Conseguem ver?

11:40

Sempre desconfiei que havia alguma coisa de errado com a forma como eu vejo as cores. Quando era criança lembro-me de confundir, nos desenhos que tinha de pintar, o verde com o castanho ou o roxo com o azul. Algumas vezes chegava ao ponto de confundir verde com amarelo e até rosa com laranja. Era grave, pensava eu, infeliz e ostracizada pela minha ignorância das cores.
Mais tarde fui tentando desculpar a minha ignorância com a justificação de que o espectro das cores é extremamente complexo e que as cambiantes são profundamente mais originais do que a classificação que lhe atribuimos. Se olharmos bem, é praticamente impossível precisar onde começa o verde e acaba o azul, ou onde acaba o castanho e começa o verde. Fiquei feliz com esta justificação, tanto mais que ela foi confirmada pelo que li depois sobre categorização e sobre a teoria do protótipo, pressuposto essencial em Semântica Cognitiva. Havia verdes mais verdes que outros verdes e roxos mais roxos que outros roxos. E os roxos que eu confundia com os azuis e os verdes que eu confundia com os castanhos pertenciam a uma posição afastada dos protótipos das cores primárias que ninguém confunde.

Feliz estava eu por me achar novamente normal quando, há um ano atrás, numa experiência com tintas que fiz quando estava a ensinar as cores em inglês a meninos do 1º ciclo, me apercebi que todos eles conseguiam ver roxo onde eu só via azul (tínhamos juntado tinta azul escura e um pouco, mínimo, de magenta) e que conseguiam ver verde onde eu via apenas castanho (tínhamos juntado azul escuro com amarelo). Para os meninos foi certamente divertido, mas para mim foi, no mínimo, desanimador. Podia lá ser!? Não havia um único menino que confundisse as cores. E todos foram peremptórios: azul é azul, roxo é roxo. Não há roxos que são azuis nem verdes que são castanhos. Pois claro, pensava eu, eles dizem que roxo é roxo porque sabem que quando se junta magenta com azul é essa cor que se obtém. Estão condicionados a pensar e a ver assim porque foram a isso forçados pela lógica.
Ora, eu, que passara a minha infância a tentar fazer parte dos meninos normais que sabem distinguir verde de castanho ou roxo de azul não me ia dar por vencida. E reuni um conjunto de lápis e marcadores que me confundiam. Pois, já estão a ver o resultado: todos os meninos, sem hesitar, agruparam roxos de um lado e azuis de outro.
Pertencia novamente à categoria dos analfabetos da cor.

Ontem, através do blog fazendavirtual chego ao site Opticien-lentilles.com que disponibiliza um teste online para reconhecer a nossa percepção das cores. Segundo o teste eu tenho 45% de probabilidade de sofrer de daltonismo. O indicador de deuteranomalia registava 14% e o indicador de protanopia indicava 31 %.
É possível, pensava eu, tentando novamente justificar-me, na tentativa de me incluir novamente no grupo "os que conseguem distinguir azul de roxo e verde de castanho", é possível que a luz no ecrã, os reflexos e a luminosidade sejam variantes estranhas e que estejam a condicionar os resultados. Deixo aqui as imagens que eu não consegui acertar, na tentativa de que alguém me diga que também não consegue ver coisa nenhuma que não seja uma grelha. Talvez ainda haja esperança!
As respostas certas estão assinaladas a verde (eu acho). Se quiserem fazer o teste na íntegra podem fazê-lo aqui. E, já agora, aí vão mais dois testes: http://www.colblindor.com/color-arrangement-test, http://www.colblindor.com/rgb-anomaloscope-color-blindness-test/.



1 triângulo atrás da grelha
uma grelha apenas
1 círculo atrás da grelha



1 rectângulo atrás da grelha
uma estrela atrás da grelha
uma grelha apenas




uma letra atrás da grelha
uma grelha apenas
o número 8 atrás da grelha




uma grelha apenas
a letra A atrás da grelha
a letra V atrás da grelha




uma grelhas apenas
1 quadrado atrás da grelha
1 triângulo atrás da grelha



uma grelha apenas
a letra T atrás da grelha
a letra M atrás da grelha


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5 comentários

  1. Curiosamente não sou daltónico. 0% de probabilidade. Mas o que curti mesmo neste teste foi o Pretoguês usado. Nota-se uma tradução abrasileirada, mas que ainda deixa muito a desejar ;)

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  2. Eu que escrevi o texto da Fazenda, o número de daltonicos vem 'crescendo' com a informação da internet, mais e mais pessoas se descobrem sem querer. Alguns casos são mais graves mas a maioria como o meu pode levar uma vida sem saber. Eu trabalho com design e desenvolvimento para a web e poucas vezes influenciou meu trabalho.
    Fico feliz que tenha procurado respostas pro daltonismo devido ao meu post!

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  3. Eu acho que ser daltónico,não é ser ignorante,nem que tenha existido um aumento de casos como o teu,apenas foram "dignosticados"casos a pessoas que já o eram,antes de o saberem...
    E,acredita,que não existe consenso sobre certas cores,mesmo para quem não é!Se existem cores,assim como certas coisas na vida que ,ou são preto ou branco,outras há na sua maioria,que não o serão,poderão ser cinzento....

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  4. Olá Bela,
    Sim, concordo que não existe consenso sobre certas cores. De resto, as cores são categorias elaboradas pelo ser-humano. Há certas cores que podem pertencer não a uma mas a duas categorias. De qualquer forma, o daltonismo existe. Em casos mais graves, raros, o daltónico vê apenas tons cinza, entre o preto e o branco. É, de certa forma, cegueira.

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  5. Pat, eu não disse que não existiam daltónicos!Apenas ,entendo que não existe consenso para quem não é daltónico sobre muitas cores!

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