Ainda sobre o galego e a lusofonia (ou direi... português... ou antes... galego ?)
03:18
Devo confessar que as questões acerca do galego que agora me surgem com os debates acerca do acordo ortográfico nunca se me puseram. Desconhecia as posições que acabei por conhecer através de um post de Álvaro Iriarte Sanromán, meu professor na Universidade do Minho. E pode ler-se neste post o seguinte:
A questão interessou-me por razões pessoais e ela tem feito surgir muitas perguntas. Uma das perguntas que me tenho posto é a seguinte: não estaria a proposta reintegracionista, ou lusista (como apresentada acima) a tentar legitimar algum separatismo nacionalista totalmente desvinculado de Espanha? A legitimidade ou não deste separatismo é outra questão, muito interessante também, mas, num outro âmbito (ou não, e talvez o debate deva começar, efectivamente por aí, pelos conceitos "nação" ou "nacionalidade").
E a este respeito estive a ler o artigo de José Manuel Barbosa intitulado "Galiza e Portugal: umha ou duas naçons?" disponível no Portal Galego da Língua.Pode ler-se na conclusão deste artigo o seguinte:
Eu pergunto-me se este debate está aceso na Galiza, porque, a verdade é que por cá, é como se ele nunca tivesse existido: a Galiza sempre foi parte de Espanha e nunca se colocou a hipótese contrária.
O que me parece curioso verificar é que os grandes esforços para acompanhar a língua e a cultura portuguesas por parte da Galiza não têm merecido igual tratamento por parte de Portugal (corrijam-me se estou errada). Ainda há pouco tempo também fiquei a conhecer o sítio "Português para nós", um curso multimédia de português para galegos, uma iniciativa desenvolvida, creio, pela Direcção Geral de Juventude e Solidariedade da Junta da Galiza. Ora, não deveria ser Portugal o promotor de iniciativas desta natureza?
E, talvez a propósito ou não, ontem celebrou-se o 10º aniversário da Carta Europeia das línguas regionais ou minoritárias. No passado dia 9 de Maio pôde ler-se no sítio Eurolang a notícia de que a França se recusara a ratificar esta Carta. Dois dias antes, a 7 de Maio, o Le Figaro noticiava a crise política belga originada pelo conflito linguístico, surgido já em Novembro de 2007, como vem documentado no sítio notícias.rtp.pt.
No dia em que o Acordo Ortográfico vai novamente à Assemblia da República para ser discutido, deixo aqui, em tom de provocação, as palavras de José Manuel Barbosa no artigo referido anteriormente:
Nem português de Portugal nem português do Brasil. Nós falamos é galego!
«Outra coisa é responder à pergunta “O que é o galego?” (e aqui já começo a dar resposta à segunda questão que me foi colocada).
Simplificando muito, podemos dizer que há 2 respostas, que se correspondem com os 2 grandes (e antagónicos) projectos de normalização (transformação de uma língua em veículo “normal” de comunicação numa comunidade linguística) e normativização (construção de um padrão culto) existentes na Galiza:
- a autonomista (ou isolacionista), que defende a consolidação do que hoje poderíamos muito bem chamar de galego-castelhano (norma da Real Academia Galega, RAG).
- a reintegracionista (ou lusista) que defende uma norma para o galego que poderíamos chamar de galego-portuguesa (norma da Associaçom Galega da Língua, AGAL), ou, simplesmente, português da Galiza.»
E a este respeito estive a ler o artigo de José Manuel Barbosa intitulado "Galiza e Portugal: umha ou duas naçons?" disponível no Portal Galego da Língua.Pode ler-se na conclusão deste artigo o seguinte:
«A história da Galiza nom é a da Lusitánia, nem é a de Castela; e que Portugal exista independente explica-se da mesma forma que se explica a existência duns Estados Unidos independentes da Inglaterra. Assim para a Galiza a existência de Portugal é positiva sempre do ponto de vista lingüístico como defendérom Rodrigues Lapa, Guerra da Cal e Carvalho Calero, pois fai que o nosso idioma tenha umha presença real em organismos internacionais e concretamente europeus, vantagem com a que nom contam os cataláns, bascos, ocitanos, bretons e outras naçons sem Estado da Europa. Contodo em assuntos da língua nom devem intervir problemas alheios à mesma, ainda que de facto nom é assim, como por exemplo interesses políticos, por isso que o as falas galegas e as portuguesas sejam umha mesma língua é um facto cientificamente demonstrável, mas que em questons de história som os assuntos políticos os que prevalecem. Vemos portanto que a política é a que fai a história e esta é a que cria ou destrói naçons.
