Ideologia

"Something to believe in"

11:54

"[...] mas acredito em Freud. As emoções moldam o subconsciente. Os maus sentimentos não são inteligência. São sinais de um sofrimento [...]. Eu também sei destruir, mas prefiro construir, edificar, dá mais trabalho e os resultados só chegam a longo prazo, mas vale a pena, mesmo que a alma seja minúscula. Se os sentimentos são inertes a estar aqui e ser humano, é necessário que, à partida, se procure os melhores, os positivos. Amar é um esforço intelectual. E quando se ama muito e só, sem espaços de sombra, transformamo-nos num sol. As plantas vivas dependem dessa estrela para chegarem à fotossíntese. Chamem-me hippy, chamem-me o que quiserem [...]."

excerto de José Luís Peixoto, 2010. "Maus sentimentos" In
Visão, Nº 914, 9 a 15 de Setembro de 2010, p. 12
Do conteúdo da música dos Ramones, também citada no texto, falo noutra altura.

Anarquia

"Ninguém é o verdadeiro anarquista"

00:27


Imagem: Wikipedia

Brilhante texto de Rui Tavares:
"Filosoficamente, sou pirronista. O pirronista é aquele que nem sequer sabe que nada sabe. Politicamente, sou anarquista. E cada anarquista é-o de vinte formas diferentes, sempre imperfeitas. O verdadeiro pirronista, porém, pergunta-se: como sei que sou pirronista? O verdadeiro anarquista, porém, afirma: ninguém é o verdadeiro anarquista.
Para ser sincero, não gosto de ter opiniões. Opiniões não são coisas que se tenham, como quem constrói um relatório ou um portfólio. [...]
A tragédia é que, quanto mais vou cultivando a palavra escrita, mais fracasso na palavra falada. Hesito antes de dizer. Ainda não pronunciei e já imagino a objeção. Mais: antecipo já duas ou três objeções de sinal contrário. Calo-me. Quando escrever descobrirei o que penso. (http://ruitavares.net/textos/esquecer-caras-escolher-palavras-2/)"
E, a maior parte das vezes, nem aí.
É como se estivesse a ler a minha caracterização. Anarquista era a única coisa que eu sabia que podia caracterizar-me, sem correr o risco de me chamarem incoerente. Descobri aqui que de vez em quando também sou pirronista. E claro, desconfio que também sofra de prosopagnosia: figuras ridículas e idiotas faço a toda a hora, pelas mesmas razões.

Da mesma maneira, também calo antecipando as objecções: vejo mil contrapontos aos meus próprios argumentos. Dou a tese e a antítese, e penso ainda que sobram outras tantas.
Obrigada, Rui, pela sintonia.

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