Comunicação Social

A propósito da WikiLeaks

14:51


A propósito da WikiLeaks, vale a pena ler o artigo de Miguel Carvalho na Visão. Deixo aqui um excerto:

"Discute-se agora para onde vamos.
Dou uma ajuda: esqueçam Marx e Steve Jobs, Che Guevara ou Bill Gates. Ou então misturem tudo isso e mexam bem. O presente e o futuro escrevem-se já, para o bem e para o mal, a uma velocidade furiosa, encriptada e subversiva. Em coffee-shops, caves medonhas, sótãos ou num vão de escada, gente rebelde, de gola alta ou mochila a tiracolo, de ganga coçada e fato-de-treino, com uma ginástica mental sem precedentes e uma invisibilidade quase total, terá o refinamento, os meios e novas velhas causas pelas quais lutar. A primeira guerra cibernética começou. Virão mais. Como diria o outro, habituem-se."
Antes a verdade que as mentiras convenientes. Não há nada mais perigoso para a paz e segurança internacionais que a manipulação jornalística, política e ideológica da História.

Direitos

10 de Dezembro - Dia Internacional dos Direitos Humanos

09:50

Dizemos que não temos tempo,
Dizemos que não vale a pena,
Dizemos que há demasiado a fazer,
Dizemos que já fizemos o suficiente,
Dizemos que é para depois,
Dizemos "se alguém fizer...",
Dizemos "é impossível!",
Dizemos que a culpa é da corrupção,
Dizemos que a culpa é do Outro,
Dizemos que é reaccionário,
Dizemos que é subversivo,
Dizemos que é hipocrisia,
Dizemos que tudo vai permanecer igual,
Dizemos que é utopia,
Dizemos que é insensatez,
Dizemos que são aspirações de criança,
Dizemos que não temos voz,
Dizemos que não temos força,
E seguimos o nosso caminho.

Hoje, nem que seja por hoje, só por hoje,
agarra uma luta,
defende uma causa,
ou, pelo menos,

MANTÉM-TE INFORMADO,
MANTÉM-TE INFORMADO e CRÍTICO.


América latina

"Quer um Brasil melhor? Bota fé na gente."

00:33





Furtei o comentário que exponho a seguir a Erivan Santiago, escrito a propósito das mais recentes notícias de violência no Rio de Janeiro, e a propósito destas fotografias sobre o assunto:
Gostei do MARIAFRO mas não gostei do comentário "Quebrar barraco na Vila Cruzeiro é fácil". Tá de brincadeira, né?
Quero ver quebrar todas as trincheiras e bunkers desses e de outros bandidos (e isso também passa por quebrar o sigilo bancário e outros sigilos de muitos bandidos, como vem quebrando um certo cara da Austrália).
O Brasil precisa é de uma boa reforma urbana e agrária. Uma reforma comprometida com o interesse do cidadão e não com o interesse do capital. Cidade nenhuma pode ser maravilhosa com uma população de mais de 6.000.000 de pessoas (segundo o mais recente censo do IBGE).
Já é hora de acabar com as favelas, de criar condições para o desenvolvimento das pequenas e médias cidades, criar condições para o desenvolvimento do pequeno e médio produtor rural. Já é hora de criar condições para evitar a fuga para os grandes centros urbanos e tratar de reverter o processo.
E eu não falo só do retorno à casa. Há muita gente que nasceu no Rio mas que gostaria de tentar a vida num outro Brasil; muita gente que até mora fora do país e que tá doida para voltar e investir suas economias, seus esforços e seu potencial em qualquer pedacinho dessa terra que lhe paraça credível. Nosso país é todo maravilhoso!
O cidadão precisa de qualidade de vida; o capital precisa de quantidade de gente.
O Rio precisa de reformas estruturais e não pode ser visto fora do contexto regional e nacional. O Brasil precisa de reformas estruturais, … inclusive para melhorar o resto do mundo.
Tá mais do que na hora de dar um basta nesse poder paralelo que impera nas favelas mas que lá não mora. Quer mesmo vencer o tráfico nas favelas? Dá trabalho, formação e dignidade ao favelado. Investe nos jovens e protege a todos.
O trabalho de proteção já começou mas merece severas críticas. Uma delas é que foi executado com emoção do civil (sob a influência do medo, da pressão da mídia e do momento político) e concebido por miolo de militar (onde casualties e "baixas inevitáveis" são aceitas com uma certa naturalidade).
A verdade é que, embora urgente, essa operação – eminentemente militar – não poderia ter sido iniciada sem a evacuação de toda a população daquela área (sim, um enorme trabalho que exigiria um grande investimento em recursos humanos e financeiros, planejamento adequado, muito contrôle, muita ordem e cuidados próprios de uma situação de conflito armado). A população não poderia jamais - de forma alguma – estar exposta como se encontra. Sim, nós estamos a violar a lei, o Direito Internacional Humanitário, e nós vamos, sim, ter causalities. Mas essas «baixas» serão sempre vidas, vidas que poderiam e que deveriam ser protegidas e conservadas.
E depois da ocupação, o que vamos fazer com o pequeno soldado, o sinaleiro e o jovem distribuidor de drogas no varejo? Vamos esquecer que, dada a nossa omissão, muitos foram obrigados a trabalhar para o tráfico ou seduzidos pelo dinheiro e pelos encantos do traficante? Vamos esquecer que muitos deles são viciados e necessitam tratamento adequado? Vamos botar todo mundo na cadeia, tratá-los com o Sistema de Justiça Penal que nós temos ou o quê?
O que vamos fazer depois da invasão e da caça aos tesouros? Quem será o novo dono da bola? Ninguém mais vai querer vender e comprar drogas e armas nas favelas do Rio de Janeiro?
Que política melhor que a da inclusão social?
Quer acabar com o favelado? Dá condições para ele se desenvolver.
Quer um Brasil melhor? Bota fé na gente.

