Da língua e da identidade

20:18

Cartoon: Tural Hasanlý em www.donquixotte.at
"É impossível contar as línguas, eis o que queria sugerir. Não há calculabilidade, a partir do momento em que nunca o Uno de uma língua, que escapa a qualquer contabilidade aritmética, é determinado. O Uno da monolíngua de que falo, e aquele que eu falo, não será portanto uma identidade aritmética, nem mesmo uma identidade 'tout court'. A monolíngua permanece portanto incalculável, pelo menos neste traço. Mas que as línguas pareçam estritamente enumeráveis, tal não as impede a todas de desaparecerem. Elas soçobram às centenas neste século, em cada dia, e esta perda abre a questão de uma outra salvaguarda ou de uma outra salvação. Para fazer algo diferente de arquivar idiomas (o que cientificamente nós fazemso por vezes, senão suficientemente, com uma urgência cada vez mais preemente), como salvar uma língua? Uma língua viva e 'salva'?
Que pensar desta nova soteriologia? Será boa? Em nome de quê? E se, para salvar homens em perdição na sua língua, para libertar os próprios homens, excepção feita à sua língua, valesse mais a pena renunciar a ela, renunciar pelo menos às melhores condições de sobrevivência 'a qualquer preço' de um idioma? Porque vivemos um tempo em que por vezes esta questão se coloca. Na terra dos homens, hoje, alguns são obrigados a ceder à homo-hegemonia das línguas dominantes, estão obrigados a aprender a língua dos senhores, do capital e das máquinas, estão obrigados a perder o seu idioma para sobreviverem ou para viverem melhor. Economia trágica, conselho impossível. Eu não sei se a salvação dada ao outro supõe a salvação do idioma."
Jacques DERRIDA (2001). O Monolinguismo do Outro ou a Prótese de Origem. Porto: Campo das Letras. Pp. 47-48

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1 comentários

  1. Patricia, has puesto tu blog a un nivel impresionante. Con citas de Derrida y abriendo un debate en el que no es fácil intervenir. La polémica está servida, ya que no todos los lingüistas están de acuerdo en que las lenguas se han de conservar, aplicando a este elemento clave del patrimonio cultural de la humanidad las reglas de liberalismo puro y duro. Leer a Derrida en estos momentos y sobre este tema nos reconforta a los que pensamos que la lengua es nuestro valor más fundamental. Un abrazo

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