As folcsonomias e a lexicografia

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Ouvia há dias, na conferência intitulada "Variantes lingüísticas en los diccionarios: ¿Sistematización o intuición del lexicógrafo?” dada por Álvaro Iriarte Sanromán, no âmbito das II Jornadas de Estudos Espanhóis e Hispano-Americanos, na Universidade do Minho, que uma das opções possíveis para a etiquetagem das entradas ou acepções nos dicionários poderia passar pelo uso das etiquetas (tags) que se vão tornando comuns, por exemplo, nas redes sociais. Estas folcsonomias, como foram designadas, poderiam, segundo Iriarte Sanromán, ser uma alternativa aos comuns sistemas de etiquetagem dos dicionários, que dificilmente reunem consenso, mesmo na lexicografia teórica.
Curiosa a transposição de âmbitos aparentemente tão dissemelhantes. E a principal vantagem? O acesso à classificação real que os falantes fazem no uso da língua. Dificilmente de outra forma se poderia reunir, de uma forma tão acessível e prática, num mesmo espaço, o conjunto de etiquetas usadas pelos falantes para áreas tão diversas quantas as imaginadas. Como refere Peter Merholz (2004) "Once you have a preliminary system in place, you can use the most common tags to develop a controlled vocabulary that truly speaks the users’ language.”

No âmbito da lexicografia parece-me uma proposta interessante, de fácil pesquisa, de âmbito muito extenso e, principalmente, assente em vastas e diversificadas comunidade de falantes. Fiquei a pensar como se traduziriam estes sistemas organizativos cooperativos e auto-reguladores fora da rede.

A definiçãoA palavra folcsonomia, também designada por etiquetagem colaborativa, classificação social, indexação social ou etiquetagem social, deriva do inglês folksonomy e foi usado pela primeira vez por Tomas Vander Wal, que a define como "the result of personal free tagging of information and objects (anything with a URL) for one's own retrieval. The tagging is done in a social environment (usually shared and open to others). Folksonomy is created from the act of tagging by the person consuming the information." (Thomas Vander Wal, 2007)

Os pontos fracos e os pontos fortes

São unânimes as críticas às folcsonomias. Mathes (2004) acusa-as de gerar ambiguidade quando, por exemplo, vários usuários usam diferentes etiquetas para um mesmo documento ou conceito. A ausência de controlo e, com isto, a falta de unanimidade na etiquetagem são apontadas como as principais falhas.
A contradição entre o uso público e privado das etiquetas também surge como uma questão a explorar. Esta questão é ultrapassada quando se estudam as comunidades, os grupos que vão construindo um sistema de classificações de base comum. Este sistema de classificação garante alguma homogeneidade.

Frederick van Amstel adopta uma visão muito peculiar no estudo das folcsonomias. van Amstel vê as folcsonomias como o produto de grupos, e em larga medida, de culturas específicas capazes de regular o excesso de controlo imposto pelos organismos que normalmente regulam a sociedade e dos quais fazem parte a censura, as políticas culturais e, curioso, os dicionários! Como força de bloqueio ou mecanismo impulsionador de transformação deste controlo institucional ou, como o autor lhe chama, desta regulação vertical, surgem os movimentos de regulação horizontais, normalmente vistos, pelos organismos que fazem parte da regulação vertical, como marginais. Destes movimentos fazem parte, segundo van Amstel, os grupos ou redes sociais que produzem as folcsonomias. Visão interessante, impregnada de ideologia.

Mais neutral, Mathes resume num parágrafo as principais objecções às folcsonomias, apontando também, não obstante, a sua importância:
"A folksonomy represents simultaneously some of the best and worst in the organization of information. Its uncontrolled nature is fundamentally chaotic, suffers from problems of imprecision and ambiguity that well developed controlled vocabularies and name authorities effectively ameliorate. Conversely, systems employing free-‍form tagging that are encouraging users to organize information in their own ways are supremely responsive to user needs and vocabularies, and involve the users of information actively in the organizational system. Overall, transforming the creation of explicit metadata for resources from an isolated, professional activity into a shared, communicative activity by users is an important development that should be explored and considered for future systems development." (Adam Mathes, 2004)

Imagem: last.fm
Referências:
- Peter Merholz (2004). "Metadata for the Masses" http://www.adaptivepath.com/ideas/essays/archives/000361.php
- Thomas Vander Wal (2007). "Folksonomy"http://www.vanderwal.net/folksonomy.html;
- Adam Mathes (2004). "Folksonomies - Cooperative Classification and Communication Through Shared Metadata" http://www.adammathes.com/academic/computer-mediated-communication/folksonomies.html;
- Frederick van Amstel (?) "Folcsonomia: Vocabulário Descontrolado, Anarquitetura da Informação ou Samba do Crioulo Doido?" http://www.slideshare.net/usabilidoido/folcsonomia-vocabulrio-descontrolado-anarquitetura-da-informao-ou-samba-do-crioulo-doido/

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