Filosofia

Para ler

22:07

Tenho em dívida dois posts para dois livros editados recentemente. O primeiro é para o dicionário de Espanhol-Português, coordenado por (pelo Professor) Álvaro Iriarte Sanromán e editado pela Porto Editora. O outro é para o livro À luz da Kabbalah, de José Cunha Rodrigues, editado pela Guerra e Paz.
Estava à espera de os ter em mãos e de os consultar/ler para postar um comentário. É verdade que já os tenho em mãos, mas como sei que vai demorar um bom tempo até que consiga fazer os comentários que ambos me merecem, ficam aqui as referências e a promessa de lhes dedicar mais atenção logo que me seja possível.


Iriarte e Sanromán, A. (coord.), A. Leal de Barros, A. Bárbolo Alves, I. das D. Guedes Vilar Mota, S. Real Peña e A. Iriarte Sanromán (2008) Dicionário de Espanhol­­­-Portu­­guês. Porto: Porto Editora

(Uma análise de algumas características do dicionário pode ser lida em debuxos)




Rodrigues, José Cunha (2008) À luz da Kabbalah. Lisboa: Guerra e Paz

(Obrigada Zé por me incluires na lista dos agradecimentos. Não sei muito bem o que foi que eu fiz, mas fiquei comovida!)


Já só faltam os autógrafos!
Parabéns e muito sucesso!

Ciência

"Ciencia contra la pobreza"

18:46

"Hoy os voy a hablar del laboratorio más rudimentario del MIT. Dejemos de lado la high tech, los nanotubos, o los robots de última generación. ¿Por qué? Porque hay un equipo cuyo objetivo es mucho más simple: aprovechar las ingeniosas mentes de los estudiantes del MIT para solucionar problemas concretos de países en vías de desarrollo. La condición: hacerlo de manera sencilla y barata para que pueda ser implantada fácilmente por la comunidad que la reciba. No se trata de regalarles molinos eléctricos para triturar el grano y producir harina, sino ayudarles a diseñar un aparato que ellos mismos puedan construir, expandir, y reducir la enorme cantidad de mujeres que pasan largas horas haciendo este proceso de forma manual. El D-Lab representa otra verdadera transferencia de conocimiento entre uno de los centros responsables de la actual revolución tecnológica, y rincones del planeta que están todavía lejos de la revolución industrial.
La clase del D-Lab es una de las más solicitadas por los estudiantes del MIT. Cada año se hacen sorteos para seleccionar a los afortunados, cuyo proyecto será analizar las necesidades identificadas por ONG’s o miembros del D-Lab, buscar soluciones, viajar tres semanas a los países de origen, trabajar con la gente local para resolver la problemática en cuestión, y recibir la recompensa emocional que supone ayudar de forma noble a personas que lo puedan necesitar. Muchos definen esta asignatura como la más influyente de sus estudios, y algunos han decidido reorientar su carrera profesional hacia el mundo de la cooperación."
Pere Estupinyà, "Ciencia contra la pobreza (II)" (17/03/08)
Fonte: lacomunidad.elpais.com Via: alternativa-voluntarios@googlegroups.com (João Linhares:http://jmlinhares.googlepages.com)
Alguma coisa parecida para as humanidades?

Filosofia

Dos sábios

16:41

"Outra sabedoria e defesa de nós próprios consiste em reagir o menos possível, subtraindo-nos às situações e condições por virtude das quais nos veríamos condenados a suspender de certo modo a nossa liberdade e a nossa iniciativa, para nos tornarmos um simples órgão de reacção. Adopto como termo de comparação as nossas relações com os livros: o sábio que se contenta em compulsar volumes - no filólogo de aptidões médias eleva-se o número a uns 200 por dia - acaba por perder completamente a capacidade de pensar por si próprio. Se não mexe em livros, não pensa; responde, quando pensa, a uma excitação (uma ideia lida) e limita-se, por fim, a reagir. O sábio gasta toda a sua energia em dizer sim e não, na crítica do que foi pensado por outros; mas por si próprio já não pensa. Enfraqueceu nele o instinto de defesa; caso contrário, pôr-se-ia em guarda contra os livros. O sábio é um decadente. Vi com os meus próprios olhos seres bem dotados, de forte originalidade, que ao chegarem aos trinta anos se corrompem pela leitura. Tal como os fósforos, esses, para darem luz, «ideias», carecem de fricção. Ler um livro nas primeiras horas da manhã, quando o dia começa, quando o espírito possui toda a sua frescura, isso então chamo-lhe eu vício!"

