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Gilles Lipovetsky no Centro Cultural Vila Flor

11:08


Fotos: Patrícia França


No passado sábado, 30 de Abril, Gilles Lipovetsky esteve no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, num evento inserido já no programa Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura, para falar da dicotomia entre aquilo que o autor designa por cultura-mundo e a cultura europeia. Lipovetsky falou de globalização, ou mundialização, do mundo económica e geograficamente novo, que assenta na inevitabilidade do modelo capitalista, criado e alimentado pela Europa.
Lipovetsky estruturou o seu discurso em cinco pontos-chave, através dos quais fez o retrato do nosso mundo actual: (i) a época da cultura-mundo, (ii) a importância da técnica (tecnologia), (iii) o hiper-consumo, (iv) a nova indústria cultural e (v) a dinâmica da individuação.
Lipovetsky falou do hiper-capitalismo, do hiper-consumo, do hiper-mercado, dos novos modelos de vida da sociedade, que parecem não encontrar alternativas ao modelo assente no capital.
Não obstante, o discurso de Lipovetsky não veio apenas carregado de crítica a este modelo globalizado, que transformou as sociedades, os seus pilares e os seus valores. Da cultura-mundo faz parte uma nova consciência do mundo e de pertença a esse mundo. Há também o reconhecimento da importância da cultura-mundo para a difusão e aceitação, a uma escala global, universal, daquilo que conhecemos hoje como os direitos humanos fundamentais - ainda que se possa discordar sobre a origem da aceitação do que são e quais são hoje esses direitos, sejam eles a democracia, a emancipação ou o bem-estar das sociedades e dos indivíduos.
Há ainda um outro ponto positivo que advém da cultura-mundo: a revitalização das identidades. Quanto mais global se torna o mundo, maior é o investimento nas identidades particulares através da reabilitação e revalorização do património, da história, da cultura, da religião, da gastronomia, da língua, e mesmo dos afectos e da forma de os expressar. Vemos novos nacionalismos, para o bem e para o mal.
Mas vemos também contra-modelos que surgem à margem do modelo do hiper-mercado: o movimento ecologista, os movimentos humanitários (como vimos no Haiti ou agora mais recentemente no Japão) e a revitalização e protecção do património mundial.
A mensagem de Gilles Lipovetsky, contrariamente ao que poderíamos pensar, é positiva. Se é verdade que não podemos mudar o sistema financeiro mundial, também é verdade que podemos criar contra-modelos que andem a par desse sistema. Destes contra-modelos fazem parte o investimento na educação e reorganização das sociedades: o investimento no capital humano, no saber, enfim, no velho ideal humanista da formação humana.
Gostei de ver a sala cheia. Gostava de ter visto mais gente jovem no CCVF. A formalidade com que decorreu o evento não ajudam à aproximação, mas eu fiquei com a certeza de que o conteúdo do discurso poderia tê-lo feito. Gostei da simplicidade e humildade com que Lipovetsky se apresentou. Vai sendo tão raro entre académicos das humanidades!
Raramente peço autógrafos, mas desta vez não resisti.








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