de quaisquer poderes compreendidos no direito de autor."
O ponto 2 só pode ser esclarecido depois de esclarecido o ponto 1. Mas o que significa exactamente "a obra como coisa incorpórea"? Como existe a obra sem suporte material? Existe na mente do autor? Na minha mente? Num esforço de telepatia controlado entre eu, o autor, os legisladores e toda a comunidade de leitores? E se existe na mente, é uma ideia? Porque se é uma ideia, não está coberta por direitos de autor. O Artigo 1º do mesmo código vem, precisamente, salientar que
"2 – As ideias, os processos, os sistemas, os métodos operacionais, os conceitos, os princípios ou as descobertas não são, por si só e enquanto tais, protegidos nos termos deste Código."
Confusos?
Mas o.k., digamos que as obras não são ideias, digamos que são "criações intelectuais do domínio literário, científico e artístico, por qualquer modo exteriorizadas" (ponto 1, Art. 1º). Mas a seguir vem algo como isto: a "obra é independente da sua divulgação, publicação, utilização ou exploração" (ponto 3, Art. 1º). Note-se que neste último ponto não está em causa a publicação da obra, não há referência à necessidade de a obra ter de existir como coisa reconhecida publicamente.
Primeiro é dito que as obras são "criações por qualquer modo exteriorizadas", por outros lado são independentes da sua divulgação, publicação? No mínimo pouco claro.
Ideias e criações intelectuais parece-me exactamente a mesma coisa, mas... pronto, farei o esforço e direi que são coisas diferentes.
Então, quando é que uma ideia passa a criação intelectual? Quando é exteriorizada? Mas, então, se são exteriorizadas as obras são dependentes da sua divulgação, publicação. Deixam de ser coisas incorpóreas e passam a ser dependentes do seu suporte material e, por consequência, dependentes do direito de propriedade que qualquer cidadão detém sobre essas, suas, coisas materiais.
Isto significa, num exemplo simples, que eu, que comprei um livro, sou proprietária do mesmo, na sua totalidade e, como proprietária do meu livro material, sou também proprietária da obra que se materializa no meu livro. A obra como coisa incorpórea não existe no meu livro. Existe o conteúdo físico deixado pela tinta preta (ou qualquer que seja a cor) que o acto de impressão deixou ali. A obra como coisa incorpórea existe em qualquer outro lugar - olhem, no mundo 3 de Karl Popper - mas não está no meu livro. Ele não é ao mesmo tempo coisa material e coisa imaterial. No meu livro está, se quiserem, uma reprodução da obra. E nenhuma reprodução da obra pode, com rigor, ser a obra original.


Mas eu gostava de pegar novamente nos argumentos da Sociedade Portuguesa de Autores sobre a necessidade de os autores serem pagos pelo trabalho que fazem, argumentos com os quais, como disse, concordo. Concordo eu e, creio, concordará qualquer cidadão de bom senso. Mas não são os autores, os artistas e afins pagos pelo trabalho que fazem? Não recebem parte dos lucros na venda das suas obras às editoras? Não recebem também parte dos lucros das vendas? Porque razão hão-de querer cobrar vezes sem conta, aos seus leitores (que pagaram já o livro, disco, filme, ...), ad aeternum, pelo trabalho que fizeram uma única vez e venderam? E já não falo sequer do trabalho científico, feito em instituições públicas, sustentado pelo Estado.
Não ponho em causa o direito moral, o mérito a quem o merece, embora compreenda os argumentos de quem não o tolera também. Mas a usurpação, o feudo, a renda, assegurados na lei do direito de autor, sobre uma obra tornada pública, faz-me pensar duas vezes acerca dos argumentos dos seus signatários.
Se os autores são mal pagos pelo seu trabalho, se as editoras/discográficas usurpam o fruto do seu trabalho, se ninguém compra livros, discos, filmes, eu diria que está na hora de mudar de editora/discográfica, de estratégia ou de... profissão. Veja-se aqui e aqui o que aconteceu há um mês atrás.
Outro mundo é possível, outro mundo está a chegar. Vejam-se os exemplos dos Radiohead, dos Coldplay, dos Wilco, dos Nine Inch Nails, e outros.


