Dicionários contra a pobreza
20:24
Quando em Março passado lia o artigo de Pere Estupinyà no blog Apuntes Científicos desde el MIT intitulado "Ciencia contra la pobreza" não consegui deixar de perguntar-me se áreas de estudo como as Ciências da Linguagem não poderiam, de alguma forma, contribuir com o seu legado para atenuar a carência das populações mais pobres. Sabia desde há muito que a educação desempenha, a longo prazo, uma função importante nestas questões, mas não ao ponto de propor que os dicionários e as gramáticas pudessem ser a solução para a pobreza. Não o propus eu mas fê-lo John Rennison's, professor no departamento de linguística da Universidade de Viena.
Num curto artigo intitulado "Dicionaries are the answer" Rennison's não só reitera a proposta de que a educação é a única solução para acabar, a longo prazo, com as desigualdades sociais em países onde se verifica extrema pobreza como acrescenta:
Num curto artigo intitulado "Dicionaries are the answer" Rennison's não só reitera a proposta de que a educação é a única solução para acabar, a longo prazo, com as desigualdades sociais em países onde se verifica extrema pobreza como acrescenta:
"The only thing that the North can give to the South for this long-term solution is dictionaries and grammars. The local people are perfectly well able to organise their own literacy courses and their education in general. In fact, organising their education for them would constitute undue interference. The only expertise that is completely unavailable at a local level is the linguistic expertise needed to analyse a language. Of course, such analysis and preparation of dictionaries must, by its very nature, be carried out in close co-operation with local people."E aqui Rennison's é muito claro: os dicionários e as gramáticas a desenvolver deverão ser construídos "em cooperação com a população local". Rennison's não está a pensar numa imposição de línguas estrangeiras, mas um trabalho local de estudo das línguas locais faladas por estas populações. Como refere o linguista no final do seu artigo,
"The UN Universal Declaration of Human Rights actually omits the most basic of human rights: every human being should have the right to read (or at least hear) the Universal Declaration of Human Rights in his/her own language. Language diversity, especially in the developing countries, is a fact that can’t be denied and won’t go away if we ignore it. The only solution is to analyse the languages and produce affordable dictionaries."
Rennison's trabalha há vinte anos num dicionário bilingue de koromfe-inglês, que se encontra acessível em http://www.univie.ac.at/linguistics/personal/john/kd/Index.html. Mais informações sobre o koromfe podem ser encontradas em http://www.univie.ac.at/linguistics/personal/john/burkina_faso.htm.
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