África

De solidariedade e utopia

23:22

2001 Suai

Foto emprestada de Sérgio Gaspar.


Há tempos que queria escrever sobre solidariedade. O tema é-me caro e por isso demorei a escrever este post.
Se tivesse de recordar a origem do meu interesse por causas sociais eu terei que ser justa e recuar até à minha infância. Eu fui educada num colégio privado católico, administrado e gerido por uma congregação de freiras franciscanas. Esse colégio, para além da maioria dos alunos que o frequentava em regime de externato, como era o meu caso, albergava, de vez em quando, dois pares de meninas oriundas de famílias problemáticas, que toda a gente julgava órfãs. É curioso porque, na minha cabeça, eu não pertencia ao lado dos meninos do regime de externato. Por razões que agora não interessam, na minha cabeça, eu pertencia ao internato; eu fazia parte das meninas órfãs que viviam ali, ao lado dos desprotegidos. Também nesse colégio havia uma ordem pré-estabelecida que vigorava no sentido de impor a ordem e a obediência. A vida no colégio assemelhava-se, por certo, à vida de um qualquer mosteiro. Tudo tinha uma ordem e um horário. Cada irmã tinha a sua função, havia hierarquias e lembro-me especialmente de uma irmã pequenina que nos chamava todas as tardes para irmos rezar o terço na capela do colégio. Não era um ritual obrigatório, mas, o hábito tornou-o assim, de tal forma que, na minha cabeça, negá-lo era quase pecado. Sim, o pecado, essa noção do pecado, que nos tolda o discernimento e a capacidade crítica, ao impor-se pelo medo (muitas coisas haveria a dizer sobre o pecado... fica para outra altura). Foi, precisamente, com esta irmã pequenina, que eu conheci a Audácia, uma revista católica que tinha, e tem, por objectivo, divulgar as missões dos missionários combonianos em países pobres de África.
Mais tarde, na visão de uma marxista de 18 anos, como fui (militante aguerrida e praticante), viria a entender aquilo como pura propaganda católica, ao serviço das forças capitalistas que se queriam impor nas colónias africanas. Adiante...
De tantas histórias ouvir desses missionários combonianos, eu comecei a crer que também eu seria missionária. Mais, seria freira - pensava eu - ao serviço daquelas causas e lutaria pelos pobres, fracos e desprotegidos. Mais tarde abandonei a pretensão de ser freira, porque me diziam que as freiras são casadas com Deus e filhos de Deus só haveria um por toda a humanidade. E eu queria trezentos filhos. Claro que, na altura, para a dissuasão da ideia de vir a ser freira também ajudou um rapazinho mais velho que teimava em desvituar-me. Mais tarde veio a total desilusão com todo o sistema do catolicismo, com o reconhecimento daquilo que mais tarde viria a ter um nome: a pedofilia. Eu conhecia-a sem a reconhecer, mascarada de prepotência, autoritarismo e irracionalidade, imposta pelo medo. Hoje, os media transformaram-na numa banalidade.
Como me diz um amigo meu, eu tomei a mensagem e esqueci o mensageiro. A minha noção de solidariedade nasceu, por muito que me custe dizê-lo, no seio de uma educação católica reaccionária, obscura e totalmente opressora.
A adolescência, claro, foi passada a revoltar-me contra o sistema, contra uma cidade velha, preconceituosa e hipócrita; andava a tentar provar a mim e aos outros que toda a forma de autoridade é reaccionária, desnecessária e violenta. Eu via-a assim. E todas as desculpas eram boas para enfiar o nariz nos livros da biblioteca pública - ainda não havia Internet - a pesquisar sobre autoritarismo, liberdade e anarquia. Tive nas mãos um dos primeiros livros publicados sobre anarquia em Portugal: o livro O ABC da Anarquia, de Edgar Rodrigues, um dos poucos autores que se dedicou ao estudo dos movimentos anarquistas em Portugal. Fui, nesse tempo, moldada pelo som do heavy metal, do black metal, fui quase punk, não fosse a minha total aversão à violência, mesmo que visual. Ainda andei com brincos no nariz, unhas pretas e calças rasgadas: uma violência para a época, na cidade provinciana dos padres e arcebispos.
Às tantas, inevitavelmente, tropecei no marxismo, e por consequência no comunismo; fiz-me militante. Ajudei a convocar manifestações, a elaborar panfletos... participei em manifestações. A certa altura tornou-se difícil conciliar comunismo com liberdade pessoal e desertei. No comunismo, lamento dizê-lo, ou seguimos a lógica do grupo, ou estamos excluídos. O indivíduo, ali, só existe como ponto débil e disforme no meio da massa. Não tem vontade própria. Gostava de poder dizer que muita coisa mudou desde 1995, mas ainda hoje é assim...
Nessa altura já conheci a Amnistia Internacional, fiquei membro, até hoje. De entre todas as ONG que fui conhecendo depois, só a Amnistia me parecia sempre coerente, arrojada e libertadora. Liberdade era a palavra de ordem.
Na universidade, tive o privilégio de poder ler com prazer os autores clássicos ingleses de literatura utópica: Shakespeare, More, Burgess, Huxley, Orwell. Fiquei fã de literatura utópica. Estudei-a criticamente, analisei-a à lupa... fui pelo caminho da Filosofia. Conheci Rabelais, Erasmo, Voltaire, Nietzsche e o nihilismo, Sartre e o existencialismo, Beauvoir e o feminismo. E, depois... voltei à infância. Que querem? O cristianismo é a maior utopia do ocidente e a única que ainda sobrevive. Sou uma ateia utópica e crente. Crente no ser-humano.
Mais tarde fui para Timor-Leste com uma missão, a mesma que eu tinha lido na revista Audácia na minha infância. Timor foi o primeiro lugar onde, pela primeira vez, não me sentia estranha e estrangeira. Ali eu era quem eu era. Ali eu tinha sentido. É uma experiência avassaladora e inquietante.
Para este post interessa o facto de, ao ver de perto o que faziam muitas das organizações que eu conhecia apenas dos relatos que ia lendo em Portugal - UNICEF, OXFAM, ONU, Cruz vermelha -, ter reconstruído ali todo o meu conceito de solidariedade. O conceito anterior alterou-se. A solidariedade deixou de ser uma palavra abstracta para se tornar algo de muito concreto e real. O impacto da realidade devolveu-me ao mundo e pude sentir, pela primeira vez, que fazia parte de qualquer coisa de real e extraordinária. Das pessoas que conheço e que fizeram comigo, em 2000, a viagem do aeroporto de Díli até ao ACAIT, o edifício onde ficava localizada a Missão de Portugal, nenhuma se esquece do silêncio avassalador que se sentiu no carro ao atravessarmos a cidade até ao centro; era uma cidade inteira reduzida a cinzas: edifícios, ruas, vegetação... Era preciso ter vivido aquilo para saber.
É por este momento que a solidariedade me é cara. Outras coisas foram-se juntando: um ano no Burundi, uma passagem por África do Sul, Marrocos, Quénia, Brasil... há lugares que se tatuam na nossa personalidade, Timor e África são dois deles.
Quando hoje oiço dizer que a solidariedade é reaccionária, entendo o porquê, mas discordo, sem revolta. Ouvia há tempos um dirigente partidário de esquerda revoltar-se contra a existência de instituições de solidariedade social ou iniciativas como o Banco Alimentar contra a Fome. Entendo o que está por trás da revolta. Por vezes, a solidariedade mascara-se de bom samaritano para confirmar e dar razão à ordem estabelecida, ao status quo, que assenta na tradição milenar da pirâmide social, na divisão de classes sociais e na deturpação daquilo que deveria ser trabalho justo e um direito fundamental. De facto, se o contrato social funcionasse como deveria, não faria sentido existir nenhum banco alimentar contra a fome, ou outra ONG do género em Portugal ou no mundo.
Mas uma luta não invalida a outra: uma é localizada e imediata, a outra é mundial e a longo prazo. Como diz o meu marido, é certo que existe corrupção, jogos de poder, imperialismo, interesses macabros, por trás de instituições como a ONU ou outras, mas, se não chegar às populações carenciadas o terço da ajuda que essas instituições recebem dos países que dela fazem parte (bem certo que o restante é desviado para interesses subreptícios), se nem sequer essa pequena ajuda chegasse aos lugares onde ela chega hoje, se isso não acontecesse, o cenário seria 100 vezes pior.
Num mundo perfeito, não haveria guerras, não haveria fome, não haveria violações de mulheres e crianças... ou qualquer outra violação de direitos humanos. Num mundo perfeito todos viveriam em paz e abundância. Num mundo perfeito, não haveria armas, polícias, ladrões. Num mundo perfeito não haveria fome, carência de médicos, de habitação. Num mundo perfeito, não haveria revoltas sociais, injustiça, medo, autoritarismo, corrupção. Num mundo perfeito, não haveria deuses, padres, impérios. Num mundo perfeito todos os pensamentos discordantes seriam aceites e a tolerância e respeito por pessoas e pelo ecosistema seria real. Num mundo perfeito, aceitar-se-iam as diferenças como preservação da diversidade e aceitar-se-ia o Outro pelo simples facto de estar no mundo e existir.
E porque vivemos apenas no melhor dos mundos possíveis, como dizia Cândido, o optimista, a solidariedade, qualquer que seja a sua forma e manifestação, é imprescindível. Patricia dixit.


