O papel dos intelectuais e o pensamento burocrático, por Pablo Ortellado

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"[...] Embora os temas no campo social e político estejam, em princípio, ao alcance de qualquer cidadão, a estrutura profissional universitária que monopoliza o saber e o esvazia de conteúdos substantivos, tem, por sua própria ação, tornado esses assuntos obscuros. Ao fortalecer a crença de que os assuntos sociais e políticos são muito complexos e que a sua compreensão adequada exige uma formação profissional e muitos anos de estudo, nossas instituições terminam por concretizar a própria profecia. Assim, os temas apresentados nos jornais ou nas discussões acadêmicas são cada vez mais despidos das questões substantivas, concentrados em questões obtusas de meios e envolvidos num jargão técnico completamente dispensável, de forma que o cidadão interessado nesses assuntos precisa se envolver num verdadeiro projeto de pesquisa para se inteirar dos fatos e poder emitir uma opinião fundamentada. 
[...] Para os dissidentes dessa nova geração, é preciso resgatar o sentido substantivo do discurso que está sendo corroído pelas abordagens técnicas que dominam a universidade e os meios de comunicação; é preciso evitar o jargão, o discurso prolixo e a teorização desnecessária que fazem o simples parecer complexo; é preciso fugir da especialização tecnicista que aliena o pensamento do público e lhe rouba a autonomia; é preciso, ao contrário, trabalhar para resgatar os saberes expropriados, investigando da maneira mais séria e apresentando os resultados da maneira mais clara; é preciso combater com todas as forças o discurso da autoridade técnica que fundamenta o monopólio do saber sobre assuntos sociais pelos especialistas; [...]; é preciso usar esta autoconsciência para apoiar de maneira estratégica os movimentos populares, com o pleno entendimento das contradições e impasses que essa condição privilegiada impõe no relacionamento com eles; é preciso sair da passividade conformista impulsionada pelo discurso burocrático que coloca os intelectuais na falsa posição neutra de discutir a adequação dos meios técnicos e retira deles a responsabilidade de discutir e atuar com respeito aos fins; é preciso, em resumo, trair a própria classe. "
Excerto de Pablo ORTELLADO (2005), em "Pensamento burocrático". Para ler na íntegra aqui.


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