Claro que uma obra literária e musical existe como coisa imaterial. Mas pertencerá a obra ainda ao autor, uma vez materializada e tornada pública, uma vez entregue e/ou vendida para ser lida/ouvida/vista?
Os estudantes de literatura conhecem, com certeza, o debate que ocorria sempre nas aulas de Teoria de Literatura acerca do trágico dilema da intentio. Eu falo em trágico dilema da intentio porque, à medida que avançávamos nos nossos estudos, começávamos a perceber que a intentio tem mais ramificações do que aquelas que nos queriam fazer crer. A intentio auctoris, a intentio operis e a intentio lectoris correspondem a variantes elementares que se escondem ou realçam no jogo da interpretação. Dizia Umberto Eco - a quem furtei os termos em latim atrás expostos - que "os limites da interpretação coincidem com os direitos dos texto (o que não quer dizer que coincidam com os direitos do autor)" (Umberto Eco, Os limites da Interpretação).
Ora, o que tem a teoria da literatura a ver com direitos de autor ou copyright? Tudo. Uma vez publicada, materializada, a obra já não pertence ao seu autor. Torna-se pública, pertença de quem a detém em que objecto físico for. E sujeita ao escrutínio público, para o bem e para o mal. 
Talvez vá ser considerada uma heresia usar o poema de António Branco para o propósito deste post, mas, ainda assim, aí vai:
Parte, meu poema, ponte incerta,
Dança com a festa das leituras:
Nota como aquele te soletra,
E outro diz-te curto sem cesuras.

Valsa cada antítese que é metáfora,
Recebe cada imagem que não saibas:
Os versos que te prendem são diáfora,
E nada há em ti que em ti não caiba.

Medido, desventrado, corrompido,
Amado, surpreendido, ignorado,
Sentido, acusado, reduzido:
Aceita o que te espera desse lado.

Já não tens pai, perdeste a casa,
nada te protege senão tu.
Não posso recompor as tuas asas:
Desventra, filho meu, o teu casulo. (*)

BRANCO, António (1996). "Epílogo" in Fugidia comunhão. Lisboa: Edição do autor, p. 11 [sublinhado meu].

(*) Poema publicado ao abrigo da alínea d) do ponto 2 do Artigo 75º do Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos.

Comércio Justo

" A corda dos Doze Nós"

00:31



No passado dia 9 de Maio, conforme fiz referência aqui, a Alternativa - Associação para a Promoção do Comércio Justo, em conjunto com a Livraria 100ª Página, promoveu, em Braga, uma actividade dirigida a crianças e seus familiares: "A Corda dos Doze Nós". A actividade consistia em ordenar doze fotografias, correspondentes a doze pormenores importantes relativos ao Comércio Justo. Esses pormenores podiam ser encontrados ao longo do trajecto entre a livraria e a loja. Parecia divertido e assim foi.
Hoje ficaram conhecidos os vencedores o meu pai e a minha filha e as prendas: um jogo educativo que explica os processos, por vezes obscuros, do mercado do algodão e uma t-shirt que foram para o meu papi e para a minha filha. Também houve direito a rebuçados.
Parabéns à Alternativa pela criatividade e dedicação!


Ciência

Conseguem ver?