Comunicação Social

Entrevista a Samy Kamkar, na revista Visão

10:28

Entrevista a Samy Kamkar, um hacker que se tornou famoso por protagonizar um ataque à Myspace para ler, hoje, na Visão (Visão, Nº 921, 28 de Outubro a 3 de Novembro 2010, p. 22). Aqui vai um excerto:

- Que conselhos daria a quem queira salvaguardar a sua privacidade?

- Detesto dizer isto, mas não há sítio na rede em que possa confiar-se absolutamente. Todos os meses mais algum é atacado ou regista fugas de informação. Claro que nas redes sociais expomos mais dados, e quem não quer correr esse risco, não as use. Por mim, prefiro correr o risco, em vez de ficar fora delas.

Literatura

Orthodoxy

19:54

Acabo de descobrir que, mais que um liberal, Chesterton era afinal um anarquista idealista. Com um pouco de vontade, todos os livros acabam por dizer exactamente o que nós queremos que eles digam.


"When the business man rebukes the idealism of his office-boy, it is commonly in some such speech as this: "Ah, yes, when one is young, one has these ideals in the abstract and these castles in the air; but in middle age they all break up like clouds, and one comes down to a belief in practical politics, to using the machinery one has and getting on with the world as it is." Thus, at least, venerable and philanthropic old men now in their honoured graves used to talk to me when I was a boy. But since then I have grown up and have discovered that these philanthropic old men were telling lies. What has really happened is exactly the opposite of what they said would happen. They said that I should lose my ideals and begin to believe in the methods of practical politicians. Now, I have not lost my ideals in the least; my faith in fundamentals is exactly what it always was. What I have lost is my old childlike faith in practical politics. I am still as much concerned as ever about the Battle of Armageddon; but I am not so much concerned about the General Election. As a babe I leapt up on my mother's knee at the mere mention of it. No; the vision is always solid and reliable. The vision is always a fact. It is the reality that is often a fraud. [...]
I take this instance of one of the enduring faiths because, having now to trace the roots of my personal speculation, this may be counted, I think, as the only positive bias. I [...] have always believed in democracy, in [...] a self-governing humanity. If any one finds the phrase vague or threadbare, I can only pause for a moment to explain that the principle of democracy, as I mean it, can be stated in two propositions. The first is this: that the things common to all men are more important than the things peculiar to any men. Ordinary things are more valuable than extraordinary things; nay, they are more extraordinary. Man is something more awful than men; something more strange. The sense of the miracle of humanity itself should be always more vivid to us than any marvels of power, intellect, art, or civilization."
G. K. Chesterton (1908). Orthodoxy. Cap. IV: The Ethics of Elfland. (Fonte: http://www.gutenberg.org/files/16769/16769-h/16769-h.htm#CHAPTER_IV_The_Ethics_of_Elfland)

Ciência

De publicações científicas

10:59


Provavelmente todos os autores que trabalham em áreas científicas já se viram confrontados com recusas de artigos. Nada de mais... ossos do ofício. Geralmente usamos as críticas para construirmos alguma coisa de positivo; afinal, críticas construtivas melhoram o nosso trabalho, ajuda-nos a crescer enquanto autores e facilita o nosso trabalho de revisão. Por isso, nada se perde no processo.
O problema surge quando as críticas não são construtivas e todo o processo de avaliação dos artigos científicos pela comissão de avaliação está envolto numa enorme nuvem negra, oposta à transparência que deve reger todos os processos de divulgação científica. A começar no facto de muitas das críticas não virem assinadas pelos revisores e a acabar nas críticas não fundamentadas. Muitas das revisões de artigos científicos hoje ainda são feitas por revisores anónimos. Os autores não têm acesso ao nome do seu revisor e os revisores não são reconhecidos pelo seu trabalho nem responsabilizados por ele. Lia há dias o manifesto de Diana Santos, uma das autoras que mais tem contribuído para o movimento de Open Access na área do Processamento da Linguagem Natural em Portugal, deixado na sua página pessoal. A partir deste manifesto, chego a um outro manifesto, desta vez de Warren Smith, matemático, sobre o estado das publicações científicas. Vale a pena ler. Deixo aqui um excerto:
REFEREES
First of all, 80% of all referees are idiots and 100% are amateurs. By "idiot" I mean, either way too lazy to do a good job, or incompetent, or too biased due to some goofy agenda to judge the work unbiasedly (in roughly descending order of frequency), and in any of these cases, their effect is essentially that of tossing a coin. In the remaining 20% of cases, let us say that the referee is good and makes the right decision.[...] The entire referee system is a non-working anachronism from the Victorian Age of Noble Rich Dilettante Do-Gooders. It is sort of like the asinine notions of "Amateurism" in athletics which are FINALLY being scrapped (e.g. the Olympics) after over 100 years. As science became bigger and became an enterprise of numerous professionals rather than few amateurs, this system became incapable of doing the job, but everybody refused to admit it. The resulting cost to society has been, and continues to be, absolutely immense.[...]


SCIENTIFIC CAREERS
Are often advanced or stalled by boards who mainly utilize "bean counts" (publication counts) as their decision making tool, as opposed to actually trying to READ one's papers (that would require work). Thus the pressure to publish can be immense, leading to a giant proliferation of garbage publications, a trend toward more papers with fewer ideas, overloading of the busted system, and encouraging non-ethics. I believe bean-count is anti-correlated to ethics.
The fact that most of these boards are mainly populated by coprolites causes any consideration of the idea that maybe, just maybe, something is screwed up about the current system of Journals, Conferences, Referees, bean counts, Zero Accountability, and 100% Amateurism, to be dismissed. That in turn prevents any reform of the system.
Fonte: http://www.math.temple.edu/~wds/homepage/refereeing

Novas Tecnologias

Unplug

13:44

"Unplug your TV, you don’t need it. Finally, make a damn strong foo-foo drink, and read a book while you sip it.

The trick is to employ your mind enough that you don’t miss being plugged into the lives of so many other people, and into the news of the world. Information is addictive, and like any other addiction it is potentially harmful. Cut back just a little, and you will reap the benefits the rest of the week. Pick a day, for me it’s Saturday, when no one at work can get a hold of you in any way other than a phone call. I don’t read text messages at all on Saturday, it’s my Fortress of Solitude.

You and me have access to information that people would have literally killed for just a few hundred years ago, and that makes us lucky. We just can’t let it run us completely. Do yourself a favor, pick a day in the next week to turn off. Plan ahead, go grocery shopping and cook for some of your friends. Fret over the wine, and worry about the weather. After all, nature is still the best app of all."

Excerto do texto "How to disconect, A primer" de Alex Wilhelm em http://thenextweb.com/socialmedia/

Direitos

Série de Conferências: "Nato para quê?"

