"Divertimento e desinformação"


"Leio atentamente o The New York Times e outros jornais de elite por várias razões. Em primeiro lugar, porque são eles que determinam a agenda, limitando-se os outros a segui-los. Depois, porque pertencem à cultura intelectual dominante, o que me interessa particularmente. Não há qualquer dúvida de que a indústria do infotainment [info-entretenimento] é enorme. Tal como os seus dirigentes têm a gentileza de nos explicar, eles estão vocacionados, por um lado, para estabelecer o controlo «off-job» (fora do trabalho) como contrapartida do controlo «on-job» (no trabalho) dos sistemas tayloristas concebidos para transformar os trabalhadores em robôs inconscientes e obedientes; e, por outro lado, para desviar a atenção do povo para «as coisas superficiais da vida, como o consumo e a moda», e para inculcar na população uma «filosofia da futilidade».
É sem dúvida importante sublinhar tudo isto, e existem bons estudos sobre este tema, que tenho citado muitas vezes. Fico contente por deixar este trabalho a outros, que creio, o fazem muito bem. Porque eu não conheço o tema muito bem e não tenho o interesse nem os recursos necessários para aprender mais, por exemplo sobre a televisão. Em contrapartida, a análise crítica da cultura intelectual e dos meios de comunicação social de elite que determinam a agenda é, e isso não é surpreendente, um trabalho pouco apreciado pelas elites intelectuais e, em consequência, é muito poucas vezes feito de forma séria. (...) Penso que as questões relativas à maioria da população são colocadas de forma injusta. Não conheço nenhum elemento que possa indicar que ela está mais sujeita aos assaltos da propaganda do que a elite intelectual, e tenho boas razões para suspeitar que o contrário possa bem ser verdadeiro."

Excerto de Chomsky, citado por Jean Bricmont e Julie Franck (dir.) "Chomsky", Cahiers de l'Herne, nº 88, Paris apud Le monde Diplomatique - edição portuguesa, maio 2010, p. 13

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