11:40

Sempre desconfiei que havia alguma coisa de errado com a forma como eu vejo as cores. Quando era criança lembro-me de confundir, nos desenhos que tinha de pintar, o verde com o castanho ou o roxo com o azul. Algumas vezes chegava ao ponto de confundir verde com amarelo e até rosa com laranja. Era grave, pensava eu, infeliz e ostracizada pela minha ignorância das cores.
Mais tarde fui tentando desculpar a minha ignorância com a justificação de que o espectro das cores é extremamente complexo e que as cambiantes são profundamente mais originais do que a classificação que lhe atribuimos. Se olharmos bem, é praticamente impossível precisar onde começa o verde e acaba o azul, ou onde acaba o castanho e começa o verde. Fiquei feliz com esta justificação, tanto mais que ela foi confirmada pelo que li depois sobre categorização e sobre a teoria do protótipo, pressuposto essencial em Semântica Cognitiva. Havia verdes mais verdes que outros verdes e roxos mais roxos que outros roxos. E os roxos que eu confundia com os azuis e os verdes que eu confundia com os castanhos pertenciam a uma posição afastada dos protótipos das cores primárias que ninguém confunde.

Feliz estava eu por me achar novamente normal quando, há um ano atrás, numa experiência com tintas que fiz quando estava a ensinar as cores em inglês a meninos do 1º ciclo, me apercebi que todos eles conseguiam ver roxo onde eu só via azul (tínhamos juntado tinta azul escura e um pouco, mínimo, de magenta) e que conseguiam ver verde onde eu via apenas castanho (tínhamos juntado azul escuro com amarelo). Para os meninos foi certamente divertido, mas para mim foi, no mínimo, desanimador. Podia lá ser!? Não havia um único menino que confundisse as cores. E todos foram peremptórios: azul é azul, roxo é roxo. Não há roxos que são azuis nem verdes que são castanhos. Pois claro, pensava eu, eles dizem que roxo é roxo porque sabem que quando se junta magenta com azul é essa cor que se obtém. Estão condicionados a pensar e a ver assim porque foram a isso forçados pela lógica.
Ora, eu, que passara a minha infância a tentar fazer parte dos meninos normais que sabem distinguir verde de castanho ou roxo de azul não me ia dar por vencida. E reuni um conjunto de lápis e marcadores que me confundiam. Pois, já estão a ver o resultado: todos os meninos, sem hesitar, agruparam roxos de um lado e azuis de outro.
Pertencia novamente à categoria dos analfabetos da cor.

Ontem, através do blog fazendavirtual chego ao site Opticien-lentilles.com que disponibiliza um teste online para reconhecer a nossa percepção das cores. Segundo o teste eu tenho 45% de probabilidade de sofrer de daltonismo. O indicador de deuteranomalia registava 14% e o indicador de protanopia indicava 31 %.
É possível, pensava eu, tentando novamente justificar-me, na tentativa de me incluir novamente no grupo "os que conseguem distinguir azul de roxo e verde de castanho", é possível que a luz no ecrã, os reflexos e a luminosidade sejam variantes estranhas e que estejam a condicionar os resultados. Deixo aqui as imagens que eu não consegui acertar, na tentativa de que alguém me diga que também não consegue ver coisa nenhuma que não seja uma grelha. Talvez ainda haja esperança!
As respostas certas estão assinaladas a verde (eu acho). Se quiserem fazer o teste na íntegra podem fazê-lo aqui. E, já agora, aí vão mais dois testes: http://www.colblindor.com/color-arrangement-test, http://www.colblindor.com/rgb-anomaloscope-color-blindness-test/.



1 triângulo atrás da grelha
uma grelha apenas
1 círculo atrás da grelha



1 rectângulo atrás da grelha
uma estrela atrás da grelha
uma grelha apenas




uma letra atrás da grelha
uma grelha apenas
o número 8 atrás da grelha




uma grelha apenas
a letra A atrás da grelha
a letra V atrás da grelha




uma grelhas apenas
1 quadrado atrás da grelha
1 triângulo atrás da grelha



uma grelha apenas
a letra T atrás da grelha
a letra M atrás da grelha


Arte

Algumas alternativas para rádios online gratuitas

12:33


Do grupo Bring back the free last.fm na last.fm recolhi algumas opções para continuar a ouvir radio online gratuitamente. Aí vão:

http://listen.grooveshark.com/
http://www.deezer.com/
http://www.imeem.com/
http://www.finetune.com/
http://www.esnips.com/
http://musicovery.com/
http://shoutcast.com
http://somafm.com/

Mais opções em http://www.last.fm/group/Bring+back+the+free+last.fm/forum/119952/_/517524.