10:17



Ideologia

"Something to believe in"

11:54

"[...] mas acredito em Freud. As emoções moldam o subconsciente. Os maus sentimentos não são inteligência. São sinais de um sofrimento [...]. Eu também sei destruir, mas prefiro construir, edificar, dá mais trabalho e os resultados só chegam a longo prazo, mas vale a pena, mesmo que a alma seja minúscula. Se os sentimentos são inertes a estar aqui e ser humano, é necessário que, à partida, se procure os melhores, os positivos. Amar é um esforço intelectual. E quando se ama muito e só, sem espaços de sombra, transformamo-nos num sol. As plantas vivas dependem dessa estrela para chegarem à fotossíntese. Chamem-me hippy, chamem-me o que quiserem [...]."

excerto de José Luís Peixoto, 2010. "Maus sentimentos" In
Visão, Nº 914, 9 a 15 de Setembro de 2010, p. 12
Do conteúdo da música dos Ramones, também citada no texto, falo noutra altura.

Anarquia

"Ninguém é o verdadeiro anarquista"

00:27


Imagem: Wikipedia

Brilhante texto de Rui Tavares:
"Filosoficamente, sou pirronista. O pirronista é aquele que nem sequer sabe que nada sabe. Politicamente, sou anarquista. E cada anarquista é-o de vinte formas diferentes, sempre imperfeitas. O verdadeiro pirronista, porém, pergunta-se: como sei que sou pirronista? O verdadeiro anarquista, porém, afirma: ninguém é o verdadeiro anarquista.
Para ser sincero, não gosto de ter opiniões. Opiniões não são coisas que se tenham, como quem constrói um relatório ou um portfólio. [...]
A tragédia é que, quanto mais vou cultivando a palavra escrita, mais fracasso na palavra falada. Hesito antes de dizer. Ainda não pronunciei e já imagino a objeção. Mais: antecipo já duas ou três objeções de sinal contrário. Calo-me. Quando escrever descobrirei o que penso. (http://ruitavares.net/textos/esquecer-caras-escolher-palavras-2/)"
E, a maior parte das vezes, nem aí.
É como se estivesse a ler a minha caracterização. Anarquista era a única coisa que eu sabia que podia caracterizar-me, sem correr o risco de me chamarem incoerente. Descobri aqui que de vez em quando também sou pirronista. E claro, desconfio que também sofra de prosopagnosia: figuras ridículas e idiotas faço a toda a hora, pelas mesmas razões.

Da mesma maneira, também calo antecipando as objecções: vejo mil contrapontos aos meus próprios argumentos. Dou a tese e a antítese, e penso ainda que sobram outras tantas.
Obrigada, Rui, pela sintonia.

Cinema

Cinema alternativo no Theatro Circo

10:28

O Theatro Circo abre as portas ao cinema com a inauguração em Outubro de dois ciclos de cinema alternativo: o ciclo "Feminino Singular, Feminino Plural" e o ciclo " Médios Orientes, Orientes Extremos". No dia 15 de Outubro o espaço dá lugar também ao filme "Filme do Desassossego", de João Botelho. A programação pode ser vista em http://theatrocirco-cinema.blogspot.com/.

