Da percepção

12:22


"O termo percepção tem uma conotação bastante mais ampla que ultrapassa tudo o que se refere apenas aos sentidos,sensações e conhecimento sensitivo. Em sentido lato, apreendemos a realidade do mundo externo de um modo imediato e directo sem tematizar ou consciencializar os próprios processos internos que são veículos dessa apreensão. Quando dizemos "'vemos' uma árvore, uma casa, o céu...", exprimimos que estes objectos se nos apresentam [...].
Esta apreensão conjunta pressupõe um princípio de ordem e de organização que mobiliza o sujeito todo, integral, e os seus diferentes estratos cognitivos. Trata-se, com efeito, de um "pensamento vivido", que incorpora a si toda a experiência. Não se dá propriamente a percepção sem o momento essencial da "incorporação do significado": o "dar-se" do objecto é inseparável da própria acção perceptiva do sujeito, e é todo o sujeito que percepciona ou se apercebe, apreende, capta o mundo real dos objectos. [...]
Do ponto de vista epistemológico, a questão primordial consiste em saber se de facto nos apercebemos dos objectos do mundo externo tal como são realmente, ou se a nossa percepção ocorre sempre velada pelo mundo interno das nossas imagens, representações, sensações e aparências. Estão aqui em confronto duas posições fortes no que respeita à nossa experiência perceptiva: um realismo directo para o qual na percepção somos directamente conscientes dos objectos físicos e suas propriedades; uma perspectiva 'representacionalista' segundo a qual nós nos apercebemos directamente das próprias entidades mentais (imagens, sensações, ideias) que representam os próprios objectos físicos."


Maria Luísa Couto SOARES (2004), "3. Percepção: Aparência e realidade", O que é o conhecimento?. Porto: Campo das Letras. Pp. 73-74

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