Direitos

Será justo pagar um serviço para o qual contribuí?

18:52

Devo dizer que fiquei surpreendida com a mensagem da last.fm informando-me que a minha avaliação gratuita naquele site acabava de expirar. Para continuar a usufruir da rádio tenho que ... pagar.
Concordo que os sites precisem de dinheiro para se desenvolverem e para sobreviver e até concordo com as assinaturas, mas a last.fm é um caso muito peculiar em que a exigência de uma assinatura é simplesmente infundada.
A last.fm existe muito graças aos seus usuários. Não fossem eles, e não estou a falar de assinantes, não fossem os usuários da last.fm ela nunca conseguiria disponibilizar a quantidade absolutamente inacreditável de músicas que dispõe. Não fosse o voluntarismo dos seus usuários, a last.fm não conseguiria actualizar os perfis dos músicos que mantém em linha. Não fosse a boa vontade dos ouvintes, a last.fm simplesmente não existia tal como ela existe hoje.
Depois de eu, eu, actualizar o perfil de músicos, de eu ter contribuído, com o scroobbling ligado enquanto ouvia os meus próprios CDs no meu próprio PC, para aumentar a quantidade e a qualidade das músicas da last.fm, acho absurdo a exigência de uma assinatura paga.
Invadem o nosso computador com os seus slogans, viciam-nos, tornam-nos dependentes, abusam do nosso voluntarismo e boa vontade e depois cobram-nos o serviço? A sério? Sinto-me explorada. Recuso-me!

Espaços que nasceram gratuitos, desenvolvidos pelos usuários de forma voluntária e voluntariosa, deveriam permanecer gratuitos. É como se agora quisessem cobrar assinatura para aceder à Wikipedia. Não está certo.

Honestamente não me recordo de ter sido avisada de que a minha conta tinha carácter experimental quando procedi à inscrição no site. Se alguém acha que me está a escapar alguma coisa e que a minha reclamação é blasfémia e despropositada, por favor, esclareça-me.



Actualização: A justificação da last.fm para a mudança de política aqui.

Ontologias

1ª edição da Linguamática

17:05


Acaba de ser lançado o primeiro número da revista Linguamática.
Como vem especificado no próprio site, a Linguamática é "uma revista aberta sobre o processamento de linguagens naturais, com especial atenção às línguas faladas na Peninsula Ibérica, como sejam o Português, Galego, Catalão, Castelhano, Basco, Mirandês ou Aranês."

Bem sei que a auto-promoção não fica muito bem, mas neste caso, como é a primeira vez, penso poder ser desculpada. Assim, não deixem de visitar o site da revista e dar uma vista de olhos ao meu artigo intitulado "Conceitos, classes e/ou universais: com o que é que se constrói uma ontologia?".
Boas leituras.

Direitos

Habitat for Humanity Braga procura famílias para novos projectos de reparações

16:34

"A Habitat está a aceitar candidaturas para efectuar reparações e reabilitações de casas para famílias carenciadas no distrito de Braga. Com a intenção de chegar a cada vez mais famílias, a Habitat decidiu incidir a sua acção na recuperação de casas degradadas; com esta opção pretendemos não só facultar a melhoria da qualidade de vida destas famílias como contribuir para a renovação do parque habitacional do nosso distrito e a manutenção da população no seu local de origem.
Todas as famílias interessadas poderão candidatar‐se dirigindo‐se às nossas instalações que se situam na
Av. da Liberdade nº 505 2º andar, ou telefonar para 253 204 280."

Fonte: Newsletter Maio 2009, Habitat for Humanity Braga

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