Friedrich NIETZSCHE (2004). Ecce Homo. Lisboa: Guimarães Editores. Pp. 55-56


Filosofia

Dos discípulos e dos crentes

16:20

"Agora vou sozinho. Oh! Meus discípulos! Também vós ides sozinhos! Assim o quero.
Afastai-vos de mim e acautelai-vos de Zaratustra! Mais ainda; envergonhai-vos dele! Talvez vos haja enganado.
O homem que busca o conhecimento não só deve amar os seus inimigos, mas deve também poder odiar os seus amigos. Recompensa mal um mestre quem se contenta a ser discípulo. E porque não ousais destroçar a minha grinalda?
Venerais-me. Pois bem, que aconteceria se um dia a vossa veneração sucumbisse? Tende cuidado. Não vos esmague uma coluna do templo!
Dizeis que acreditais em Zaratustra? Mas que importa Zaratustra? Sois meus crentes? Mas que importam todos os crentes?
Porque não vos tínheis procurado a vós próprios, me encontraste. Assim fazem todos os crentes: por isso qualquer fé vale tão pouco."

Friedrich NIETZSCHE (2004). Ecce Homo. Lisboa: Guimarães Editores. P. 22


Cartoons

"Condenação global ao polémico filme de Wilders"

11:16

" [...] o deputado holandês escreve também que a Europa venceu o nazismo, venceu o comunismo, devendo agora parar o islamismo.


Para o Irão, a difusão do filme foi uma "acção repugnante" que "mostra a procura de uma vingança da parte dos cidadãos ocidentais contra o islão e os muçulmanos". Por seu lado, o Paquistão chamou o embaixador holandês para exigir que Wilders seja julgado por difamação, enquanto na Jordânia os media apelaram ao boicote de produtos holandeses.

O autor do polémico vídeo rejeita qualquer responsabilidade em caso de represálias contra os interesses holandeses. "Espero que não aconteça", disse à AFP, elogiando a reacção dos muçulmanos na Holanda."

Susana Salvador, DN (29/03/08) (sublinhado meu)

Fonte: Diário de Notícias


Ah, sim? Como é mesmo o provérbio? Quem vai à guerra...


Estes cartoons foram uma resposta à caricatura de Maomé publicada por um jornal holandês. Mutantis mutandis... Mais cartoons sobre o assunto podem ser vistos no site http://www.donquichotte.at.



Consumo

Os biocombustíveis e a fome mundial

10:44

Cartoon: Fírgoa

"El camino hacia la producción de los llamados biocombustibles transita por una ruta que ya está teniendo nefastos efectos en los precios de muchos alimentos, pues si los granos se destinan a fabricar alcoholes metílico y etílico para mover los motores de combustión interna, los precios de estos productos agrícolas van a incrementarse, sacando del juego a los compradores que los destinan a la alimentación animal para producir carnes de ave, cerdo o vacunos y leche, o para su empleo directo en la alimentación humana.

Hay que cuestionar muy seriamente la ética de la producción de biocombustibles por los países altamente desarrollados, sobre todo teniendo en cuenta que son esas economías nacionales las principales derrochadoras de los hidrocarburos, que pretenden sustituir para continuar el desenfrenado ritmo del despilfarro actual."

Arnaldo Coro ANTICH, "La ética de los biocombustibles" a 16/06/2006

Fonte: Radio Habana Cuba Via: Fírgoa Via: debuxos (27/03/08)

De notar que este artigo tem quase dois anos. Em 2008 vemos, inevitavelmente, aquilo para que Arnaldo Antich tinha já chamado a atenção em 2006.

Ligações úteis sobre o tema: Fírgoa, World Food Program, Financial Times
, Free Rice, Poverty.com, Avaaz.org, Sunday herald, The Australian, AFP, The New York Times, Times online, Economist.com, Le Monde Diplomatique

Comunicação Social

Editores de imprensa portugueses e espanhóis preparam-se para processar Google

11:42


"Os editores portugueses de imprensa e os seus homólogos espanhóis estão a estudar a criação de uma frente comum para interpor uma acção judicial contra o Google. O objectivo é preparar uma defesa conjunta dos direitos de autor detidos pelos editores de imprensa de ambos os países e combater a agregação de peças jornalísticas naquele motor de busca sem o pagamento de contrapartidas financeiras aos produtores de conteúdos."