Consumo

De férias e outros assuntos a propósito de férias

23:20


Foto: Mercado de Díli, 2000

Há dias, numa conversa em torno de férias e destinos de férias, o tema foi desembocar em países como o Brasil, Cuba, Marrocos, Quénia, Timor. Ouvia eu sobre o lamento da pobreza extrema, do incómodo dos meninos a pedir na rua, sobre a visível disparidade do custo do turismo em contraste com o nível de vida da maior parte da população. Países onde uma noite num hotel corresponde a um mês do salário mínimo nacional, onde o preço de um almoço daria para pagar a alimentação de toda uma família durante um mês e cujo custo total da estadia durante uma semana num hotel mediano daria quase para construir uma aldeia inteira.
Ouvia os lamentos e ouvia depois, para meu espanto, as sugestões alternativas para melhores férias, longe do incómodo da pobreza, longe da maçada do incómodo dos meninos de rua a pedir moedas, longe da insegurança de lugares como os mercados africanos, nomeadamente os marroquinos, ou sul-americanos, longe dos aglomerados de pessoas, longe dos olhares de pequenos e grandes ladrões a ougar o prato de lagosta escancarado numa esplanada reluzente qualquer, longe do bulício dos transportes públicos apinhados, numa condução alucinante e sem regras, sem leis ou qualquer outro imperativo que não seja chegar o menos atrasado possível ao destino.
E pensava eu em como tudo aquilo me parecia uma frivolidade. Para mim, todos estes pormenores não me causam desconfiança, mas interesse. Para quem já teve a experiência de viver em África, rodeada de casas com telhados de colmo ou, no maior dos luxos, em casas de telhados de zinco, a tomar banho com uma simples garrafa de água suja, compreende porque a intolerância, desconfiança e medo dos europeus brancos relativamente às particularidades dos países do Sul, que não pertencem à sua histórica, organizada, pontual, limpa e cultural Europa, se tornam uma arrogância insuportável.
Porque a questão é apenas de perspectiva. Se adoptas o papel de turista, vais ser, inevitavelmente, tratado como um. Se te embrenhas no meio do buliço, se comungas os mesmos gestos, se vives as mesmas rotinas, carências, e partilhas dos mesmos espaços, acabas por te fundir com a população, mesmo sendo uma branca no meio de uma aldeia com casas de telhados de colmo.
Se quiseres escolher a segurança de um espaço protegido, gradeado, privativo, vais perceber que os mesmos muros que impedem todos os monstros de entrar, também te impedem a ti de sair; e impedem a visão sobre outros espaços, gentes, lugares, cheiros e experiências absolutamente mágicos. Como o regatear dos preços num mercado marroquino, o gosto do chá de menta e a frescura da casa do comerciante de tapetes, a pele fria de uma cascavel a deslizar no teu pescoço, entrar num comboio para Agadir, apinhado de gente, e tomar parte de uma conversa com um jovem casal marroquino acerca da poligamia, ou ouvir uma refugiada congolesa no Burundi falar sobre a mulher que o marido muçulmano colocou a dormir na sua cama, ou a conversa entusiasmada de um jovem marroquino em Same, Timor-leste, a conspirar contra a monarquia do seu país e a exigir uma revolução, ou partilhar as músicas tocadas à guitarra, a meio da noite, à luz de uma fogueira, por um grupo de rapazes timorenses na praia de Liquiçá. Todos estes pequenos detalhes estão a lés dos muros do teu hotel seguro e murado, com praia privativa.
Com um pouco de sorte, os meninos com quem no dia anterior à tardinha jogaste futebol, virão de manhãzinha à tua casa oferecer-te uma abada de mangas acabadas de apanhar. Se tiveres sorte, o pai da menina a quem na semana passada trataste o pé com um pouco de algodão e álcool, virá de madrugada bater-te à porta para te oferecer um peixe acabado de pescar. Com um pouco de sorte, os mesmos meninos que jogaram futebol contigo, irão convidar-te para conheceres lugares absolutamente estonteantes, intocáveis, paradisíacos, que nenhum guia, de nenhum hotel seguro e privativo, te poderia oferecer, ainda que ousasses sair do teu seguro e privativo hotel. Se tiveres sorte, partilharás, com as mãos sujas e pegajosas do banho de mar, uma tigela de água morna com um bando de meninos sorridentes, felizes porque conseguiste dizer-lhes, na língua deles, um atabalhoado "Olá!".
Com um pouco de sorte, ainda, conseguirás deixar gravado alguma coisa de ti no sítio onde estiveste... mas não no hotel seguro, murado, ordenado e privativo.
Com um pouco de esforço conseguirás voltar para a tua histórica, limpa, organizada, pontual e frívola Europa.

Literatura

Eugénio de Andrade no Quartas Mal-Ditas

10:28


Dia 28 de Julho, às 22h00, no Piano-Bar do Clube Literário do Porto, homenagem ao poeta Eugénio de Andrade pelo colectivo das Quartas Mal-Ditas.

Leituras por:
Anthero Monteiro (coordenador), António Pinheiro, Cláudia Pinho, Diana Devezas,
Luís Carvalho, Mário Vale Lima e Rafael Tormenta.

Colaboração musical de João Sousa e Xassbit.

Convidado especial: Prof. António Oliveira,
autor de uma tese de doutoramento sobre o poeta.

Consumo

O livro de reclamações

00:00


Para bem da minha sanidade mental, este post precisava de ser escrito, hoje sem falta, de preferência. É que há um efeito catarse na escrita, como dizem, e se for pública, tanto melhor.
Quem tem agora, neste preciso momento, mais de trinta anos e viveu a sua infância entre Minho, Trás-os-Monte e Beiras, faz parte da geração de oitenta que passou a infância toda a ter medo e vergonha. Qual período pós-revolucionário! A geração imediatamente nascida nos anos pós-revolução ficou com as mesmas mazelas enraizadas nas gerações dos seus pais. A revolução passou por cá por cima meio a medo, se é que passou sequer.
Éramos gerações castradas. Havia a vergonha de falar, vergonha de perguntar. Havia o medo de incomodar. Havia a vergonha de faltar à missa. Havia a vergonha de ser apontado pelo padre. Havia a vergonha de interrogar (ainda me lembro de ouvir uma amiga de infância a relatar, revoltada, um episódio em que perguntava à catequista como era possível a Maria ter filhos sem casar e esta lhe responde, meia vexada, meia ameaçadora, se não tinha vergonha de fazer perguntas como aquela). Havia a vergonha de dar beijos e abraços. Havia a vergonha de se exprimir, a vergonha de questionar. Havia a vergonha de chorar, de sorrir. A vergonha de sentir medo. Havia a vergonha de sentir vergonha. A vergonha da vergonha.
E havia o medo. Havia o medo do padre (ainda me lembro do medo do meu irmão quando lhe sugeri para falsificar a assinatura do padre para não ter de decorar não sei quantas rezinhas - não pensem que era coragem, não, eu era apenas inconsequente). Medo do pai/mãe (ou dos dois). Medo do polícia, da Polícia. Medo do médico. Medo da professora. Medo do director de escola. Medo do Sr. Doutor. Medo dos que falavam com o Sr. Doutor. O medo de parecer mal. O medo de não parecer. O medo do medo. O medo da vergonha. O medo de tudo e de nada. O medo de fazer bem, o medo de fazer mal. O medo de não fazer, o medo de fazer. Enfim...
Nunca para mim fez tanto sentido uma frase que li um dia, algures, que dizia que os países do norte da Europa viviam com o sentimento de culpa e os países do sul da Europa com o de vergonha. Nenhuma definição nos assentava tão bem, pensava eu.
As mazelas ficam, entranham (e o medo e a vergonha são mazelas com alto grau de entranhamento) e, mais cedo ou mais tarde, acabam por vir à tona. Umas vezes vêm da melhor maneira (sublimadas, diriam os psicanalistas), outras vezes vêm da pior maneira, em comportamentos desviantes.
Ora, o que é que tudo isto tem a ver com o livro de reclamações? É que ontem pus-me a interrogar-me se pedir o livro de reclamações seria um comportamento sublimado ou um comportamento desviante. Depende, pensava eu, da causa que levou a pedir o livro e do fim que pretendo com a reclamação. É que para a minha geração, pedir um livro de reclamações é quase um acto heróico, verdadeiro acto de coragem. Se a causa e o fim são nobres, o mais certo é ser um comportamento sublimado. Afinal, como eu digo sempre à minha filha, há que escolher bem as batalhas, ou corremos o risco de tornar as nossas reivindicações banais.
Racionalmente é assim, mas a verdade é que quando chegamos ao ponto crítico de pedir o livro de reclamações, o estado da nossa racionalidade começa a ficar afectado: não conseguimos distinguir (e o melhor é sempre esperar um dia ou dois antes de tomar decisões). Por outro lado, quando chegamos ao ponto de começarmos a ficar toldados pela irracionalidade, significa que passamos o ponto de não retorno e, se passamos esse ponto, o mais certo é termos um bom motivo para reclamar. Pela lógica, quanto maior é a zanga, maior é o motivo para reclamação.
Reconheço que cada um terá o seu, mas para mim, o ponto de não retorno é a desconsideração e o desrespeito não retratados. Passado esse ponto, no meu entender, não há diálogo possível. E, ou, num dia bom, ignoramos e toleramos ou, num dia mau, pegamos na caneta e pedimos o livro de reclamações. É que, depois de anos e anos de repressão imposta ou auto-imposta, as emoções precisam de um momento de catarse. Por vezes, não se podem nem devem reprimir. Se estes momentos de catarse são sublimes ou não, talvez não interesse verdadeiramente no momento. Depois sim, mas depois já é tarde.
Pois para quem sentiu nescessidade destes momentos de catarse, deixo a seguir alguns sítios úteis para se manterem informad@s. E reclamem. Reclamar, mais do que um momento de purgação, é um direito e, diria eu, um dever.

