E. U. A.

A lucidez de Chomsky

00:17

Foto: John Soares, retirada de http://www.chomsky.info/


À falta de palavras minhas, consequência do desânimo perante o estado económico, político e social do país e do mundo, tomo as de Chomsky, proferidas no dia 13 de Março, na Holanda, e que podem ser lidas na íntegra aqui.

"While wealth and power have narrowly concentrated, for most of the population real incomes have stagnated and people have been getting by with increased work hours, debt, and asset inflation, regularly destroyed by the financial crises that began as the regulatory apparatus was dismantled from the 1980s.

None of this is problematic for the very wealthy, who benefit from a government insurance policy, called "too big to fail." The banks and investment firms can make risky transactions, with rich rewards, and when the system inevitably crashes, they can run to the nanny state for a taxpayer bailout, clutching their copies of Hayek and Milton Friedman. That has been the regular process since the Reagan years, each crisis more extreme than the last -- for the public population, that is. Right now real unemployment is at Depression levels for much of the population, while Goldman Sachs, one of the main architects of the current crisis, is richer than ever. [...]

It wouldn't do to focus attention on such facts as these. Accordingly, propaganda must seek to blame others, in the past few months, public sector workers, their fat salaries, exorbitant pensions and so on [...]. We all must tighten our belts; almost all, that is.

Teachers are a particularly good target, as part of the deliberate effort to destroy the public education system, from kindergarten through the universities, by privatization -- again, good for the wealthy, but a disaster for the population, as well as the long-term health of the economy, but that is one of the externalities that is put to the side insofar as market principles prevail.

Another fine target, always, is immigrants. That has been true throughout US history, even more so at times of economic crisis, exacerbated now by a sense that our country is being taken away from us: the white population will soon become a minority. One can understand the anger of aggrieved individuals, but the cruelty of the policy is shocking. [...]

Much the same appears to be happening in Europe, where racism is probably more rampant than in the US. [...] "


Como é que uma minoria tão insignificante consegue controlar tão bem um mundo inteiro?
"As long as the general population is passive, apathetic, diverted to consumerism or hatred of the vulnerable, then the powerful can do as they please, and those who survive will be left to contemplate the outcome."

Arte

Hoje é Dia Mundial do Teatro

12:47

O Dia Mundial do Teatro foi criado em 1961 pelo Instituto Internacional do Teatro com o intuito de promover e celebrar o teatro em todo o mundo.

Como muito bem reconhece Jessica Kaahwa, Professora no Departamentos de Dança, Música e Drama no Instituto Makerere no Uganda, o teatro é uma poderosa ferramenta de paz e reconciliação:


"Have you ever imagined that theatre could be a powerful tool for peace and reconciliation? While nations spend colossal sums of money on peace-keeping missions in violent conflict areas of the world, little attention is given to theatre as a one-on-one alternative for conflict transformation and management. How can the citizens of mother-earth achieve universal peace when the instruments employed come from outside and seemingly repressive powers?

Theatre subtly permeates the human soul gripped by fear and suspicion, by altering the image of self - and opening a world of alternatives for the individual and hence the community. It can give meaning to daily realities while forestalling an uncertain future. It can engage in the politics of peoples' situations in simple straightforward ways. Because it is inclusive, theatre can present an experience capable of transcending previously held misconceptions. [...]"

(Jessica Kaahwa, autora da Mensagem Internacional do ano 2011, no Instituto Internacional do Teatro http://www.world-theatre-day.org/picts/Com_Press_WTD2011EN.pdf).


É minha convicção que o grau de evolução de uma sociedade está intimamente relacionado com a importância que dá à arte e à cultura.

Comunicação Social

Esteriótipo=preconceito=cliché

13:42



Definição de estereótipo da Wikipedia (PT):

Estereótipo é a imagem preconcebida de determinada pessoa, coisa ou situação. São usados principalmente para definir e limitar pessoas ou grupo de pessoas na sociedade. [...]
Conceito infundado sobre um determinado grupo social, atribuindo a todos os seres desse grupo uma característica, frequentemente depreciativa; modelo irrefletido, imagem preconcebida e sem fundamento.
O Estereótipo também é muito usado em Humorismo como manifestação de racismo, homofobia, xenofobia, machismo e intolerância religiosa. É muito mais aceito quando manifestado desta forma, possuindo salvo-conduto e presunção de inocência para atingir seu objetivo.
Vale a pena espreitar este artigo do The Guardian sobre algumas das consequências deste estereótipo particular.
Alguém da área me pode explicar o porquê da predilecção dos anunciantes por este tipo de abordagem?