Adriano Nobre (24/03/2008)


Fonte: Jornal de Negócios online

Ásia

Dos direitos humanos

13:07

Lia há dias um artigo de Danielle Bleitrach no sítio Rebelion sobre a questão do Tibete. Dizia então:
"Aunque es posible que Occidente desarrolle campañas destinadas a sensibilizar a la opinión pública sobre la cultura propia del Tíbet, su espiritualidad burlada y la falta de respeto a los derechos humanos [..], en el plano internacional es difícil que los países occidentales que, tras Estados Unidos, favorecen estas campañas, no reconozcan el Tíbet como territorio chino. En ningún momento aparece el reconocimiento de un territorio independiente tibetano en el plano internacional incluso si, como vimos, Gran Bretaña propuso en el momento de la instauración de la República China una determinada autonomía y el reconocimiento de un poder «espiritual». Legalmente es difícil, si no imposible, reconocer esta independencia, por lo que, esencialmente, es sobre la represión y los derechos humanos donde actúa la intervención occidental. 
[...] Por lo tanto tenemos una estrategia en su punto: promover las actuaciones de las ONG, los grupos tradicionalmente financiados por Occidente que se congregan contra un país afirmando que los derechos humanos, la «espiritualidad y la cultura autóctona están amenazados y que existen situaciones intolerables. Los países occidentales al principio no dicen nada porque saben que la legalidad internacional no está de su parte, pero apoyan la campaña pronunciándose sobre los derechos humanos y la represión. Y entonces China les reprocha la situación de Oriente Próximo y sus propias represiones. Parece difícil imaginar actualmente una intervención militar contra China, pero se trata de mantener los lugares de rebelión potenciales y las campañas que creen una opinión." (Danielle Bleitrach, 2008)
É-me particularmente impossível ler artigos como este e não ver aqui uma separação simplista, intencional ou não, entre Ocidente e Oriente. A exposição de Danielle Bleitrach, ao focar a sua atenção sobre aspectos militares, estratégicos, ideológicos sobre a questão do Tibete desvia - assim creio - a atenção do que me parece aqui fundamental: a questão dos direitos humanos. Podemos continuar a perguntar-nos infinitamente sobre a legitimidade ou não da independência do Tibete, podemos invocar todas as razões históricas para a adopção de medidas políticas, por parte da comunidade internacional ocidental, que não legitimem posições de separatismo e podemos invocar até - e com toda a legitimidade - que tanto a Europa como os E. U. A. têm assuntos internos a resolver antes de se intrometerem em querelas externas.
Mas a questão fundamental que persiste, que continua a persistir, no meio deste debate e de todos os outros debates como este continua a ser a questão dos direitos humanos. E aqui também há sempre quem queira rotulá-los de ocidentais ou americanos. E esta rotulagem serve para ambos os lados: para os ocidentais que se arvoreiam de legítimos criadores dos Direitos Humanos - afinal, não teve a Declaração Universal de 1948 como referência a Declaração de 1789? - e se vêm como os seus omnipotentes guerreiros guardiães; por outro lado os orientais, que vêm os direitos humanos como uma estratégia manipulativa da ideologia ocidental cujo único intuito é dividir para imperar ou ajudar para imperar.
Todo o discurso que sirva para manter esta divisão parece-me pestilento e cria, inevitavelmente, hostes segregacionistas que em nada contribuem para a resolução de conflitos. De resto, este discurso do apartheid ideológico aparece hoje nos meios de comunicação social como profícuo e desejável.
E a propósito de direitos humanos devo mencionar aqui o artigo de François Julien para o jornal Le Monde Diplomatique- edição portuguesa de Fevereiro de 2008 intitulado "Os direitos humanos são universais?". Neste artigo François Julien defende a contingência da noção de direitos humanos mas insiste na defesa da dignidade do homem. Diz o artigo:
"toda a justificação ideológica de uma universalidadedos direitos humanos não tem saída. [...]não é apenas porque o Ocidente os promoveu onde chegava ao cume do seu poder e podia pretender, através do seu imperialismo, impô-los ao resto do mundo, que hoje os debatemos entre as nações, mas também porque este estatuto de abstracção os torna isoláveis, portanto intelectualmente manejáveis, facilmente identificáveis e transferíveis, e deles fazem um objecto - ferramenta - privilegiado para o diálogo. [...]
Todos os que, pelo mundo fora, invocam os direitos humanos nem por isso aderem à ideologia ocidental (e será que a conhecem?); mas encontram nestes «direitos humanos» o último argumento, ou melhor, instrumento, passado infatigávelmente de mão em mão e disponível para qualquer causa de futuro, não tanto para desenhar uma nova figura de oposição, de que se pode sempre desconfiar que faz ainda parelha com o seu parceiro-adversário, mas para - mais radicalmente - recusar. [...]
"os direitos humanos são um universalizante forte e eficaz. Porque a questão, com os direitos humanos, já não é a de saber se eles são universalizáveis, isto é, se eles podem ser entendidos como enunciado de verdade em todas as culturas do mundo - onde, neste caso, a resposta é não - mas a de assegurar que produzem um efeito de universal servindo de incondicional (tal é a sua função de arma ou de ferramenta negativa) em nome do qual um combate a priori é justo, uma resitência legítima." (p. 23)
Incontornável.
Que seja o homem, então, a questão fulcral dos conflitos mundiais. E deixemo-nos de justificar a nossa alienação e inacção, do alto da nossa arrogância de povos que se julgam os precursores do progresso histórico, com querelas ideológicas. Não se trata de saber se o Ocidente tem legitimidade ou não para irromper numa acção militar contra a China: o Afeganistão e o Iraque não serviram já de exemplo?
Que na base das discussões esteja então o grito que lançamos ou a mão que estendemos, intuitivamente, para impedir a criança de cair ao poço, como sublinhou Julien:
"este grito que lançamos (este braço que estendemos) perante esta criança quase a cair ao poço é evidentemente, sem que seja necessária qualquer interpretação ou mediação cultural, um grito - «inato» - do sentido comum do humano." (p. 23)
A legitimidade das campanhas pela dignidade do homem acaba onde começa a intervenção militar.

