Da vida

11:06


"A vida é primariamente encontrar-se cada homem submerso entre as coisas e enquanto é somente isso consiste em cada um sentir-se absolutamente perdido. A vida é perdição. Mas por isto, obriga, quer queiramos ou não, a um esforço para nos orientarmos no caos, para nos salvarmos dessa perdição. Este esforço é o conhecimento que extrai do caos um esquema de ordem, um cosmos. Este esquema do universo é o sistema das nossas ideias ou convicções vigentes. Quer queiramos ou não, vivemos com convicções e de convicções. O mais céptico existe teoricamente apoiando-se num suporte de crenças sobre o que as coisas são. A vida é absoluta convicção. A dúvida intelectual mais extrema é vitalmente uma absoluta convicção de que tudo é duvidoso." ORTEGA y GASSET (2007: 203-204) (sublinhado meu)

"O homem cega-se voluntariamente para fugir ao seu fundo abismático e está disposto a acreditar em qualquer coisa. Daqui o poder, que nunca enfraquece, da tradição. Preferimos viver sobre opiniões feitas por outros. Formamos as nossas implica que nos desprendemos de toda a interpretação recebida e que, por um momento, nos sentimos absolutamente perdidos.
[...] esta consciência de perdição pode ser mais ou menos extensa e profunda.
[...] às vezes fica em panne a integridade da nossa vida porque todas as convicções fundamentais se tornam problemáticas. As últimas ideias científicas, as normas éticas sobre que costumávamos flutuar vacilam, mostram-se, por sua vez, inseguras, mal fundadas. É uma época de crise radical numa cultura. O homem então redescobre, por baixo daquele sistema de opiniões, o caos primitivo de que está feita a substância mais autêntica da nossa vida. Volta a sentir-se absolutamente náufrago [...]." ORTEGA y GASSET (2007: 205)
(sublinhado meu)


ORTEGA y GASSET (2007), O que é a filosofia?. Lisboa: Biblioteca editores Independentes

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