Mesmo exaltando o espírito de unidade europeia e de solidariedade entre nações, é muito claro o que J. Manuel Barbosa propõe aqui. As últimas linhas deste artigo são muito evidentes.De todos os jeitos as relaçons políticas ideais entre os dous territórios nacionais do ocidente peninsular seriam assumto para um livro, ou melhor, para umha colecçom de livros sobre teoria de conformaçom nacionalitária. Do nosso ponto de vista reconhecemos no Norte umha Naçom chamada Galiza, herdeira da velha Gallaecia histórica criada polo Império Romano sobre base céltica ou celtizada que ocuparia do rio Douro para Norte até o mar Cantábrico. No Sul reconhecemos outro território que chamaremos Lusitánia, embora só corresponda à Lusitánia ocidental romana, já que a oriental pertence ao actual Estado Espanhol fazendo parte das actuais regions de Castela-Leom, Castela a Mancha e Estremadura, onde ficaria a capital histórica romana: Mérida. Esta Lusitánia foi zona de expansom galaica durante a Idade Média até o ponto que a sua língua é a originária da Galiza, portanto, zona na que os interesses nacionais galegos som claros mas com caracterologia autoctone salientada pola sua maior romanizaçom, islamizaçom e moçarabizaçom, em soma, por umha idiossincrasia mais mediterránea. Assim, a nossa proposta seria a dum ente político Bi-nacional galaico-lusitano que poderíamos chamar Portugaliza conformado pola Galiza e pola Lusitánia ocidental, ambas com direito de autodeterminaçom numha unidade confederada ao estilo suíço ou seguindo o modelo belga onde cada território desenvolveria livremente a sua personalidade com total independência interna sob umha unidade superior portugalega integrada numha Europa unida da qual faria parte de facto e de direito.» (sublinhado meu)
Eu pergunto-me se este debate está aceso na Galiza, porque, a verdade é que por cá, é como se ele nunca tivesse existido: a Galiza sempre foi parte de Espanha e nunca se colocou a hipótese contrária.
O que me parece curioso verificar é que os grandes esforços para acompanhar a língua e a cultura portuguesas por parte da Galiza não têm merecido igual tratamento por parte de Portugal (corrijam-me se estou errada). Ainda há pouco tempo também fiquei a conhecer o sítio "Português para nós", um curso multimédia de português para galegos, uma iniciativa desenvolvida, creio, pela Direcção Geral de Juventude e Solidariedade da Junta da Galiza. Ora, não deveria ser Portugal o promotor de iniciativas desta natureza?
E, talvez a propósito ou não, ontem celebrou-se o 10º aniversário da Carta Europeia das línguas regionais ou minoritárias. No passado dia 9 de Maio pôde ler-se no sítio Eurolang a notícia de que a França se recusara a ratificar esta Carta. Dois dias antes, a 7 de Maio, o Le Figaro noticiava a crise política belga originada pelo conflito linguístico, surgido já em Novembro de 2007, como vem documentado no sítio notícias.rtp.pt.
No dia em que o Acordo Ortográfico vai novamente à Assemblia da República para ser discutido, deixo aqui, em tom de provocação, as palavras de José Manuel Barbosa no artigo referido anteriormente:
«Do ponto de vista lingüístico nom houvo nunca na Galiza mente preclara nacionalista que negasse a substancial unidade lingüística da Galiza e de Portugal, pois ambas as naçons se exprimem numha única língua histórica, mal chamada “português”, mas também nom houvo na história nengumha mente brilhante que favorecesse a assimilaçom da variante Norte pola variante do Sul, em todo caso o que si tem havido é a tentativa de unificaçom ortográfica e morfológica.
As variedadess internas actuais entre o galego da Galiza e o galego de Portugal devem-se a circunstáncias históricas que lhe dam personalidade original a cada umha das diferentes falas. Se o Algarve foi colonizado aos moçárabes e neste território falam o galego com umha peculiaridade autóctone, e se o galego do Brasil evoluiu de forma própria até dar umha formosa variante actual americana original a respeito de galego da Lusitánia, os galegos temos o direito e o dever de protegermos a nossa riqueza arcaica e singular incluso na escrita, sempre sem deixarmos de lado a nossa pertença ao mundo lingüístico comum.[...]
Por todo isto manifestamos a nossa vontade de falarmos e escrevermos galego correcto, mas falá-lo e escrevê-lo tal qual as características próprias da Galiza, nom o galego do Algarve, nem o galego de Minas Gerais; e assim se no Brasil escrevem,“tranqüilo” pronunciando com “u” e grafando com trema, e em Portugal escrevem “tranquilo” e pronunciam à portuguesa, nós queremos escrever “naçom” e pronunciar à galega, por muito que em Portugal e no Brasil escrevam “nação” e pronunciem segundo a forma galega, lusitana ou as diferentes pronuncias sul-americanas. Também manifestamos o nosso desejo de no futuro confluirmos numha única norma comum galego-luso-brasileira,sem perdermos nunca as nossas variantes léxicas, de morfologia e sintaxe, ou de pronúncia, polo que a forma “nação” seria tam válida como “naçom” e “uma” o mesmo que “umha” o qual nom impossibilitaria a unidade cara os organismo internacionais como a Uniom Europeia.» (sublinhado meu)
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