(sublinhados meus)
___________

Referências:

Danielle BLEITRACH. "La extraña cobertura informativa occidental sobre el Tíbet y China" (19/03/2008). Texto traduzido para espanhol por Caty R. em Rebelión: http://www.rebelion.org/noticia.php?id=64813
Texto original em francês em http://socio13.wordpress.com/2008/03/15/quelques-rares-informations-sur-la-chine-et-le-tibet/

François JULIEN. "Os direitos humanos são universais?" in Le Monde Diplomatique - edição portuguesa, Fevereiro de 2008, pp. 22-23

Novas Tecnologias

Fontself

20:42

"Franz Hoffman, Pierre Terrier e Marc Escher estão a deitar abaixo as fronteiras na digitalização da escrita humana. O seu projecto, Fontself, é uma extraordinária aventura que está já bastante perto de se tornar pública e activa.
Iniciado em Abril de 2007, o Fontself pode ser encarado como um regresso à caligrafia, uma humanização do utilizador de computadores e certamente uma nova era na forma como comunicamos através de um teclado.
Imagine que poderia pegar na sua letra e através de artes mágicas ou de um qualquer software pudesse fazer com que o seu teclado adquirisse a capacidade de escrever como a sua mão. É isso que o Fontself fará. O processo, de forma muito sucinta, será baseado no preenchimento de uma grelha de caracteres por parte do utilizador, a subsequente digitalização e transformação numa vulgar fonte (letra) para computador. O software não só gerará uma fonte baseada na sua escrita como criará alguns milhares de variações da mesma. [...] "

Fonte: obvious

Ligações: http://www.fontself.com/

Cultura

Da revolta

20:00

Pintura: "Prometeu levando fogo à humanidade" de Heinrich Füger, 1817 em Wikipedia


"Compreende-se, então, que a revolta não possa prescindir de um estranho amor. Os que não encontram descanso nem em Deus nem na história, condenam-se a viver para quem, como eles, não pode viver: para os humilhados. O movimento mais puro da revolta coroa-se então com o grito dilacerante de Karamazov: se eles não são todos salvos, para que serve a salvação de um só? Assim nas prisões de Espanha, condenados católicos recusam hoje a comunhão porque os padres do regime a tornaram obrigatória em certas cadeias. Também esses, únicas testemunhas da inocência crucificada, recusam a salvação se esta tiver de ser obtida a troco da injustiça e da opressão. Esta loucura generosa é a da revolta, que oferece imediatamente a sua força de amor e com a mesma brevidade recusa a injustiça. A sua honra consiste em nada calcular e em tudo distribuir à vida presente e aos seus irmãos vivos. É assim que ela se vai prodigalizando em relação aos homens futuros. A verdadeira generosidade em relação ao futuro é dar tudo ao presente.
Assim prova a revolta ser o próprio movimento da vida e afirma que não pode ser negada sem que se renuncie a viver. Cada vez que ela solta no ar a pureza do seu grito, provoca uma atitude corajosa em mais um ser. Ela é portanto amor e fecundidade, ou então nada é. A revolução sem honra, a revolução do cálculo que, preferindo um homem abstracto ao homem de carne, nega o ser tantas vezes quantas considerar necessário, coloca precisamente o ressentimento em lugar do amor. Assim que a revolta, esquecida das suas generosas origens, se deixa contaminar pelo ressentimento, nega a vida; corre para a destruição e faz erguer-se a corte desprezível desses rebeldezinhos, semente de escravos, que actualmente acabam por se oferecer, em todos os mercados da Europa, a qualquer servidão. Já não se trata nem de revolta nem de revolução, mas de rancor e tirania. Nessa altura, quando a revolução se converte, em nome do poderio da história, nessa mecânica assassina e desmesurada, uma nova revolta se torna sagrada, em nome do equilíbrio e da vida. [...] Para além do niilismo, todos nós, no meio das ruínas, preparamos um renascimento. Mas poucos sabem disso. [...]
No meio-dia do pensamento, o revoltado recusa assim a divindade, a fim de poder partilhar as suas lutas e o destino comuns. Escolheremos Ítaca, a terra fiel, o pensamento audacioso e frugal, a acção lúcida, a generosidade do homem advertido. No seio da luz, o mundo continua a ser o nosso primeiro e último amor. Os nossos irmãos respiram debaixo do mesmo céu que nós; a justiça encontra-se viva. Nasce então a alegria singular que ajuda a viver e a morrer e a qual, doravante, nos recusamos a remeter para mais tarde. [...] Todos podem, com efeito, reviver junto dos sacrificados de 1905, mas com a condição de compreenderem que se corrigem uns aos outros e que um limite, à luz do Sol, os obriga a parar. Cada um diz ao outro que não é um deus; assim se acaba com o romantismo. [...]
[...] na hora em que finalmente nasce um homem, há que deixar a época e as suas fúrias adolescentes. "


