Língua

Farewell, Adam (1960-2015)

22:42



Today I write in English in honour of Adam Kilgarriff. It was a shock to hear the news of his passing.  
Adam was a renowned linguist, working with language corpora, word frequency distributions and corpus interfaces, among many other things. I first knew Adam in Oslo, Norway, in a Euralex conference. He was a charming, lively keynote speaker with a great sense of humour. 
I had the honour of meeting him personally in September 2012, in Galtür, Austria, in Lexicom 2012, one of many workshops of LexMC.
Today, my thoughts are with his family and friends. 

Farewell, Adam, you will be truly missed.

Política

Viver em guerra sem (querer) ser soldado

18:58

Terrorismo é, segundo a definição do pesquisador holandês Alex P. Schmid, "um método de acção violenta repetido, inspirando ansiedade, empregue por agentes clandestinos individuais, em grupos, ou estatais (semi-) clandestinos, por razões idiossincráticas, criminosas ou políticas, segundo o qual — por oposição ao assassinato — os alvos directos da violência não são os alvos principais. As vítimas humanas imediatas da violência são geralmente escolhidas ao acaso (alvos de ocasião), ou selectivamente (alvos representativos ou simbólicos), numa população alvo, e servindo de portadores da mensagem. Os processos de comunicação baseados na violência ou na ameaça entre as (organizações) terroristas, as vítimas (potenciais), e os alvos principais são utilizados para manipular o (público) alvo principal, tornando-o um alvo do terror, um alvo de exigências, ou um alvo de atenção, no qual a intimidação, a coerção, ou a propaganda é o principal objectivo" [1]
Os acontecimentos em França no início do ano vieram reacender o debate contra o terrorismo. Vieram lembrar-nos dos atentados no Reino Unido, em 2005, e em Espanha, em 2004. Desconcertante, porém não estranho, é observar que grande parte dos governos que repudiaram os atentados de Paris pelos denominados terroristas são os mesmos que reiteram, convictamente, o seu apoio às ações militares armadas contra esses mesmos supostos terroristas, em países como o Afeganistão e o Iraque. Às armas com as armas, este parece ser o lema por estes dias. Para não deixar escapar o momento, a extrema direita francesa apressou-se a aproveitar os incidentes para trazer para o debate público a questão da pena de morte.
Confesso que temi o conteúdo da edição do jornal Charlie Hebdo na semana após os atentados. O momento, penso, pedia contenção e sensatez. Creio que redação do jornal Charlie Hebdo as teve. Sensato foi também o presidente francês que decidiu não convidar a dirigente do partido da Frente Nacional francesa para a marcha de solidariedade com as famílias dos que morreram a 7 de janeiro.
Sensatas são, ainda, as palavras do primeiro-ministro francês no discurso de 20 de janeiro, que vêm pôr o dedo na ferida num tema que tem sido tratado, propositadamente, de forma superficial. Num tema que gera tantas animosidades, não é expectável que todos estejamos de acordo com as medidas a tomar para nos protegermos da violência, venha ela de onde vier. Não obstante, podemos todos começar por concordar que vivemos tempos delicados. 
Num tom muito mais ameno e cordial do que as declarações do Papa Francisco, proferidas dias antes, Manuel Valls fez um mea culpa, e levou-nos de volta ao ano de 2005, para revivermos os conflitos que tiveram lugar nas periferias de Paris. Também nessa altura se falava de integração e tolerância. 
No discurso de Valls faltou dizer, no entanto, que seria também sensato repensar a política de defesa francesa, bem como as relações diplomáticas com os países estrangeiros. Não podemos esquecer que a França, a pátria dos direitos humanos na Europa, como muita gente a vê, iniciou, em setembro de 2014, bombardeamentos contra bases do suposto Estado Islâmico no Iraque.  Os bombardeamentos aéreos dos chamados “aliados” ocidentais arrastam-se até ao dia de hoje, com o total apoio do atual governo iraquiano, financiado e apoiado por esses mesmos aliados ocidentais. Sobre a relação da França com o Emirado Islâmico do Iraque ou do Levante (EIIL), ver aqui e aqui:

Prosseguindo a sua investigação na direção errada, a imprensa traça o perfil dos terroristas e esquece-se de procurar os seus comanditários. Com ar sério, ela explica que esta vaga de atentados é uma colaboração entre membros da Al-Qaida, no Iémene, e do Daesh, quando as duas organizações se envolveram, desde há um ano, numa guerra feroz, que já provocou pelo menos 3.000 vítimas em ambos os campos.
A este propósito, eu espanto-me por estas referências; em breve, deverão encontrar uma nova que ligue este atentado à Líbia. De facto, se F. Hollande seguisse os passos de George W. Bush ele deveria atacar o Iémene, embora a França não tenha nisso grande interesse. Mas, o seu chefe de Estado-maior particular, o General Puga, prepara actualmente uma nova intervenção militar na Líbia. [2]

As cadeias de televisão internacionais ocidentais já deixaram de falar das mortes de civis no Médio Oriente, especialmente no Iraque. As ONG de defesa de direitos humanos, que poderiam trazer-nos notícias isentas do que está a acontecer ali, saíram de alguns pontos sensíveis do país. Sobrou a ONU, cuja presença depende da boa vontade do governo e é por ele protegida. Militares armados protegem os bunkers onde os funcionários da ONU trabalham, isolados e “protegidos” da população civil ou dos supostos terroristas. As outras notícias vêm de canais não ocidentais.  Os mortos  vão-se transformando em números em relatórios que já a ninguém interessam. 
Não podemos esquecer também, por fim, quem financiou e apoiou (e continua a fazê-lo), os rebeldes sírios aquando dos protestos que começaram em 2011. Em março de 2014, várias agências noticiosas revelaram histórias de testemunhas de treinamento militar dado pelos EUA em 2012 a membros do atual ISIS. Ainda há poucos dias, o porta-voz do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, veio anunciar novo apoio e treinamento aos rebeldes sírios moderados. 
E ainda sobre a obscura ligação dos EUA aos rebeldes da Síria e sobre a sua guerra contra o terrorismo, vale a pena ler este artigo de Thierry Meyssan, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace.
Vivemos tempos conturbados e os tempos atuais pedem pessoas sensíveis, não generais treinados e experientes em táticas de guerra. Pedem pessoas com uma visão global do mundo, que ponha de lado, por um instante que seja, os interesses locais ou nacionais, e não dirigentes políticos autoritários que erguem muros e semeiam o medo em nome da segurança. Os tempos atuais pedem, enfim, pessoas extraordinárias. 
Estaremos nós à altura do nosso tempo? 
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[1] Alex P. Schmid and Alebert J. Jongman (1988). Political Terrorism: A New Guide To Actors, Authors, Concepts, Data Bases, Theories, And Literature. Transaction Publishers, pp. 1-2 apud Thierry Meyssan (2014). terrorismo visto de Washington”, Rede VoltaireTradução Alva, 5 de maio de 2014
[2] Thierry Meyssan (2015). O Charlie Hebdo tem as costas largas”, Rede VoltaireTradução Alva, 14 de janeiro de 2015.




Atualização a 18/05/2015, às 13h00.

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