Direitos

O povo saiu à rua num dia assim

19:41


Hoje, milhares de pessoas saíram à rua num protesto que se pretendia, e soube ser, laico, pacífico e apartidário. A mensagem essencial passou: não à precariedade e não ao desemprego.
Nas ruas viram-se jovens, mas viram-se também menos jovens, aposentados, pais e avós. Viu-se gente de diferentes cores políticas, viu-se gente de diferentes classes sociais. Gente com interesses políticos e gente sem partido. Gente mais revoltada e gente mais conformada. Gente mais participativa e gente menos interessada. Gente apoiante incondicional da manifestação e gente crítica dela.
Mas estavam lá todos. Estavam presentes, a exprimir democraticamente o seu protesto, a juntar a sua voz à voz de todos, reclamando não apenas da miséria em que o país se afundou mas, principalmente, da incapacidade da classe política de ouvir os cidadãos e de lhes apresentar soluções para os seus problemas.
Hoje saí à rua porque já fui emigrante, e porque defendo que a emigração deveria ser uma escolha e não uma obrigação.
Hoje saí à rua porque tenho familiares emigrados por obrigação, longe dos filhos, dos esposos e dos pais.
Hoje saí à rua porque já fui desempregada. 
Hoje saí à rua porque já fui precária, e porque sei que os precários não têm voz,  sindicato ou qualquer tipo de representantes. Hoje saí à rua por solidariedade com quem hoje vive em situação precária.
Hoje saí à rua porque sei que essa solidariedade me será devolvida.
Hoje saí à rua porque sei que o "faz-te à vida" também se faz na rua.
Hoje saí à rua porque acredito que as medidas políticas a favor do bem geral favorecem a sociedade como um todo.
Hoje saí à rua porque me revoltam as esmolas.
Hoje saí à rua porque me revolta a falta de transparência das contas públicas.
Hoje saí à rua porque acredito no estado social, no contrato social e na democracia participativa. 
Deixo aqui, os artigo 9º e 59º, retirados da Constituição da República Portuguesa (sublinhado meu) e espero que a classe política e o Governo tirem conclusões deste dia:


Artigo 9.º
Tarefas fundamentais do Estado
São tarefas fundamentais do Estado:
a) Garantir a independência nacional e criar as condições políticas, económicas, sociais e culturais que a promovam;
b) Garantir os direitos e liberdades fundamentais e o respeito pelos princípios do Estado de direito democrático;
c) Defender a democracia política, assegurar e incentivar a participação democrática dos cidadãos na resolução dos problemas nacionais;
d) Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses, bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais, mediante a transformação e modernização das estruturas económicas e sociais;
e) Proteger e valorizar o património cultural do povo português, defender a natureza e o ambiente, preservar os recursos naturais e assegurar um correcto ordenamento do território;
f) Assegurar o ensino e a valorização permanente, defender o uso e promover a difusão internacional da língua portuguesa;
g) Promover o desenvolvimento harmonioso de todo o território nacional, tendo em conta, designadamente, o carácter ultraperiférico dos arquipélagos dos Açores e da Madeira;
h) Promover a igualdade entre homens e mulheres.

Artigo 59.º
Direitos dos trabalhadores
1. Todos os trabalhadores, sem distinção de idade, sexo, raça, cidadania, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, têm direito:
a) À retribuição do trabalho, segundo a quantidade, natureza e qualidade, observando-se o princípio de que para trabalho igual salário igual, de forma a garantir uma existência condigna;
b) A organização do trabalho em condições socialmente dignificantes, de forma a facultar a realização pessoal e a permitir a conciliação da actividade profissional com a vida familiar;

c) A prestação do trabalho em condições de higiene, segurança e saúde;
d) Ao repouso e aos lazeres, a um limite máximo da jornada de trabalho, ao descanso semanal e a férias periódicas pagas;
e) À assistência material, quando involuntariamente se encontrem em situação de desemprego;

f) A assistência e justa reparação, quando vítimas de acidente de trabalho ou de doença profissional.