Albert CAMUS (2003). O homem revoltado. Lisboa: Livros do Brasil, pp. 362-364. (sublinhado meu)

12:58

"O homem é a única criatura que se recusa a ser o que é. Consiste a questão em saber se essa recusa o não pode conduzir a outra atitude que não seja a destruição dos outros e dele próprio, se toda a revolta deve terminar na justificação do morticídio universal ou se, pelo contrário, sem pretensões a uma inocência impossível, ela poderá descobrir o princípio de uma culpabilidade racional."

Albert CAMUS (2003). O homem revoltado. Lisboa: Livros do Brasil

América latina

"solo le pido a dios", León Gieco

21:40

Solo le pido a Dios

Letra e música: León Gieco

Solo le pido a Dios
que el dolor no me sea indiferente,
que la reseca muerte no me encuentre
vacío y solo sin haber hecho lo suficiente.
Solo le pido a Dios
que lo injusto no me sea indiferente,
que no me abofeteen la otra mejilla
después que una garra me arañó esta suerte.


Solo le pido a Dios
que la guerra no me sea indiferente,
es un monstruo grande y pisa fuerte
toda la pobre inocencia de la gente.
Solo le pido a Dios
que el engaño no me sea indiferente,
si un traidor puede mas que unos cuantos,
que esos cuantos no lo olviden fácilmente.

Solo le pido a Dios
que el futuro no me sea indiferente,
desahuciado está el que tiene que marchar
a vivir una cultura diferente.

Solo le pido a Dios
que la guerra no me sea indiferente,
es un monstruo grande y pisa fuerte
toda la pobre inocencia de la gente.




Ásia

Lhasa ,Tibete

12:02




"No dia em que mais protestos de tibetanos foram reprimidos, o Dalai Lama ameaçou demitir-se. O líder espiritual mantém a máxima da Não Violência: "Se as coisas ficarem fora de controlo, a minha última alternativa é a demissão".
E recusa todas as acusações do regime chinês, "se o primeiro-ministro vier aqui e investigar tudo, procurar em todo o lado, vai perceber que não há nada contra mim"
O Dalai Lama garante que não está a incitar ninguém à violência, que quer a autonomia do Tibete de forma pacífica, e está contra o boicote dos Jogos Olímpicos
O governo de Pequim acusa o Dalai Lama de incitar os tibetanos a revoltarem-se e a provocarem confrontos de forma a manchar a imagem da China
Mas alguma coisa se passa entre os Tibetanos... do exílio na India, Dalai Lama pede paz. Na China, no Tibete, noutras partes do mundo, e também em Katmandu no Nepal, as imagens repetem-se..."

Fonte: Euronews

Ciência

Ameaças para a sociedade

11:37

"Um perito da Scotland Yard defendeu hoje a inclusão numa de Base de Danos de ADN de informações dos alunos do primeiro ciclo cujo comportamento indique que poderão vir a ser delinquentes no futuro.
Segundo Gary Pugh, director de ciência forense da Polícia Metropolitana, é necessário iniciar um debater sobre até onde deverão poder chegar as autoridades para identificar precocemente potenciais delinquentes.
"Se temos forma de identificar os jovens antes que cometam algum delito, são enormes os benefícios a longo prazo para a sociedade", disse em declarações ao “The Observer”.
Na opinião de Gary Pugh "pode-se inclusive afirmar que quanto mais jovens forem identificados melhor".
"Temos de averiguar quem representará uma ameaça para a sociedade", acrescentou."
(16.03.2008 - 11h59 Lusa)