Páginas da DECO http://www.deco.proteste.pt/direitos/um-livro-de-reclamacoes-em-cada-canto-s407841.htm; http://www.deco.proteste.pt/direitos/livro-de-reclamacoes-queixas-on-line-s517561.htm;
Direcção Geral do consumidor http://rtic.consumidor.pt/preenchimento_livro.pdf;
Portal informativo da Câmara Municipal de Sintra http://www.cm-sintra.pt/Artigo.aspx?ID=3809.

Movimentos Sociais

Do egoísmo e outras crendices

20:53

"Supunhamos que uma pessoa com fome passeia numa rua sem polícias e se cruza com uma criança esfomeada que segura um pedaço de pão. Seria o seu instinto natural roubar o pão à criança? Se assim fosse, consideraríamos a sua acção patológica. Quando os golfinhos dão à costa numa praia, à noite, depois de uma maré baixa, centenas de pessoas correm em seu socorro e trabalham em condições difíceis paratentar salvá-los.
Será possível explicar isto pelo egoísmo, ou até por teorias mais sofisticadas segundo as quais a selecção natural favorece a ajuda às pessoas da própria família e o altruísmo recíproco? Creio que nem a história nem a experiência desmentem a suposição de Adam Smith e de David Hume - que figuram entre os heróis do coro contemporâneo que tece louvores ao egoísmo - segundo a qual a simpatia e a preocupação com o bem-estar dos outros são características fundamentais da natureza humana.
Acreditar que o egoísmo é um instinto humano predominante é muito cómodo para os ricos e poderosos que esperam desmantelar as instituições sociais desenvolvidas com base na simpatia, na solidariedade e na ajuda mútua. Os elementos mais bárbaros dos sectores ricos e poderosos (...) estão determinados a demolir a segurança social, os programas de saúde, as escolas e, de facto, todas as conquistas das lutas populares que servem as necessidades do público e só diminuem muito ligeiramente as suas próprias riquezas e poderes. Para estas pessoas, é muito cómodo inventar teorias fantasistas segundo as quais o egoísmo está no centro da natureza humana, para mostrar que é errado (ou «mal», para usar a terminologia em voga) preocuparmo-nos em saber se a viúva doente da outra ponta da cidade está a ser alimentada e a receber cuidados de saúde, ou se a criança da frente tem acesso a uma educação adequada. Temos argumentos sólidos que justifiquem estas doutrinas cómodas para os que as propõem? Que eu saiba, não."

Excerto de Chomsky, citado por Jean Bricmont e Julie Franck (dir.) "Chomsky", Cahiers de l'Herne, nº 88, Paris apud Le monde Diplomatique - Edição portuguesa, Maio de 2010, p. 12.