Direitos

Hoje estou na rua

14:43


Hoje estou na rua e luto por um Estado Social que invista no ser-humano e que permita a todos viver com dignidade.
Estou na rua pela nossa "geração rasca", pelas gerações dos meus pais e avós, que lutaram a ferro e fogo, e pela geração dos nossos filhos.

América latina

Quem é o povo?

00:37

Porque é que falamos sempre de 'povo', da massa, como se fosse uma terceira pessoa? É sempre o Outro. Não há 'nós' nem 'eu' no povo. Como se a ele não pertencêssemos. Como se ele fosse um conceito disforme e abstracto com o qual podéssemos filosofar, mas não interagir: um interessante objecto de estudo para ser analisado à lupa, mas com uma certa distância científica, para garantir a objectividade.

Como se o povo fosse de um tempo passado ou futuro, mas não de hoje. Como se fossemos todos qualquer outra coisa que não povo. Como se ninguém quisesse fazer parte dele.

Ninguém quer ser povo!

Porque toda a gente reclama do povo. Todos dizem que o povo não age, o povo está apático, o povo resigna-se, o povo é ignorante, a culpa é do povo, é do povo, coitado.

Mas quem é o povo senão 'eu' e 'nós'?

Movimentos Sociais

Dia Internacional da Mulher

00:58

As Nações Unidas (NU) estimam que 70% das mulheres em todo mundo irá ser vítima de violência no decorrer da sua vida.
Hoje, Dia Internacional da Mulher, as NU lançaram um convite à comunidade criativa europeia para criar um anúncio com o fim de denunciar e travar a violência contra as mulheres. O convite faz-se sobre a forma de concurso, o Create4theUN.
O concurso conta com a colaboração de parceiros dos meios de comunicação social de três países europeus: Portugal, Espanha e Itália e tem três prémio finais no valor total de 9.000 euros. O concurso está aberto desde hoje, 8 de Março de 2011, até 31 de Maio de 2011 a tod@s @s cidadãos e cidadãs europeus e europeias (profissionais ou não da Comunicação Social), mas as NU apelam ao envolvimento dos cidadãos e cidadãs de outras nacionalidades, quer através da divulgação da mensagem, quer através da votação no seu anúncio favorito (a partir de Junho).
Os vencedores ou as vencedoras do concurso serão anunciad@s a 25 de Novembro de 2011, Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.
Para saber mais sobre o concurso, consulte o site www.create4theun.eu.
Boa sorte!

Anarquia

Do conflito de gerações

12:34





É preciso um esforço para nos colocarmos no lugar do Outro, viver nos seus sapatos e olhar além do supérfluo. A juventude de hoje não está parada, submissa ou resignada. Optou, sim, por outros meios de luta, dá valor a outras formas de protesto, insurge-se de maneiras pouco ortodoxas ou tradicionais. Já aqui escrevi sobre o presente da geração de jovens de 80 e 90, a geração do epíteto "rasca". Hoje, dou a palavra a Leonel Moura, que, ao contrário de outros cronistas bem instalados no seu pedestal, que proferem vitupérios à geração que ajudaram a criar (e por isso tão responsáveis pelos seus comportamentos como os próprios), consegue calçar os nossos sapatos e dar opiniões fundamentadas e informadas:

"Para usar velhas terminologias, os jovens de hoje são fundamentalmente anarquistas pacifistas, o que pode parecer uma contradição dos termos, mas não é. Embora a violência possa surgir, vide manifestações anticapitalistas um pouco por toda a parte ou as rebeliões na Tunísia e Egito, não se trata aqui do anarquismo dos atentados, da desordem e da má fama dos discursos ligeiros. Mas aquele que deriva do apelo da liberdade, do ser libertário, do não apreciar chefes e hierarquias. E sobretudo aquele que valoriza ao máximo a autonomia individual e o tomar o destino nas próprias mãos. Um anarquismo que nasce da própria lógica da Internet e das redes sociais, onde não existem chefes nem mandantes e cada um dá e partilha o seu contributo próprio. Um anarquismo que emerge em determinadas situações, muito à maneira das ideias e práticas do bando pioneiro de Guy Debord."
(artigo "Os novos anarquistas" de Leonel Moura, no Jornal de Negógios online, sublinhado meu).

Vale a pena ler o artigo todo.

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