Fonte: Público Online Via: http://kosmografias.wordpress.com/

Ciência

Lacan: da psicanálise

14:09

“A psicanálise desempenhou um papel na direcção da subjectividade moderna e ela não poderia sustentá-lo sem ordená-lo no movimento que na ciência o elucida.Este é o problema dos fundamentos que devem assegurar à nossa disciplina seu lugar nas ciências: problemas de formalização, na verdade bastante mal abordado.Pois parece que, retomados por um viés do espírito médico em oposição ao qual a psicanálise teve que se constituir ainda que fosse a seu exemplo, com um atraso de meio século sobre o movimento das ciências a que tentamos nos unir. Objectivação abstracta de nossa experiência sobre princípios fictícios, e mesmo simulados do método experimental: encontramos aí o efeito de preconceitos dos quais seria preciso limpar primeiramente nosso campo se queremos cultivá-lo segundo sua autêntica estrutura.Praticantes da função simbólica, é espantoso que nos desviemos de aprofundá-la, a ponto de desconhecer que é ela que nos situa no centro do movimento que instaura uma nova ordem das ciências, com um requestionamento da antropologia.Essa nova ordem não significa nada mais do que um retorno a uma noção da ciência verdadeira que tem já seus títulos inscritos numa tradição que parte do Teeteto. Esta noção degradou-se, sabemo-lo, na reviravolta positivista que, colocando as ciências do homem no coroamento do edifício das ciências experimentais, a elas se subordina em realidade. Essa noção provém de uma visão errónea da história da ciência, fundada sobre o prestígio de um desenvolvimento especializado da experiência.Mas hoje as ciências conjecturais reencontrando a noção de ciência de sempre, nos obrigam a revisar a classificação das ciências que conservamos do século XIX […]. A linguística pode aqui nos servir de guia, visto que é esse o papel que tem na vanguarda da antropologia contemporânea, e não saberíamos, sobre isso, permanecer indiferentes.A forma de matematização onde se inscreve a descoberta do fonema como função dos pares de oposição formados pelo menores elementos discriminativos apreensíveis da semântica, nos leva aos fundamentos mesmos onde a última doutrina de Freud designa, numa conotação vocálica da presença e da ausência, as fontes subjectivas da função simbólica.E a redução de toda língua ao grupo de um número ínfimo dessas oposições fonéticas esboçando uma tão rigorosa formalização de seus morfemas mais elevados, coloca ao nosso alcance uma abordagem estrita de nosso campo.[…] é impossível não centrar sobre uma teoria geral do símbolo uma nova classificação de ciências onde as ciências do homem retomam seu lugar central enquanto ciências da subjectividade.[…] a exactidão se distingue da verdade, e a conjectura não exclui o rigor. E se a ciência experimental toma da matemática sua exactidão, sua relação com a natureza não deixa de ser problemática.”
_________________

Jacques Lacan, “Função e campo da fala e da linguagem em Psicanálise”, Escritos, S. Paulo, Editora Perspectiva, 1996 pp. 150-151

Conto

Branca de Neve

10:12

Branca chegara a moça com uma história de vida sem ignomínia. Nunca se engalfinhara em nenhuma briga de rua. Nunca furtara maçã alguma de um alheio pomar, nunca fizera troça de nenhum amiguinho menos dotado de compreensão. Nunca levara reguadas na escola. Nunca se queixara da fome, da sede, se estava frio ou calor. De resto, preferia sentir-se-lhe secar a boca a furtar um gole de água numa fonte encostada a um campo aberto, mas com dono.

Nas festas e romarias ficava quieta a um canto. Se acontecia convidarem-na para se juntar às danças, negava-se sempre. Ruborizavam-lhe as faces ao mais pequeno diálogo, fosse com estranhos ou gente conhecida.

Não era alegre nem triste. Vivia os dias como quem acorda para uma rotina preestabelecida desde há muitos séculos. Nunca se lhe vira a cara de espanto, própria das crianças. Não se comovia com nada, nunca se revoltara com nada e ninguém nunca lhe vira nos olhos cheios a mais pequena lágrima.

Ninguém saberia dizer se Branca era bonita ou feia. Tinha uma cara redonda sardenta, uns grandes e profundos olhos negros onde cabia o mundo. Os cabelos escorridos eram finos, de um caramelo ténue que doirava ao sol. O seu corpo apeteceria, se não estivesse encoberto nas mais pardacentas vestimentas. Os seus seios opulentos andavam sempre escondidos, como que uma mácula, no amontoado de panos que lhe cobria o tronco, dando-lhe a impressão de uma figura demasiado empolada. A sua pele era branca, talvez demasiado branca para uma menina saudável, como era. Sim, adoecera, quando os seus irmãos adoeceram também, das doenças normais das crianças, que não deixam marcas. Nem o sol, que lhe abrasava a pele quando trabalhava no campo a ajudar a mãe a semear batatas ou a regar os feijões de balde à cabeça, lhe atrigueirava a pele, apenas lhe acobreava as sardas intermináveis da face.

