Dos movimentos sociais recentes

16:39



‎"Without education, we are in a horrible and deadly danger of taking educated people seriously." 
Chesterton

Lia há pouco o artigo "El 15 - M es emocional, le falta pensamiento" do El País com as reflexões de Zygmunt Bauman e lembrei-me do desabafo de Pedro Pereira Neto há um dia atrás na sua página do Facebook: 
"Há nestes legítimos protestos uma dimensão que me tira do sério: atitudes que contribuem directamente - como se fosse necessária ajuda nesse capítulo - para desvalorizar nos media as razões do protesto, o perfil do manifestante, e a alternativa que apresenta. Por que é dado aos mais verbalmente infelizes o megafone, e por que razão há manifestantes que agem como se estivessem num festival de música?"
Não tenho nada contra a forma festiva que alguns manifestantes adoptam nas manifestações - nem a festividade é sinal de falta de raciocínio ou engajamento nem a seriedade dá inteligência a quem quer que seja - mas sublinho a pergunta do Pedro: porque é que são os mais verbalmente infelizes a usar o megafone e a tomar da palavra? Mas a pergunta a ser feita não é esta. Infelizmente, os media mainstream aproveitam os raros 5 minutos de infantilidade de poucos, porque os há, para fazerem o retrato de todo um movimento. Quem estiver disposto a disponibilizar um pouco do seu tempo a ouvir estas assembeias populares vai aperceber-se de que nem tudo se resume a 5 minutos de infantilidade. Veja-se, a título de exemplo, o que se passou na assembleia popular de 24 de Maio, em Lisboa:


A solução não é negar o megafone aos verbalmente infelizes - porque o que distingue estes movimentos sociais é a pluralidade de vozes, e até a infantilidade grosseira cabe ali - a solução é invadir as praças, as assembleias populares, onde quer que elas se materializem, com os verdadeiros argumentos e soluções e criar espaços físicos ou virtuais para se debaterem as questões que verdadeiramente importam, tanto do ponto de vista teórico, como do ponto de vista prático.  E, por fim, divulgá-los o mais possível, através de todos os meios à disposição. O debate não tem de ser feito de megafone em punho, mas tem de ser feito. Agora que o movimento já tem a atenção que merece, importa sentar e construir, para que não se concretize o vaticínio de Zygmunt Bauman:  
"La modernidad líquida se expresa, obviamente, en su falta de solidez y de fijeza. Nada se halla lo suficientemente determinado. Ni las ideas, ni los amores, ni los empleos, ni el 15-M. Por eso teme que tal arrebato acabe también, finalmente, “en nada”. No es seguro, pero siendo líquido, ¿cómo no pensar en la evaporación?"
Poucos politólogos, sociólogos, economistas profissionais farão parte dos movimentos sociais. Infelizmente, ao contrário do que acontece com Zygmunt Bauman, não pagam aos manifestantes para fazerem análises políticas, económicas e sociológicas e para apresentarem soluções. Os manifestantes contam apenas com eles mesmos e com o seu escasso tempo e recursos.  Esse é o seu grande desafio, mas é também a sua maior força: não obedecem a agendas políticas nem dependem de interesses económicos.
Já agora, sugiro aos comentadores políticos, sociólogos e jornalistas profissionais, que saiam da sua torre de marfim e desçam às ruas. Percam algum tempo a ouvir o que as pessoas estão a dizer e vejam o que elas estão a fazer e criem uma opinião apenas quando ouvirem todas as vozes e estiverem informados sobre todos os lados da questão.

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