Comunicação Social

"Divertimento e desinformação"

20:22


"Leio atentamente o The New York Times e outros jornais de elite por várias razões. Em primeiro lugar, porque são eles que determinam a agenda, limitando-se os outros a segui-los. Depois, porque pertencem à cultura intelectual dominante, o que me interessa particularmente. Não há qualquer dúvida de que a indústria do infotainment [info-entretenimento] é enorme. Tal como os seus dirigentes têm a gentileza de nos explicar, eles estão vocacionados, por um lado, para estabelecer o controlo «off-job» (fora do trabalho) como contrapartida do controlo «on-job» (no trabalho) dos sistemas tayloristas concebidos para transformar os trabalhadores em robôs inconscientes e obedientes; e, por outro lado, para desviar a atenção do povo para «as coisas superficiais da vida, como o consumo e a moda», e para inculcar na população uma «filosofia da futilidade».
É sem dúvida importante sublinhar tudo isto, e existem bons estudos sobre este tema, que tenho citado muitas vezes. Fico contente por deixar este trabalho a outros, que creio, o fazem muito bem. Porque eu não conheço o tema muito bem e não tenho o interesse nem os recursos necessários para aprender mais, por exemplo sobre a televisão. Em contrapartida, a análise crítica da cultura intelectual e dos meios de comunicação social de elite que determinam a agenda é, e isso não é surpreendente, um trabalho pouco apreciado pelas elites intelectuais e, em consequência, é muito poucas vezes feito de forma séria. (...) Penso que as questões relativas à maioria da população são colocadas de forma injusta. Não conheço nenhum elemento que possa indicar que ela está mais sujeita aos assaltos da propaganda do que a elite intelectual, e tenho boas razões para suspeitar que o contrário possa bem ser verdadeiro."

Excerto de Chomsky, citado por Jean Bricmont e Julie Franck (dir.) "Chomsky", Cahiers de l'Herne, nº 88, Paris apud Le monde Diplomatique - edição portuguesa, maio 2010, p. 13

Literatura

Da música

11:12

"A música desperta o tempo e desperta-nos para a sua mais fina fruição, a música desperta... nesta perspectiva podemos afirmar que é ética. A arte é ética na medida em que desperta. Mas o que sucede quando actua em sentido contrário? Quando entorpece, anestesia e se ergue como barreira à actividade e ao progresso? Também disso é capaz a música, também ela consegue exercer perfeitamente os efeitos da droga. Uma influência diabólica, meus senhores! A droga é obra do diabo, a droga só produz apatia, obstinação, inacção e torpor servil... Há qualquer coisa de duvidoso na música, meus amigos. Continuo convicto da sua natureza ambígua. Não exagero de modo algum ao considerá-la politicamente suspeita."

Thomas Mann. A Montanha Mágica. Lisboa: Dom Quixote. 2009. p. 135.

Arte

"Entre o Livro e a Liberdade"

10:17

O colectivo Silêncio da Gaveta está a divulgar uma iniciativa para participação de todos os que possuam poemas para partilhar:

Convocam-se todos os poetas, de todas as línguas, com uma pátria do tamanho do mundo, a enviar um, dois ou três poemas, para a instalação poética “Entre o Livro e a Liberdade”, que vai acontecer nos dias 23, 24 e 25 de Abril, 2010, no jardim da Avenida Júlio Graça em Vila do Conde.

O Colectivo Silêncio da Gaveta, depois de a 21 de Março de 2009, dia Mundial da Poesia, ter colocado mais de 2000 poemas, em mais duzentas árvores do jardim, traduzindo em seiva e fruto as palavras dos poetas, de cerca de duas dezenas de países, pretende este ano, com a colaboração da Nuvem Voadora, no mesmo jardim, fazer nascer entre as flores, as palavras dos poetas. Nesta nova instalação poética os poemas erguem-se do chão, como girassóis à procura do leitor. O colectivo agradece que o poema traga consigo o nome do autor e não ultrapasse uma folha A4, para que as palavras não se separem do mesmo cacho. Podem ser inéditos ou já editados. A convocatória pretende apenas os vossos poemas, os dos outros nós já temos.

We hereby call on all Poets, of all languages, within a world-wide nation, to send one, two or three poems for the poetry exhibition "Between the Book and Freedom" which will take place at the Avenida Julio Graca (Vila do Conde) Public Gardens on the 23rd, 24th and 25th of April 2010. "Silencio da Gaveta" has posted over 2000 poems on the 21st March 2009, thusly translating into nectar and fruit over 20 countries' Poets. We want to bring to life (with the collaboration of Nuvem Voadora) the Poets's words in the same Garden this year. This year all poems will rise from the ground as sunflowers searching for the reader. We would appreciate if the Poem is signed by the author and that it may be printed on an A4 piece of paper, so that the words are not separated from the same bouquet. These may be new poems or already published. We only want your poems. We have all the others.


Os poemas devem ser enviados para:
Poems should be sent to :
fontesnovas@hotmail.com; vasques.manuel@gmail.com; silenciodagaveta@gmail.com


Para visitar a exibição poética do ano passado, “Dez Passos Depois das Árvores” no blog:
You may peruse last year's poetic exhibition “Dez Passos Depois das Árvores”, in the blog:
www.silenciodagaveta.wordpress.com



silêncio da gaveta from paulo pinto on Vimeo.

Eventos

12 anos de Onda Poética

10:39


A ONDA POÉTICA

vai estar no Festival Tucátulá de Espinho

Sexta, dia 12 de Março, 21.30 h - Auditório da Junta de Freguesia de Espinho

Rua 23 - Espinho

Um espectáculo poético-musical intitulado AI PORTUGAL, PORTUGAL!


Colagem de textos e canções de vários autores portugueses,

desde o século XIX até à actualidade,

através dos quais se pode aquilatar

da perspectiva crítica e amarga que têm do seu país.

EURALEX

Euralex 2010

17:40



Já está disponível o programa provisório para o EURALEX 2010. De destacar um workshop sobre terminologia, logo no primeiro dia, 6 de Julho, a cargo do Dr. Hennie van der Vliet e colegas do Dutch Terminology Service Centre (Vrije Universiteit Amsterdam). O programa pode ser consultado na página do congresso, http://www.euralex2010.eu/.

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