Branca vivia, desde que nascera, no anonimato. Quando tinha quatro anos a mãe esquecera-se dela um dia, na feira da vila; viera-lha trazer o vizinho no carro de bois junto com o feno para o gado depois de a reconhecer no meio dos bois para venda, mais impregnada de cheiro de estrume que corte de porcinos.

Esqueciam-se de a convidar para as festas da paróquia, não por caçoada ou improbidade, mas simplesmente porque Branca existindo, desmaterializava-se, era sombra de tudo e de todos: da irmã alegre, altiva e pomposa, do irmão esperto, atinado e brioso, da própria mãe, prestativa e bondosa e até dos próprios animais da quinta, profícuos e amplos.

Na verdade, ninguém saberia dizer qual o adjectivo que poderia caracterizar Branca. Ninguém a conhecia e emitir um juízo sobre ela era botar ao acaso. Não era misteriosa, não era isso - ignorava o que eram jogos de galanteio ou sedução, embora tivesse dentro da sua casa uma mestra – Branca simplesmente passava como brisa fresca que se sente mas não se vê.

Com isto, Branca aprendera a estar e a viver só consigo. Os convites, quando se vinham desculpar do esquecimento e convidá-la pessoalmente para as festas, declinava-os.

Até que um dia deixaram de a convidar.

A irmã não se importava, Branca era um enfado em festas: era uma criança, não sabia conversar, não sabia dançar e o seu jeito de bicho-do-mato repelia os rapazes. O irmão insistia sempre, obrigava-a a arranjar o cabelo, a pôr bâton na boca pequenina e guardava as ofertas dos padrinhos ricos no dia do seu aniversário ou festa grande para lhe comprar os mais bonitos vestidos. Mas, se nos primeiros tempos conseguia convencê-la a acompanhá-lo, deixou de o conseguir e, não que desistisse, acabou por convencer-se de que o tempo iria fazê-la sair da casca.

Não fez, ou se fez, foi pela estrada travessa.

O verdadeiro prazer de Branca era estar com os animais: ordenhar as vacas, ver nascer os patos, ver mamar os vitelos. Com eles conversava sobre todas as coisas da vida, desde a origem do mundo ao melhor modo de ajeitar a palha para se deitarem.

Estudada de fora, Branca era uma menina comum a todas as outras: tímida, circunspecta, com uma veia para freira, esposa de Cristo. Mas ninguém suspeitava que, durante o tempo que assistia à missa, acompanhada da mãe, Branca pensava apenas na sua lavoura, no seu campo de ervas, no momento de se estender ao sol, de se refrescar na água do tanque fresco, de dormir a sesta debaixo das videiras.

Quando lhe começavam a brotar do peito os nódulos primaveris, a rapariga tratou de os esconder, das suas regras ninguém dava conta, nem a irmã, com quem dormia no mesmo quarto.

Na altura em que se amontoaram na cabeça de Branca tantas perguntas que já não conseguia mais pensar, viu-se só com a mãe. A irmã casara e fora viver para a terra do marido. O irmão estudava na universidade, a mais de 400 km. Desde que o pai morrera, viviam à míngua. Inácio não se podia dar ao luxo de pagar o bilhete do comboio só para ver a irmã um dia e voltar no dia seguinte.

A mãe, quando se viu sozinha em casa com a filha mais nova, apercebeu-se de tudo isto, mas não se deu ao trabalho de desfazer as dúvidas da filha sobre as questões existenciais de qualquer comum adolescente, acreditava que a natureza trata de tudo sozinha.

E num dia qualquer, como qualquer outro…

- Branca, minha filha, que fizeram contigo?

Branca não compreendeu o espanto ou desespero da mãe. Não estava triste. Nem alegre nem triste. Sim, passavam por ela homens de toda a espécie, idades, mas isso era mau? A Elisa sempre dizia que ter muitos namorados era sinal que se era bonita. Afinal, nunca ninguém antes lhe tinha dito isso, que era bonita. E tinham-se também esquecido de lhe dizer que gostavam dela.

