"Quer um Brasil melhor? Bota fé na gente."

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Furtei o comentário que exponho a seguir a Erivan Santiago, escrito a propósito das mais recentes notícias de violência no Rio de Janeiro, e a propósito destas fotografias sobre o assunto:
Gostei do MARIAFRO mas não gostei do comentário "Quebrar barraco na Vila Cruzeiro é fácil". Tá de brincadeira, né?
Quero ver quebrar todas as trincheiras e bunkers desses e de outros bandidos (e isso também passa por quebrar o sigilo bancário e outros sigilos de muitos bandidos, como vem quebrando um certo cara da Austrália).
O Brasil precisa é de uma boa reforma urbana e agrária. Uma reforma comprometida com o interesse do cidadão e não com o interesse do capital. Cidade nenhuma pode ser maravilhosa com uma população de mais de 6.000.000 de pessoas (segundo o mais recente censo do IBGE).
Já é hora de acabar com as favelas, de criar condições para o desenvolvimento das pequenas e médias cidades, criar condições para o desenvolvimento do pequeno e médio produtor rural. Já é hora de criar condições para evitar a fuga para os grandes centros urbanos e tratar de reverter o processo.
E eu não falo só do retorno à casa. Há muita gente que nasceu no Rio mas que gostaria de tentar a vida num outro Brasil; muita gente que até mora fora do país e que tá doida para voltar e investir suas economias, seus esforços e seu potencial em qualquer pedacinho dessa terra que lhe paraça credível. Nosso país é todo maravilhoso!
O cidadão precisa de qualidade de vida; o capital precisa de quantidade de gente.
O Rio precisa de reformas estruturais e não pode ser visto fora do contexto regional e nacional. O Brasil precisa de reformas estruturais, … inclusive para melhorar o resto do mundo.
Tá mais do que na hora de dar um basta nesse poder paralelo que impera nas favelas mas que lá não mora. Quer mesmo vencer o tráfico nas favelas? Dá trabalho, formação e dignidade ao favelado. Investe nos jovens e protege a todos.
O trabalho de proteção já começou mas merece severas críticas. Uma delas é que foi executado com emoção do civil (sob a influência do medo, da pressão da mídia e do momento político) e concebido por miolo de militar (onde casualties e "baixas inevitáveis" são aceitas com uma certa naturalidade).
A verdade é que, embora urgente, essa operação – eminentemente militar – não poderia ter sido iniciada sem a evacuação de toda a população daquela área (sim, um enorme trabalho que exigiria um grande investimento em recursos humanos e financeiros, planejamento adequado, muito contrôle, muita ordem e cuidados próprios de uma situação de conflito armado). A população não poderia jamais - de forma alguma – estar exposta como se encontra. Sim, nós estamos a violar a lei, o Direito Internacional Humanitário, e nós vamos, sim, ter causalities. Mas essas «baixas» serão sempre vidas, vidas que poderiam e que deveriam ser protegidas e conservadas.
E depois da ocupação, o que vamos fazer com o pequeno soldado, o sinaleiro e o jovem distribuidor de drogas no varejo? Vamos esquecer que, dada a nossa omissão, muitos foram obrigados a trabalhar para o tráfico ou seduzidos pelo dinheiro e pelos encantos do traficante? Vamos esquecer que muitos deles são viciados e necessitam tratamento adequado? Vamos botar todo mundo na cadeia, tratá-los com o Sistema de Justiça Penal que nós temos ou o quê?
O que vamos fazer depois da invasão e da caça aos tesouros? Quem será o novo dono da bola? Ninguém mais vai querer vender e comprar drogas e armas nas favelas do Rio de Janeiro?
Que política melhor que a da inclusão social?
Quer acabar com o favelado? Dá condições para ele se desenvolver.
Quer um Brasil melhor? Bota fé na gente.

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