Patrícia C. França (2002)


Ciência

"la ciencia no piensa"

06:27

Entrevista de Richard Wisser a Heidegger feita para a televisão alemã ZDF a 24 de Setembro de 1969 (traduzida por Carlos G. Einisman) :

"Wisser: Hay dos cosas que usted siempre cuestiona y cuyo carácter problemático señala: la pretensión de dominación que tiene la ciencia y una manera de concebir la técnica, que no ve en ella más que un medio útil de llegar más rápidamente a la meta respectivamente anhelada. Precisamente en nuestra época, cuando la mayoría de los hombres lo esperan todo de la ciencia y cuando se les demuestra, con programas televisivos, incluso extra-terrestres, que en esta época el hombre alcanza por medio de la técnica aquello que se proponga, sus ideas sobre la ciencia y sobre la esencia de la técnica le provocan quebraderos de cabeza a mucha gente. ¿Qué entiende usted en primer lugar cuando afirma: “la ciencia no piensa”?
Heidegger: Empecemos primero con los quebraderos de cabeza: ¡Pienso que son realmente saludables! Todavía hay demasiado pocos quebraderos de cabeza hoy en día en el mundo y una gran ausencia de ideas, que son precisamente función del olvido del Ser. Y esta frase: la ciencia no piensa, que hizo tanto ruido cuando la pronuncié en el marco de una conferencia en Friburgo, significa: La ciencia no se mueve en la dimensión de la filosofía. Pero sin saberlo, ella se liga con esta dimensión. Por ejemplo: la física se mueve en el espacio y el tiempo y el movimiento. La ciencia en tanto ciencia no puede decidir en cuanto a qué es el movimiento, el espacio, el tiempo. La ciencia por lo tanto no piensa, no puede siquiera pensar en este sentido con sus métodos. No puedo decir por ejemplo, con los métodos de la física aquello que la física es. Lo que es la física solamente puedo pensarlo a la manera de una interrogación filosófica. La frase: la ciencia no piensa, no es un reproche, sino que es una simple verificación de la estructura interna de la ciencia: es propio de su esencia el que, por una parte, ella dependa de lo que la filosofía piensa, pero que, por otra parte, ella misma lo olvida y descuida lo que exige ser pensado ahí."
A entrevista pode ser lida na íntegra no sítio http://www.filoinfo.bem-vindo.net/.

África

Dia Internacional da Mulher

06:47


O facto de existir um dia internacional consagrado à Mulher é prova de que falar sobre assuntos de género ainda faz todo o sentido.

A jovem da foto é
Francine Nijimbere e é apenas um dos rostos de muitos outros casos de violência extrema contra mulheres no Burundi.
Francine Nijimbere viu os seus braços cortados pelo seu companheiro enquanto dormia. Segundo testemunhou à IRIN, a intenção do companheiro era matá-la. E qual a razão para tal acto? Francine Nijimbere não conseguiu dar à luz um rapaz. Depois de duas meninas o companheiro considerou que Francine não era digna de ser mãe. Absurdo dos absurdos, depois de detido, o seu companheiro foi amnistiado pelo presidente.
Histórias como esta abundam no país, silenciosamente. Diariamente mulheres, meninas, são violadas e obrigadas a coabitar com os seus agressores em situação de verdadeira escravatura. Este é, aliás, um dos procedimentos mais comum para obrigar as meninas ou jovens mulheres a casar ou coabitar à força.
Socialmente o crime de violação condena unicamente a vítima, o que faz com que o agressor se sinta protegido pela certeza da impunidade e pelo silêncio e impotência daquela.

Para mais informações consultar http://www.irinnews.org/

Comunicação Social

Acordo Ortográfico é ratificado hoje pelo governo português

22:07


"O Governo aprovou hoje a proposta do segundo protocolo modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1991, comprometendo-se a adoptar as medidas adequadas para "garantir o necessário processo de transição, no prazo de seis anos"."

Fonte: Público.pt




Imagem: Mailton Monteiro em http://www.unifai.edu.br/

Ligações úteis:

http://www.observatoriolp.com/FrontEnd/gallery/302.pdfhttp://www.necco.ca/faq_acordo_ortografico.htm#base_I

Cinema

"O menino de Cabul"

10:37


Adaptado do livro Kite Runner de Khaled Hosseini o filme "O menino de Cabul", realizado por Marc Forster, através do seu protagonista, Amir, oferece-nos uma imagem do interior do Afeganistão, pelos olhos de um afegão.
Mas mais do que retratar o país em momentos distintos da sua história (anos 70 e actualidade), ele mostra a natureza do próprio Homem. Mostra a ternura e o amor incondicional mas também a crueldade e a tirania. Condensa local e universal num mesmo espaço, em momentos de verdadeiro lirismo.
É um hino à esperança, ao amor e à reversibilidade das escolhas.


Sítio oficial: http://www.kiterunnermovie.com/

Livros

Palestina ou Israel!?

08:52

Excerto de um livro infantil sobre o Natal:

"Aconteceu há muito, muito tempo atrás - na verdade, há mais de dois mil anos, num lugar chamado Palestina ou Israel."

Julianna BUHRING e Katiuscia GIUSTI (2004). Um Natal há muito tempo atrás. Suiça: Produções Aurora

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